[Frerard] Volcano

The Starting Line - Frank

Ao longo do capítulo eu citei a música The Starting Line, do Keane. A músiquinha está aqui em cima, pode escutar enquanto lê, fica legal ;)

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Existiam várias coisas as quais eu detestava. Não que eu fosse um "hater" por completo, mas digamos que muitos sentimentos, fatos e datas me irritavam, a começar pela quarta-feira. Esse dia, em particular, não me agradava desde os tempos de escola, nos quais quarta era dia de educação física nos dois últimos tempos. Diferente de todos os meninos da minha sala - e provavelmente de todos os meninos da terra - eu não gostava e nem que quer via sentido naquilo. Me contaram, lá nos primórdios, que escola era para estudar e correr atrás de uma bola com vários animais famintos como se esta fosse um imenso bolo de chocolate não era bem aprender algo a não ser, talvez, alguma questão de sobrevivência.

 É, pensando bem aquelas aulas tinham um pouco a ensinar: corra ou morra. A vida era fundamentada nisso se for observar bem.

E para minha imensa alegria hoje era uma terça habitual. Eu, sozinho, sentado enfrente a televisão com algumas belas garrafas de Budwiser pousadas sobre a mesa de centro. Agora minha sala e quarto estavam apresentáveis. Menos 3 cômodos. Não que Jamia, Quinn e eu fossemos os maiores arrumadeiros do mundo, pois todas as tralhas - que eu não fazia ideia do porquê eu ainda tinha - se encontravam em montanhas confusas no cômodo destinado ao escritório que agora mais parecia um lixão com objetos que, acredito eu, sejam úteis. Mas até que meu apartamento já tomava forma diferente, decente, eu diria. Agora 3 das 4 garrafas já estavam vazias e eu me preparava psicologicamente para me levantar recheado de preguiça para buscar mais. Acidentalmente ou não, eu acabaria bêbado naquela noite, provavelmente sentado em algum canto - no qual eu adormeceria - pensando na diversidade da vida. 

No atual momento eu só pensava em listar os porquês do meu ódio pela quarta-feira e estes eram: 1- constrangimento infantil em Educação Física no Ensino Fundamental, 2 - aulas extras de matemática no ensino médio, e 3 - o fato que meu plantão começava ao meio dia. Muitas pessoas na terra comemorariam ao máximo se tivessem uma oportunidade como a minha, de ter um dia na semana de pseudo folga, mas eu, em particular, odiava aquilo. Significaria que eu passaria minha manhã - já que não conseguia mais acordar depois das oito - sem fazer nada, provavelmente empurrando ou chutando algumas tralhas pelo apartamento, tentando bancar o designer perfeito ao som do bom e velho rock 'n roll e isso duraria pelo menos quarenta minutos se eu tivesse sorte. Logo minha mente se desligaria e entraria numa inércia sem fim, eu sentaria no sofá cansado num estado entre o sono e o não conseguir dormir. Isso sim era um pesadelo.

Contando de quarta faltariam apenas dois dias para que me encontrasse novamente com Gerard para debater sobre o tema "eu" e essa ideia estava se fixando como indispensável em minha cabeça, e por mais que eu odiasse que os holofotes se voltassem em minha direção, compartilhar alguns fatores com aquele terapeuta bonitão me trazia calma. 

Por vezes, a tal inércia que me engolia no dia-a-dia- não necessariamente apenas as quartas, e isso me trazia uma angústia sem fim, sensações de fantasmas me rondando trazendo o passado de volta e imagens que eu insistia em esquecer presentes em pequenos atos, nesses momentos, eu normalmente me sentia inquieto e queria quebrar a coisa mais próxima, ou pôr alguma música violenta alta para tocar e sentir meu corpo entrar no ritmo. Mas ultimamente o que ando querendo fazer quando me frusto com o simples silêncio vento é compartilhar com Gerard. 

Ele parecia interessado - obviamente, é o trabalho dele, eu o pago para que ele se sinta interessado em mim - e eu sentia que gostaria de lhe contar coisas. Ele me disse de forma clara que não era meu amigo, mas acredito que ele não se importaria se eu agisse como tal. As orbes claras coloridas por um verde que eu nunca havia visto na vida me trazem liberdade e confiança.