And I'll try to fix you - Gerard

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-Estresse pós-traumático - refleti numa pré-conclusão sobre o caso de Frank. 

Já era hora de me dedicar por algumas horas àquele adorável paciente. Adorável sim, pois em pouco tempo já havia me identificado e sido cativado pelo brilho nos olhos daquele menino; Era inconstante, vezes parecia mais aberto, horas mais calado. Ás vezes, o brilho nos olhos de Frank eram evidentes, e em certos tempos eram simplesmente inexistentes. Ele era uma levíssima folha no tal abismo do inconsciente oscilando entre os mais diversos pontos. Não, ele não era bipolar. Só era intenso e mergulhava em cada emoção; Com a oscilação de assunto eu o observei tomado por diversos sentimentos como agitação, felicidade, confiança, medo, timidez... Tudo isso com voracidade e verdade de forma que me fazia admira-lo. 

Fazia anos que eu não me entregava a nenhum sentimento e não sentia ondas arrebatadoras de emoção vivendo a vida em sua forma mais profunda, e eu ouso a dizer, em sua forma mais correta. Eu havia escolhido o meu caminho e aceitei as circunstâncias, era melhor assim. Enquanto isso, me bastava observar o turbilhão que era grande parte de meus pacientes e em especial Frank. Não era insano, depressivo, dramático ou radicalista. Ele apenas convivia com um fantasma assustador, uma bola de neve rolando cada vez mais na imensa montanha de seu consciente -e inconsciente também - e ainda assim seguia a vida, sem chorar pelos cantos por todo dia, dirigia... Havia enfrentado o principal objeto do trauma. Frank chorava sim, mas no silêncio da noite, fechava os olhos para afastar pensamentos, gritava sozinho. Ele sofria de verdade e não queria envolver os outros na sua tristeza. E isso era errado? Por completo. Não existe forma de descongelar sua bola de neve se não aceita-la e falar sobre, combate-la abertamente, mas Frank queria combate-la de forma estúpida: sozinho. O que, apesar de tudo, para mim não deixava de ser admirável. Ele não precisava de atenção, holofotes, não se fazia de vítima, não procurava ou se quer pensava em causar pena nos entes queridos e pessoas a sua volta, ele não queria um trono e todas as atenções voltadas para seu sofrimento. Eu o admirava. Faziam apenas duas consultas e eu o admirava. Frank era forte. E eu não sabia dizer se era forte mesmo ou um falso-forte, porque pelo que pude observar em rápidas duas consultas ele sabia chorar e sabia sentir, sabia desmoronar e quem é forte não desmorona, certo? Muito bem então, se for assim, nenhum de nós é e nem jamais será forte. Mas algo me diz que Frank era. Então conclui rapidamente que se houvesse um dia alguém forte, este seria Iero e sua doçura característica.

Frank, ao meu olhar se assemelhava a um garoto de 19 ou 20 anos, idade que provavelmente tinha na época do acidente. Talvez nós, psicólogos, vejamos nossos pacientes meio jovens e talvez com um olhar meio paternal... Besteira, Frank só era 4 anos mais novo que eu e acredito que seja um bom homem, estruturado, embora as íris âmbar me transmitam um ar tão verdadeiro que ouso a dizer que me lembra uma criança no seu auge da descoberta e isso era belíssimo. Não há nada mais belo no mundo do que o olhar de uma criança. No entanto, Frank completava seu órgão observador e sempre atento com uma intensidade sem fim. Ele queria tocar sua alma quando o encarava, queria ir além. Você está apto a conhecer Frank apenas prestando a devida atenção em seu olhar profundo, mas como ele, eu queria ir além da cor indefinida e mutável -percebi uma pequena oscilação entre o castanho, mel e verde- que tornava tudo mais misterioso ainda que tão claro. É contraditório, eu sei, mas refletindo, eu o definia com coerência.

