Como pode aquela notícia, meu Deus? Ricardo mais uma vez mentiu pra mim, lhe fiz a pergunta se ele e Susana ainda transavam desde que estivemos juntos pela primeira vez e ele sempre me respondeu que não. Eu sabia que ele não ia zelar pelo nosso amor, que ele não ia cuidar disso, só não sabia que isso iria se desgastar tão rápido assim. Mas e se esse filho não for de Ricardo? Não... Impossível! Impossível. Agora, eu não sei o que vou fazer. Só sei que não vou fazer nada agora a não ser descontar toda essa raiva que ele está me fazendo sentir, nele.
R: E é verdade, Helena! Há uns 3 meses que eu não transo com Susana!!!!
H: Como eu posso acreditar em você, Ricardo? Com quantos meses ela está?Comecei a chorar, era inevitável não lembrar do quanto eu e Ricardo lutamos para termos nossa Laura, e agora, com tanta facilidade, Susana engravida de Ricardo.
H: Ricardo, você lembra do quanto a gente quis a nossa menina? Do quanto a gente teve que perder pra ter a Laura? Meu... - eu falava entre soluços, chorava que nem uma criança quando lhe tiram o doce da boca - Deus, Ricardo! É inevitável pra mim, não lembrar de tudo que a gente passou depois de uma dessas! Casamos, tivemos nossa casa, construímos uma vida, um castelo... Mas sempre faltou a princesa. Você me cobrava tanto e vice-versa, nós tentamos tanto. - me sentei na cama ao lado dele, que, a essa altura, já chorava também - Aí veio a primeira gravidez, e, consequentemente, a primeira perda. Depois a segunda, e, a mesma coisa. Depois disso, passamos tanto tempo desacreditados... Desis... - soluço - timos, Ricardo, desistimos! Aí agora vem umazinha dessas qualquer, que você sabia que não te amava COMO EU, RICARDO, COMO EU! - Falei gritando e batendo a mão fortemente em meu peito enquanto Ricardo estava de cabeça baixa, e o silêncio que nossas lágrimas faziam era estridente com aquele grito que o cortou - Meu Deus... Eu não consigo acreditar!
R: Helena...
H: Não... Espera, que tem mais. Lembra de quando cogitamos nos separar porque começamos a achar que o universo não conspirava a favor de nós dois, Ricardo? Sim, nós havíamos desistido... O mundo foi mesmo muito, muito cruel com a gente! Mas nós também fomos tão cruéis um com o outro. Nós nos julgávamos! Fomos padrinhos, fomos tios, mas nunca pais... Até que, olhe só, que ironia, no batizado de Saulo, ficamos bêbados, nos declaramos em público, e quando chegamos em casa, foi no que deu. Ali Laura foi concebida pra nós... Passei a gravidez toda sem luxo algum, meus pés explodiam naquelas meias, mas eu continuava na empresa, na nossa empresa. E agora, eu tenho certeza, