Appointment 3 - Gerard

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A ultima semana literalmente voou. E a impressão não foi só minha, pois ao comentar isso com Milena mais cedo, no inicio do expediente, ela me confidenciou que a sexta pareceu demorar como um novo século. Bem, ela gosta muito de hipérboles ou eu que estava ansioso e não poderia mais esperar. 

Com o caso de Frank em pauta eu poderia avaliar pouco mais de sua vida, ser mais incisivo. Eu sabia que meu paciente não gostava nem um pouco de ser interrogado, então eu deveria o fazer com um tanto de delicadeza. Quando o relógio vermelho marcou 17:55 observei Harley, minha paciente das 17h, diagnosticada com depressão, se levantar cuidadosamente e se direcional até a porta. Eu a trato desde os vinte, e provavelmente hoje em dia ela deve ter seus vinte dois, ou mais. Foi uma das primeiras e um caso que muito me interessou e ainda me interessa. Gosto quando ela vem pois é artista e geralmente pinta suas agonias e tristezas e eu realmente aprecio isso: gosto de expressão, principalmente em arte. Sim, arte é minha paixão, meu hobbe e eu jamais esqueceria das diversas madrugadas que gastei treinando desenhar meus super-heróis favoritos e também jamais esqueceria as broncas que eu levava de minha mãe quando ela me flagrava ás três da manhã insano tentando acertar algum traço, ou dos resmungos de meu pai me mandando ir estudar ao invés de perder meu precioso tempo me dedicando a histórias de criança. 

Em suma, a devoção que Harley tinha com a arte foi primordial para seu tratamento. É importante se expressar e eu repetia esta frase inúmeras vezes semana a dentro, e quem sabe até por dia. Se soltar, se expressar, por para fora. É como um incomodo em seu corpo, algo que está errado e te enjoa, você o põe para fora, você vomita, cospe... Pinta, escreve, canta.

Ouvi leves toques na porta e sem esperar minha resposta Milena - hoje calçando uma sandália elegante, o que me fazia despreocupado com relação a sua falta de destreza- adentou na sala.

-Sr. Way, você deixou o carro em frente ao portão da senhora DeLarge, ela quer sair e está uma fera - Ótimo. Os DeLarge moram em frente ao prédio de meu escritório e nunca foram dos mais simpáticos comigo depois que eu encaminhei o filho único, Alexander, para um psiquiatra alegando que o caso dele era um pouco além das minhas capacidades de terapeuta. A mulher principalmente, nutria uma antipatia sem fim comigo e se quer me cumprimentava quando passava por mim, o que me soa ridículo pois ela costumava me adorar, e na ultima semana ela tem me perturbado constantemente. Um novo escritório foi alugado, um de advocacia e o administrador precisava de uma vaga - já que o prédio comercial costumava lotar- e como o sujeito era novo, eu, um completo idiota, cedi a minha até encontrarem uma para ele e tenho sido obrigado a deixar meu carro na rua o que não seria um grande problema se a vaga mais próxima fosse em frente a casa dos DeLarge. Ao deixar um bilhete no para-brisa do carro avisando que qualquer problema poderia me chamar, provavelmente a Sra. Margaret viu uma oportunidade de me deixar mais louco que o filho dela definitivamente era.

-Milena, por favor, tire o carro de lá e procure uma vaga no prédio, não é possível que não tenha nenhuma disponível a esse horário. E mande Frank entrar - analisei rapidamente a mesa procurando a chave e assim que a tive nas mãos e estendi em direção a minha secretaria - Pego com você quando a consulta acabar.

-Sim, senhor - ela disse pegando a chave de minha mão e caminhando para fora, pude ouvir sua voz fina chamar "Frank Iero" e enquanto Frank entrava eu procurei seu envelope, tirando a folha usada em nosso último encontro, anotando a consulta #3. Lembrei-me dos detalhes sobre as respostas que eu gostaria de obter gravadas na agenda e pude ouvir meu paciente entrar quando achei a data de hoje e abri ali deixando cuidadosamente apenas em meu campo de visão. Me fiz confortável na poltrona negra e pude ver que Frank já estava sentado com seu olhar curioso em mim.

-E então, Frank? -comecei, esperando que dessa vez ele tomasse uma iniciativa maior e fiquei feliz ao receber o que tanto ansiava.

-Semana rápida, huh? - ele comentou com um sorriso brincalhão. Estava nervoso, mas sentia-se livre. Seus braços repousavam sob a estrutura da cadeira e suas pernas se cruzavam levemente ao que ele apenas deixava o tornozelo sob o joelho de forma despojada, porém ainda educado. Eu gostava disso. Também gostava de como a camiseta vermelha o vestia bem. Na verdade, eu jamais entenderia como qualquer traje mais colorido o completava de forma sóbria, mesmo com as tatuagens em seus braços. Elas não atrapalhavam, não o fazia uma confusão de cores. Era engraçado.

[Frerard] VolcanoOnde histórias criam vida. Descubra agora