Narrado por Ricardo

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Mesmo em tantos anos com Helena eu nunca, nunca tinha a visto tão bonita. Como eu costumo dizer, é realmente assim: ela é como o vinho, quanto mais tempo passa, melhor fica. Quando fiz o convite de irmos jantar, não pensei que ela aceitasse mas ela cedeu. Levei-a pra um bistrô que costumávamos ir antigamente. Ao chegarmos lá, alguém a chamava pelo nome. Estava tudo às mil maravilhas até avistarmos quem era. Era aquele de cabelo grisalho que no dia anterior almoçou com Helena. Até esqueci o nome... É... Walter! Era Walter!
W: Helena! Helena! – Helena o avistou, sorriu e acenou pra ele.
R: Agora você vai mesmo querer que eu vá até lá?
H: Ai, Ricardo, me poupe. Vamos lá sim. Walter é um amigo.
R: Sei. – Helena me puxou pela mão em direção a mesa dele, que quando me viu ficou desconsertado, ao que me parecia. Chegando na mesa, ele estava com um casal, que nem eu nem Helena conhecíamos.
H: Walter! – os dois se abraçaram – Não esperava te encontrar por aqui. Boa noite, pessoal!
R: Nem eu. – sorri e ergui a mão para o cumprimentar, que ergueu também.
W: Pois é. Esse meu casal de amigos é de Portugal – o casal sorriu pra nós – e decidi mostrá-los o bom do Rio. Também não esperava encontrar os dois aqui. Mas então quer dizer que vocês também frequentam aqui?
H: Não! Não. Viemos jantar porque surgiu um assunto da Laura e temos que conversar quanto a isso. Não é, Ricardo?
R: Ah! É sim... – falei com muita certeza.
W: Ah, sim. – ele olhou pra nossas mãos, que estavam entrelaçadas – Bom, não quero interromper a conversa de vocês. Boa noite! E aliás, Helena, você está muito bonita hoje.
H: Obrigada, Walter. Muita gentileza sua! Boa noite, querido. – saímos em busca da nossa mesa
R: Muito atrevido esse seu amigo, isso sim. Quem já se viu chamar uma mulher de bonita quando se tem outro homem do seu lado? – confesso que quis explodir de ciúmes naquele momento.
H: Outro homem esse que é meu ex marido, talvez seja por isso, né, Ricardo?
R: Não importa, Helena. Mas enfim, hoje é ele quem está no mesmo lugar que eu estava ontem, vendo vocês almoçarem. O Rio de Janeiro é tão grande e ele tinha que estar justo aqui?
Helena gargalhou. Sentamos na nossa mesa, de lá, dava pra vermos a mesa de Walter. Estratégico.
H: Então, Ricardo, quanto a viagem... – O garçom nos entregou o cardápio e aguardou
R: Por favor, uma taça de vinho seco.
H: Duas! E um prato de camarões e macarrão à carbonara.
R: Vou te acompanhar. Dois, por favor.
O garçom assentiu com a cabeça e saiu.
R: Bom, voltando ao nosso assunto: já comprei as passagens para Curitiba. Quinta feira às 9:20 da manhã.
H: E se eu não for?
R: Claro que você vai.
H: Não sei não, Ricardo. Vou ver isso amanhã no trabalho.
R: Enfim, você vai. Assim que você decidir, tem que me dizer, e aliás, não reservei hotel. Ou você vai pra ficar na casa da dona Ivanir?
H: Se eu for, fico na casa de mamãe.
R: Então vou reservar hotel pra mim.
H: E a Susana, Ricardo?
R: Creio que nem desconfia. Sempre viajo a trabalho, sem contar que há tanto tempo não nos falávamos.
H: Fico com um peso na consciência danado por causa dela...
R: Se você me der a certeza de alguma coisa, você sabe que eu termino com ela.
H: Pois eu prefiro não dar essa certeza, não posso prometer nada, não por enquanto.
R: Ela me pediu pra ir pra Curitiba, mas falei que não ia ter tempo de dar atenção à ela, daí ela não insistiu mais.
H: Hum. E afinal, você vai mesmo à trabalho pra Curitiba ou isso foi mais uma mentira?
R: É à trabalho sim, Helena. Só lembrei de sua mãe e resolvi te convidar.
H: Hum. Tá, tá.
R: Vou ter reunião na quinta à tarde e sexta pela manhã.
H: E só voltamos no domingo?
R: Isso. Vamos ter o sábado livre... – sorri de canto de boca pra Helena que sorriu junto.
H: Mas e Boston, Ricardo?
R: Pois é, as passagens estão muito caras e o dólar do jeito que tá...
H: Acho que não vou, não tem condições. Uma viagem dessas tem que ser planejada com antecedência, o que não aconteceu.
R: É verdade. Mas a gente pode falar pra eles amanhã... Eles vão entender.
H: É. Amanhã vou ligar pra Marília e aviso.
R: E eu, pro Olívio.
H: Acha que eles vão desconfiar?
R: Que desconfiem, Helena... Eles são nossos amigos de anos, você sabe.
H: É. Não devemos nada a ninguém, não é mesmo? – Helena sorriu e levantou a taça de vinho propondo um brinde, brindei, sorri junto e depois coloquei minha mão sob a sua.

Paralelas [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora