Capítulo XIII

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    Já era noite, Marie insistiu para que eu e Bella ficássemos, uma vez que a tempestade não havia dado trégua e o clima estava inóspito lá fora. Nada pareceu ter mudado desde o minuto em que eu e ela nos beijamos na livraria, mas estive pensando muito no quanto Marie é linda, gentil e educada, entretanto, não conseguia ignorar o fato de nossas vidas serem tão diferentes.
    Veja bem, ela ainda tem dezoito anos e ainda pode ter um futuro brilhante, construindo uma carreira sendo professora e achar um cara mais legal que eu. Eu, por outro lado, tenho vinte e cinco anos, uma filha pra cuidar e não tenho nem um emprego estável. Não posso ser egoísta e simplesmente jogar essa responsabilidade de ter um bebê pra cuidar nas costas dela assim, isso nunca daria certo. Fui tirado dos meus pensamentos quando Arabella começou a ficar impaciente com a demora da comida, só então percebi que estava sentado na cadeira com o pote fechado de papinha em mãos.
-Desculpe Bella, o papai estava distraído.
    Dei o jantar da pequena enquanto Marie preparava o nosso na cozinha, Bella estava especialmente manhosa naquela noite e não aceitava de jeito nenhum ficar longe de mim, mesmo que estivesse extremamente cansado, não tinha o que fazer. 
-O jantar está pronto, Luke. - Marie avisou-me sorridente.
-Quer ajuda pra colocar à mesa?
-Não, tudo sob controle. - disse sorrindo.
-Preciso dar o remédio da Bella ainda.
-Ah, quer ajuda?
-Se não for pedir muito, você poderia segura-la pra mim?
-Claro.
    Tive de fazer o mesmo que no dia anterior, apertando as bochechas da pequena para que conseguisse faze-la engolir o xarope. O que obviamente resulta sempre em choro, eu também choraria. Esses xaropes tem gosto de morte. 
-Pronto, pronto baby. Já acabou, meu anjo. - disse pegando Bella do colo da Marie e comecei a balança-la em meus braços.
-Isso deve ter um gosto péssimo. - disse Marie fazendo cara de nojo para o frasco de antibiótico.
-Pode apostar, eu mesmo provei. - disse ainda balançando a menina em meus braços, que soluçava alto. - Mas o que eu posso fazer? Se pudesse, eu tomaria no lugar dela.
-É tão lindo o jeito que você cuida dela. Quero dizer, se você realmente era a pessoa que disse ser...você provavelmente teria todos os motivos em mente para rejeitar essa criança, mas não o fez. 
-Eu jamais faria isso, não queria que ela crescesse num orfanato se perguntando porque seus pais a abandonaram. - Marie assentiu. - Além do mais, ela é o único pedacinho que restou do meu amor com a Mia.
-Você é um bom pai, Luke. E uma ótima pessoa também.
-Não sou tudo isso que você pensa. - respondi sorrindo sem graça.
-Tem razão, você é mais. - ela disse beijando minha bochecha.
-Ok, vamos parar de alimentar o meu ego por hoje. - rimos.
-Vamos jantar, a comida deve estar esfriando.
(...)
    Depois do jantar, por volta das nove, eu estava sentado na cama do quarto de hóspedes, Bella em meus braços relutava para fechar seus olhinhos sonolentos enquanto me ouvia cantar uma canção de ninar...minha avó costumava cantar pra mim, não me lembro de a minha mãe ter feito isso nem uma vez.
    Marie estava ao meu lado observando enquanto acariciava delicadamente com a falange dos dedos as bochechas da pequenina em meus braços. Arabella não fez questão de aguentar firme, e cinco minutos depois já estava confortável em meio a dois travesseiros e cobertores dormindo profundamente.
-Ela é a coisinha mais fofa desse mundo, não me canso de repetir isso. - Marie disse assim que chegamos na sala e nos sentamos no sofá, ligando a tv.
-Pois é.. - respondi.
    Houve um silêncio de pelo menos três minutos depois disso, ambos estávamos fingindo prestar atenção no programa aleatório que estava passando na tv. Mas, apesar de ainda não ter a capacidade de ler mentes, arrisco um bom palpite sobre o que ela estava pensando.
-Marie.
-Luke. - chamamos um ao outro ao mesmo tempo. 
-Você pode falar, Luke.
-Bom, eu estive pensando no que aconteceu hoje...no beijo.
-Eu também.
-Certo, você estava pensando que foi uma coisa boa...?
-Sim, não foi pra você? - perguntou demonstrando estar insegura.
-Não, não. Não foi o que eu quis dizer. Foi bom, e eu confesso que até pensei na hipótese de...a gente dar certo.
-Eu também pensei, Hemmings. Mas quais foram suas conclusões? - perguntou com curiosidade, talvez um tanto apreensiva.
-Não sei se é uma boa. 
-Por quê?
-Marie, olha, você é maravilhosa. Mas, você sabe..eu tenho uma filha e não quero jogar essa responsabilidade em você. Além do mais, você tem seus sonhos e eu não quero me intrometer. Entende?
-Entendo. - sua voz saiu reprimida.
    Quando olhei em seus olhos, vi que estavam repletos de lágrimas, meu coração parou por um momento e eu não sabia o que fazer. A última coisa que eu queria era deixa-la machucada, fazê-la criar falsas esperanças de algo que não daria certo, mas vê-la chorando me fez sentir um monstro. 
-Marie, não chore...por favor? - sussurrei, secando uma de suas lágrimas com meu polegar.
-Luke, sinto muito. Mas é tarde pra não querer se intrometer nos meus sonhos. Você agora...de certa forma, já faz parte deles.
    Arregalei um pouco meus olhos e recuperei o ar que de repente não estava mais nos meus pulmões.
-Marie.. - foi só o que eu disse.
-Luke, eu te via tocar todos os dias na galeria. Sempre alegre com o seu violão, sendo cuidadoso com a Bella. Fui me apaixonando pela sua voz, sua música, por você e...não tem mais volta.
-Marie, se acalma. Olha, eu também gosto muito de você e nunca vou poder te compensar por tudo que fez por mim. Mas, me desculpe..preciso de tempo. Vou voltar para casa amanhã, com ou sem neve. Me desculpe.
    Parabéns Luke. Você é um idiota, machucou a única pessoa que te tratou bem desde quando pisou nesse país frio. Espero estar fazendo isso pelo bem dela, principalmente.

Arabella || luke hemmings Onde histórias criam vida. Descubra agora