Digamos que eu estava condedano a tal inércia característica das quartas de manhã quando minha digníssima mãe me surpreendeu com um convite completamente (in)aceitável para levá-la ao supermercado e ajudar com as compras. Ora essa, eu era "filho único e homem e deveria ser cavalheiro e ajudar a mamãe nas tarefas" e eu não podia deixar de concordar, afinal, andar horas por prateleiras e prateleiras me parecia mais cômodo que encarar o horizonte através de uma tela de TV.Minha mãe tinha o incrível poder de ser mais hiperativa que eu e dava incessantes voltas pelos setores. Eu já até decorado a ordem das marcas de molho de tomate na seção de mantimentos porque, pelo o que eu me lembre, já era a terceira ou quarta vez que eu me encontrava debruçado sob o carrinho de ferro no mesmo corredor.
-Mãe, não era melhor que a senhora fizesse uma lista?
-Meu querido, você sabe como funciona minha memória... Eu esqueceria algo primordial até na lista é melhor ter calma e paciência e achar todo o necessário - ela disse enquanto analisava a prateleira de maionese tentando alcançar a última. Eu não era pessoa mais alta do mundo, mas com certeza maior que ela e com algum esforço conseguiria pegar o produto. Dei a volta no carrinho para ajudá-la.
-E então por que você não planeja uma lista com uma semana de antecedência? - eu disse pegando o pote com uma ajudinha extra, na ponta do pé, e entreguei a ela.
-Frankie, calado, eu fico reclamando de você, meu filho?
Fiz uma careta engraçada e então respondi.
-Hã... talvez?
Nós rimos cúmplices e então ela finalmente olhou pro carrinho lotado de coisas achando que todo o necessário já estava ali. Depois de uma hora na fila infernal do caixa eu a dirigi até em casa onde descarregamos o carro e ela me convidou para almoçar e claro, fofocar um tanto sobre minha vida, pois agora que eu não morava com ela era raro que compartilhássemos de tanta intimidade como era de costume. Ela prendeu os ralos cabelos castanhos e juntos preparamos um macarrão, como já era tradição da família italiana e sentamos para almoçar. Com frequência ela perguntava da minha intimidade, vida pessoal, como estava funcionando meu sono e se estava saindo com alguém. Ela também perguntou sobre minhas crises de choro e como andavam "aquelas coisas" e eu só confirmei que tudo estava cessado e ela sorria em satisfação.
-Esse doutor parece estar te fazendo bem, huh? - ela disse dando uma boa garfada no alimento. Os Ieros são verdadeiros chefes de cozinha, meu pai então, nem se fala. Me perdia em quantas vezes eu havia o aconselhado a fazer algum curso sério de gastronomia e abrir um restaurante, mas ele era um teimoso.
-Ele é ótimo, mas eu já não fazia "aquilo" a bastante tempo, mãe.
-Sei - ela acentiu desconfiada - Mas fale-me, como é essa coisa toda de psicólogo?
-Tem sido ótimo - dei uma pequena pausa e foi minha vez de saborear um pouco mais da massa que havíamos preparado - Ele é gentil e atencioso e, bem, é bastante bonito também.
Ela revirou os olhos e tornou a rir baixinho.
-Hm, acho que finalmente descobrimos o real motivo por você adorar vê-lo.
-Não é isso! - eu também soltei uma risada baixa e me levantei a procura de uma coca-cola e dois copos - Ele é realmente bom, isso só é um detalhe.
Finalmente achei o refrigerante no canto da geladeira. Peguei os copos limpos na pia e retornei a mesa nos servindo.
-E vocês falam sobre o que?! Sobre sua mãezinha? - ela continuava a questionar completamente curiosa sobre o assunto.
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[Frerard] Volcano
Fanfiction"Foi-me ensinado por muitas vezes, antes mesmo da faculdade, que traumas passados não se apagam com o tempo, assim, tão facilmente. Acha-se que tem superado e leva-se a vida, porém nunca se sabe onde esses traumas estão escondidos e quando podem se...