Nature Boy - Gerard

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 Frank parecia me surpreender a cada movimento e devo dizer que no campo da escrita não estava sendo diferente. 

Havia algo nele, era arrebatador e intenso, eu estava apaixonado pela sua agressividade e a inconstância. Pelo jeito, ele tinha selecionado diversos temas de diversas eras. Ora falava de dor, ora falava de raiva, ora de sangue e sofrimento - e este supus que fosse um dos sobre o acidente - mas o que mais me chamou atenção foi o marcado como mais recente. Senti uma pontada esquisita de felicidade ao ler e me sentir parte daquela arte. O carinho que Frank demonstrava, quase como um amor era reflexo de algo puramente artístico, mas mesmo assim, o que ele quis me passar com as palavras gratas e até mesmo doces me trouxe coisas que eu não sentia a tempos, uma delas era reconhecimento. Não que nenhum paciente me destratasse - okay, alguns, grandes teimosos, sim - ou não se mostrassem agradecidos pelo meu trabalho, mas a tempos não recebia algo daqueles. Havia anos que Harley não pintava algo para mim, ou que Arthur, meu paciente mais jovem, não desenhava uma árvore - ele realmente as adora - exclusivamente para mim. Eu guardava cada lembrança com carinho, mas sabia que aquelas eram cópias originais e de Frank. Por tanto, fui invasivo o suficiente para tirar xerox de todos os poemas, inclusive aquele que eu acreditava fielmente em descrever nossa adorável relação.

E se não fosse, eu simplesmente o guardaria para mim como um dos meus favoritos.

Por um segundo, dediquei minha memória a raiva que Frank havia adquirido e toda culpa que o consumia sobre a noite com o amigo. O fato dele ter se dado trabalho de se preocupar e se incomodar com o efeito de sua ação na vida alheia denunciava um caráter presente e adorável que muito me admirava e me surpreendia. Hoje em dia ninguém se preocuparia por uma ação minimalista - sim, muitos nem viriam razão para estardalhaço emocional - mas ele sim e isso me fazia bem, e eu admirava essa qualidade assim como outras várias pertencentes a personalidade forte que eu descobria cada vez mais. Era feio, de minha parte, amar sua culpa, mas eu o fazia nem que seja um pouco, secretamente, dentro de minha mente confusa. Eu amava sua culpa e não conseguia me sentir diferente sobre.

O telefone soou alto em minha sala e eu me levantei da cadeira do escritório caminhando com urgência até o aparelho. Reconheci a voz de Michael, meu irmão mais novo. Fazia poucos meses que não nos falávamos e ele sabia sobreviver muito bem sem a minha presença, e eu sabia disso.

-Alicia está grávida, e bem, estávamos pensando de te convidar para um almoço de comemoração aqui em casa. Seria algo pequeno. Apenas para família, você vem, certo? - ele me perguntou pidão depois de me explicar o motivo da ligação e eu senti uma alegria mínima, mas significativa crescer dentro de mim, algo como "Hey, eles querem você lá" e aquilo era exclusivo, extraordinário.

-Quando? - eu questionei alegre, tentando deixar minhas emoções transparecerem. Eu não era o tipo de irmão que normalmente teria um ataque de felicidade ao telefone e o daria todos os parabéns do mundo. O máximo que eu conseguia fazer era pequenos atos e por muitas vezes as pessoas não reconheciam que um simples sorriso meu poderia denunciar minha felicidade, pois gritos e congratulações não faziam parte de meu perfil, simplesmente. E ao invés de se contentarem me taxavam do maior iceberg ambulante do mundo.

-Sábado que vem por volta de uma da tarde, tudo bem para você?

-Perfeito, eu irei - disse firme, casualmente.

-Sério? - o tom surpreso de Michael, em outras eras, me causaria um transtorno e uma ofensa, mas não hoje, quando eu estava mergulhado em boa poesia e sentimentos positivos que muito me agradavam. Eu confirmei e desejei os parabéns ao meu irmão, ele ainda parecia surpreso. Eu definitivamente não liguei, encerramos a ligação de maneira diferente do que o costume.

[Frerard] VolcanoOnde histórias criam vida. Descubra agora