Novos sentimentos

15 2 0
                                    

- N-nós não morremos?. Como você sabe disso, p-por acaso já... - Eu perguntei com minhas sobrancelhas arqueadas, mostrando meu medo perante a resposta de Ayra.

- Sim... - Ela respondeu cabisbaixa, parecendo estar envergonhada. - Há muito tempo atrás, me vi em um beco sem saída, tinha acabado de perder meus pais e de descobrir que estava fadada a uma maldição divina que nem sabia sequer como resolver. Passei fome por estar sozinha... Sem ninguém, dormindo nas ruas vi o pior dos seres humanos, vi pessoas que tinham tudo mas que não dividiam nada, vi pessoas não demonstrarem um único afeto para com as pessoas que ali estavam desamparadas. Em uma noite, me vi sem saída... Sem escapatória... Achei uma faca ali parada perto de mim e dos outros homens que ali dormiam, fiz cortes profundos em meus pulsos... Mas nada acontecia, o sangue jorrava, mas eu ainda estava ali, sofrendo, com fome, a dor não passava, continuei me perfurando, apenas sentindo o sangue sair do meu corpo, mas apenas isso, não sentia dor, não sentia estar morrendo, se é que sei a sensação.- Ela disse entre risos. - Foi então que no meio da escuridão daquele viaduto sujo, uma luz apareceu no canto, falando com uma voz calma, serena, dizendo que era para eu aceitar este plano "divino" que era parte de algo muito maior, foi então que comecei a testar meus limites e poderes... E então, depois... Te conheci... - Ela terminou, com um sorriso no rosto ao falar sobre mim.

- N-não sabia que você havia passado por tudo isso Ayra... M-me desculpe... - Eu respondi cabisbaixo.

- Não tem que se desculpar Anthony, meu passado não é motivo para minhas ações do presente, eu que te devo desculpas, por nocautear seus amigos, por quem sabe ter te tirado aquilo que ainda te deixava são... - Ela retrucou, deixando lágrimas escaparem, mostrando realmente estar arrependida. Talvez eles estejam bem, eu estou me preocupando atoa, eles são fortes, algo tão besta como aquilo não os mataria...

- Tenho certeza que eles estão bem Ayra, nós vamos encontrar eles. - Eu respondi levantando seu rosto, limpando suas lágrimas com minha mão esquerda, mostrando um sorriso leve para ela, na esperança de que eu conseguisse acalmá-la. - Você realmente me perdoa Anthony?... - Ela perguntou.

- Claro que sim Ayra, ainda temos muito pela frente, nós ainda iremos reencontrar os dois... - Eu respondi sorrindo, sendo interrompido por um beijo inesperado de Ayra, que me jogou na cama, fazendo com ela caísse deitada em cima de mim.
- Ayra... - Eu tentava falar em meio ao calor dos beijos dela, da pele dela encostando na minha.
- Você não quer?. - Ela se apoiou na cama ficando em cima de mim, me olhando fundo nos olhos, com a luz da janela entrando e fazendo com que seu cabelo vermelho brilhasse mais do que já brilhava em contraste da sua pele branca.
- Você é uma ótima pessoa Ayra. Uma linda mulher, mas não sei se eu sou o cara certo para você... - Eu respondi envergonhado.

- Por quê você acha isso?.

- Nós dois somos muito diferentes... - Eu continuei.

- Você não vê Anthony? Nós somos ligados um ao outro... Eu trago a guerra, guerra que trás a morte para você... Nós somos a continuação, o final. - Ela dizia com um sorriso no rosto, esperando alguma reação positiva minha, mas sem sucesso, apenas a olhava quieto, tentando entender o que ela dizia, até que ela se cansou e se deitou do meu lado, olhando para o teto do quarto que não tinha nada demais além de um suporte para lâmpada quebrado.
- Você ainda não entendeu né?. Ela perguntou enquanto brincava com as próprias mãos.

- O que Ayra?.

- Nossa vida tá acabada, o mundo tá acabado... Nossa chegada é apenas um sinal de que o fim tá cada vez mais próximo. - Ela respondeu.

- Não podemos mudar isso?.

- Ir contra o caminho de Deus Anthony?.

- Não é Deus que está liderando isso... Ele não está no comando, Seraphim está... - Eu terminei, vendo a surpresa de Ayra para com esta notícia, talvez ela não estivesse a par de tudo realmente....

