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Busan, 22 de Maio

Nasci numa manhã chuvosa, num dia barulhento de Abril. Uma criança de nascimento difícil, obra de muito sofrimento, de um sofrimento que traumatizou minha mãe de tal maneira que ela jamais se recuperou. Aos 20 anos, minha mãe adquiriu um verdadeiros terror pela maternidade e destruiu seu casamento. De certa forma, meu pai teve uma sorte do caralho. Morreu com o coração falhando, depois de uma noite de grande bebedeira - um homem pode adquirir um péssimo hábito de beber demais quando sua mulher foge dele como o diabo foge da cruz e o prazer desaparece sob seu corpo na imagem frígida de uma mulher aterrorizada, assustada demais para pensar e sentir qualquer tipo de prazer, livrando-o de anos e anos de um casamento vazio, de uma convivência forçada por mim, pelo pretexto em que me transformei para minha mãe continuar ao lado do homem qhe realmente amava, mas temia, com todas as forças de seu ser, quando ele apagava as luzes e a procurava. Ele morreu e escapou de coisas ruins, de acabar odiando a mulher que um dia amou tanto. Ele foi. Fiquei só com minha mãe. Deus, eu fiquei só com minha mãe, e tinha apenas 6 anos. Você é pai, mas você está morto.

Sinto muito a falta de meu pai. Parece muito engraçado eu dizer uma coisa dessas, já que mal o conheci. Mas sinto. Talvez instinto? Possivelmente.

Sempre que vejo minha mãe e o que ela é, o que faz e o que tenta ser para mim, penso nele. Mais, penso no que seria viver com ele, tendo ele para me dizer coisas, me ensinar caminhos diferentes dos que trilho agora. E uma carência interminável. Eu perdi todos os meus caminhos.

No início, quando eu ainda era criança, não sentia tanto. Sei lá, havia os brinquedos, havia os medos que quase sempre minha mãe infundia em mim. Eu simplesmente não o tinha como uma lembrança vaga, retratos antigos, um homem sorridente e confiante, que contrastava sob todos os aspectos com a imagem que eu recebia de maneira rancorosa e aborrecida de minha mãe.

Cresci, a solidão aperta, merda. Procuro caminhos e encontro mais e mais dificuldades. Talvez, se meu pai estivesse entre nós, eu encontrasse mais dificuldades para não querer ser o que sou. Mas apenas talvez...

Meu pai, um grande desconhecido. Fotos antigas, cartas sendo esquecidas, mas nenhuma palavra carinhosa para mim.
Como poderia?
Ele mal me conhecia, éramos dois perfeitos estranhos um para o outro. Tem dias em que sonho com ele; são sempre pesadelos. Não tenho sonhos bons com meu pai, só tenho praticamente um pesadelo. Sempre me vejo perdendo-o para tudo, mas principalmente para a vida.

Tem dias em que odeio a vida, e nesses dias, sou tão amargo quanto o silêncio da perda.
Tem outros dias que eu apenas sigo a vida, mesmo assim, continuo amargo.

Eu gostaria de me amar...
E dizer "pai, eu te amo".

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eu amo essa capítulo, desculpa

mais fotinho dos meus pais:

mais fotinho dos meus pais:

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nevermind ☹ namjinOnde histórias criam vida. Descubra agora