Fazia 5 anos e a bola de neve rolava montanha a baixo num pique-pega esquisito misturado com esconde-esconde, se me permite descrever dessa forma. Ele se sentia bem por certas vezes, mas realmente acredito que a dor seja insuportável por outras mais e já havia passado a hora de tratar tudo aqui. Eu havia dito, Frank é forte, e eu, honestamente, não sei como ele não tinha simplesmente surtado e se isolado completamente sendo totalmente engolido, ele estava parcialmente soterrado pelo gelo, mas eu ainda podia ver o pequeno corpo tatuado procurando pela superfície. Iero havia comentando, ainda em nossa primeira consulta que sua amiga reclamava dele estar distante em alguns momentos, ele mesmo havia reclamado que se sentia distante dos amigos e havia me contado que aquilo não era normal, ou natural dele, não antes do acidente. Peguei o fino livro localizado em minha estante junto com outros mais e logo após sentando-me na confortável poltrona preta-azulada de meu escritório de casa abrindo num conjunto de páginas já conhecido por mim a procura de alguns auxílios. "V - distúrbios relacionados à ansiedade :" rolei os olhos rapidamente pelas página branca enfeitada de diversas palavras e termos achando finalmente a característica "E" que dizia "Relações caracterizadas por dependência execessiva de outras pessoas ou afastamento das outras pessoas". Okay, já estava no caminho certo, e eu honestamente já sabia o que estava fazendo. Já tratei de uma vítima de estupro - o que, acredite, é perturbador - e já havia passado dias procurando sobre o distúrbio e sabia que Frank se enquadrava, em parte. Procurei a parte que que mencionava o estresse generalizado pós-traumático este comum em pessoas que sofreram algum tipo de acidente grave, caso como o de estupro, experiências em guerras ou tortura podendo assim desenvolver outros distúrbios como TOC, ou depressão. Ali dizia "inclui sintomas tais como resposta de sobressalto exagerada, distúrbios do sono, culpa, pesadelos, flashback, raiva com amortecimento de outras emoções. Álcool e drogas comumente usados como automedicamento para aliviar os sintomas." . Levei uma das mãos aos meus longos cabelos negros - que estavam necessitando serem cortados, pois já alcançavam meus ombros - arrastando a franja para trás relendo as frases anteriores e refletindo que distúrbio do sono e certos pesadelos eram evidentes e o fato de ser assombrado e de ter me confidenciado que lembrava bem do acidente denunciou que talvez flashbacks poderia ser um fator que ocorria algumas vezes. Saquei o lápis e anotei de leve no bloco amarelo "-Relação com álcool e drogas; Sentimentos (Culpa, raiva, medo)" Estas eram relações e perguntas que eu deveria fazer para Frank em nosso próximo encontro afim de conhecer um pouco mais seus sentimentos internos. Com o problema já descoberto o que eu poderia fazer era analisar e ver se ele se enquadrava no caso e assim, tratá-lo da melhor forma possível. Eu deveria e iria, devolver a felicidade total a Frank. Queria vê-lo sair com os amigos normalmente, queria saber que meu trabalho foi bem feito e eu batalharia por isso. Descolei o pequeno papel do bloco colando em minha agenda na data do próximo encontro ansioso pela resposta de todas aquelas perguntas.

Liguei o laptop iluminando um pouco mais a sala na qual me encontrava. Meu escritório em casa quase sempre se encontrava a meia luz, apenas com uma potente luminária na direção do meu ponto de atenção, livro ou qualquer objeto. Eu preferia trabalhar assim. Me lembrei ligeiramente de meu pai reclamando quando me via lendo, desenhando ou estudando no escuro alegando que minha visão seria prejudicada. Besteira, como tudo que meu pai costuma dizer. Até hoje não conseguimos estabilizar nossa relação. Assim como com minha mãe... Embora ela seja um tanto mais esforçada para lidar comigo. Meu irmão? Dois anos que não nós falávamos amigavelmente, apenas protocolo família já que ele havia se casado há 6 meses e eu era da família e isso ele não poderia negar. Todos diziam que eu era uma pedra insensível e obscura. Não, eles nunca realmente me falaram isso, eu cheguei a essa conclusão sozinho, por mim mesmo. 

Esperei aquele lixo tecnológico ligar e carregar e então procurei a pasta "pacientes" onde criei um arquivo para Iero e ali anotei as recentes conclusões e detalhes das duas últimas consultas; eu tinha uma ótima memória mas nada garantia que eu não perdesse algum detalhe, embora duvidasse muito disso. Escrevi sobre o acidente e sobre as reações que presenciei em meu consultório. As lágrimas, o estado inquieto de seu olhar aparentemente perdido, as mãos entrelaçadas entre si e a ousadia de buscar meu abraço num ato sincero de conforto. Tentei resgatar a lembrança do singelo ato de carinho e gratidão. Para ser bastante sincero haviam anos que eu não me relacionava com ninguém aponto de dar ou receber um abraço sincero que não denotava um cumprimento forçado ou no mínimo, educado. Novamente me lembrei do aparente ar de infantilidade e bondade de Frank me fazendo sorrir de leve ao que continuei anotando sobre minhas hipóteses;

-Isolamentos momentâneos. Prefere ficar sozinho a socializar.
-Distúrbios de sono e pesadelos na época do ocorrido.
-Auto-medicação (no caso de tranquilizantes)
-Lembranças fortes. Lúcidas.
-Disposto a fazer o tratamento.

Se todas as minhas hipóteses fossem confirmadas dentro cinco ou seis sessões, provavelmente já iniciaria algo específico. Um diagnóstico nunca é tão simples, mas o caso dele me soa bastante enquadrado na ideia do acontecimento maior, que viria a ser o acidente. As indicações eram remédios delicados e controlados, já que existia a grande probabilidade de vício, ou da mesma forma que aconteceu com os tranquilizantes do passado com ideia de necessidade indispensável. E treinamentos para relaxamento e auto-ajuda. Não submeteria Frank a nenhuma terapia de grupo. Eu poderia tratá-lo sozinho incentivando-o a verbalizar tudo o que havia presenciado, sentido e também o que ainda sente, a chorar novamente, a aumentar o tom de voz, a diminui-lo. Minha intenção era descobri-lo e assim formarmos uma dupla completa... Eu traria a Frank o gosto do viver e a tranquilidade, a qual ele tanto apelava e rezava para ter. 

-x-

Eu adoro esse Gerard, mas olha, ele é um falso psicólogo, haha. Eu não sou da área, beleza, galera? Alguns elementos são sim fruto de pesquisa, mas nem tudo é verídico.

xxlu

[Frerard] VolcanoOnde histórias criam vida. Descubra agora