- Por mim esse mundo pode acabar, já sofri demais por aqui. - Ela respondeu com um tom de voz um pouco mais grave e triste, se virando de lado.

- Sei que você sofreu muito aqui Ayra, mas foi porque você estava sozinha, agora você não está mais sozinha, você tem a mim... - Eu terminei colando a mão em sua cintura, esperando alguma reação mas sem aparente sucesso.

- Até quando Anthony?

- Nossa ligação vai muito além dá carne Ayra. Por mais que eu ame meus amigos, eu sei que dentre todas as pessoas deste mundo você é a única que pode entender o que eu passei, por isso é entre outras coisas nossas vidas estão interligadas, de uma maneira muito diferente... Por mais que eu tenha te conhecido agora, sinto que nossa conexão vem de anos!. - Eu terminei, ouvindo um choro meio quieto vindo dela, querendo esconder os sentimentos, querendo esconder que, de todos estes anos que passaram, eu era um amigo...

- Tá bom então. - Ela se levantou, ficando sentada do meu lado, enxugando as lágrimas do rosto. - Já que nossa ligação é tão grande assim, temos que ir atrás de respostas. - Ela terminou.

- Que respostas?. - Eu retruquei.

- Quando minha maldição se ativou, Deus ainda estava no comando, algo aconteceu então nesse tempo pra cá, que ele sumiu... Temos que descobrir o que!. - Ela terminou se levantando e pegando uma camiseta na cabeceira que tinha um pouco mais a frente da cama, um toppping branco, que mal cobria sua barriga.

- E você vai assim?.- Eu perguntei, me levantando e ficando sentado na cama, vendo que estava apenas de cueca.

- Assim como?. - Ela se virou, olhando para si mesmo, vendo que estava apenas de calcinha, rapidamente se cobrindo assustada. - Bom, acho que vou ter que colocar uma calça né... - Ela sorriu.

- Você conhece os outros dois?. - Eu cortei seu riso na hora com aquela pergunta, parecia estar tocando um ponto em que ela não gostava, vi sua feição mudar completamente.

- O cavaleiro da peste... Tive a chance de ver ele uma única vez, quando o Vaticano veio atrás de mim, há um ano atrás, nossa batalha foi intensa e nenhum dos dois saiu vitorioso... - Ela dizia cabisbaixa.
- O cavaleiro restante não tive o desprazer de conhecer.

- Será que ele ainda não apareceu?. - Eu perguntei curioso, tentando mudar o assunto da batalha, pois percebi que era algo que mexia muito com ela.

- Não sei... Se sim, ele deve ser assustador. Cavaleiro da fome, uma coisa que vem depois dá guerra, algo triste... - Ela dizia cabisbaixa e acho que, no fundo, eu concordava, não sabia o que esperar dos outros dois cavaleiros. Poderiam eles nos ajudar ou simplesmente compactuar com o que estava acontecendo e nos eliminar... Ainda havia muita coisa pela frente...

===================≠===========

¶Grace¶

Ao olhar no espelho, por mais que meus olhos vejam essa garotinha, de cabelos longos, na altura da cintura, negros como a noite. De pele branca e limpa, com olhos castanhos, tudo que eu consigo ver é gorduras escapando desta roupa ridícula, que estou usando, uma regata preta, com um short preto e um sapato preto. Tudo simples. Tudo patético. Por mais que eu tentasse, não comesse, ficasse dias e dias sem comer uma única grama, continuava a me ver nesta forma horrenda, de uma mulher feia, que não merece nada além de desprezo e ódio daqueles que convivem com ela. Para simplesmente terminar como poderia uma garota dá minha idade morar sozinha, nem se quer sabia quem eram meus pais... Porém, morar em um orfanato seria apenas pior, a dor que me consumia todos os dias, fazia com que eu apenas revidasse essa dor em quem me cercava, sempre foi assim, até que eu desisti e larguei tudo, escola, amigos, falsas famílias... Desde o dia em que aquela mancha apareceu, três anos atrás, minha vida se tornou um inferno, ninguém mais nunca demonstrou amor por mim de novo... Mal sabia eu que eles deveriam me amar mesmo... Ou então....

O Mensageiro (Revisando/Finalizado)Onde histórias criam vida. Descubra agora