Appointment 4 - Gerard

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Frank estava com uma afobação anormal e eu havia percebido isso claramente desde o momento que meu jovem paciente havia entrado na sala. Agora, o menino se encontrava sentado a minha frente como de costume para que pudéssemos iniciar nossa consulta semanal. Iero batia a perna direita incessantemente no piso claro e o barulho já me causava uma irritação quase igual a sua.

Não pude deixar de achar graça da forma engraçada que ele tomava quando nervoso. Soltei uma risadinha de leve ao perguntar como havia sido sua semana e se ele tinha algo para me contar, mesmo sabendo que a resposta era positiva.

-Tem... Eu... Arg - ele falava de forma meio desconexa como se temesse algo mesmo sabendo que teria de enfrentar. Ele estava sentado de forma ereta na ponta da cadeira, demonstrando o quão pronto estava para dar o fora em qualquer rápido movimento.

-Frank, se lembra do que eu lhe disse no começo? Fique a vontade, pode andar, pode gritar. Est...

Fui interrompido pelo ruído causado pelo atrito da cadeira sendo arrastada pelo chão e observei Frank andar impacientemente pelo consultório, me fazendo girar um pouco a minha cadeira para acompanha-lo.

-Sábado. Preciso te falar de sábado - eu assenti e ele levou a mão a boca, roendo parte da curta unha do dedão - Meu amigo foi lá para casa, estávamos arrumando minha coleção de cd's, vinils e essas coisas, começamos a beber e rapidamente já estávamos altos... Fomos para cama juntos! - a ultima frase foi falada com tamanha injuriação e raiva. Eu não entendia direito. Frank era hetero e havia cometido um deslize? Ele tinha alguém? Nunca havíamos falado sobre aquilo, e eu estava curioso.

-E... - clamei por uma continuação de sua fala. Eu realmente não sabia o que pensar.

-E que, ele tem namorado! E é sério. Eles estão juntos há anos e... Eu fui idiota por ceder a uma tentação. Acordar do lado de um amigo de trabalho sem se lembrar de absolutamente nada e ainda ter que lidar com o garoto nu, no sofá da sua sala quase tento um ataque falando que se o namorado descobrisse... Culpa, Gerard! Eu estou sendo comido vivo pela culpa - Frank gritava e sua irritação era óbvia. Eu admitia um leve medo sobre a proximidade dele e da minha estante de livros e, honestamente, ao que parece ele queria pegar cada exemplar e jogar em cima de mim, ou de si mesmo... Ou de qualquer criatura viva em seu caminho.

-E como está sendo? O namorado descobriu?

-Não - ele respondeu simplesmente voltando a caminhar lentamente pela pequena sala com as mãos coloridas escondidas nos bolsos frontais da jeans escura e justa - É praticamente impossível que descubra, ele está na Alemanha e só volta daqui a três semanas, nós conversamos e decidimos manter segredo de estado após pedirmos inúmeras desculpas, mas... Me explique com que cara de tacho eu irei encarar Bert depois isso? Por Deus...

-Não jogue a culpa só em você, Frank - eu disse. Não era papel de um psicólogo ser amigo ou conselheiro, mas nada me impedia de interagir e levar meu paciente a conclusões óbvias - Não foi só você que bebeu, nem só você que fez nada. Pense nisso.

O garoto suspirou alto andado lentamente até a cadeira se aquietando um tanto e cruzando as pernas como de costume. Agora que ele havia liberado toda sua raiva e angústia, Frank já se sentava de forma relaxada e costumeira. Ele me encarou por alguns minutos coberto de vergonha, mas eu aproveitei aquele tempo em que ele esperava por alguma palavra vinda de mim para fixar meus olhos e observar cada detalhe tão belo e bem feito naquele rosto jovial. Frank ergueu as sobrancelhas quase implorando para que eu tomasse partido interrogando-o ou simplesmente falando algo. O silêncio se cessou quando sua paciência esgotou.

-Eu... Me sinto horrível - ele desabafou completamente tomado pelo próximo estágio da culpa: A dor.

-É compreensível! Mas não se culpe por algo que você não fez sozinho. Não sei qual é a visão que você tem sobre traição, mas garanto que se esse seu amigo ama o namorado dele, então a noite de vocês não significou nada para ele. É algo banal. E se você se concentrar nisso, pode ser que se torne banal para você também.

[Frerard] VolcanoOnde histórias criam vida. Descubra agora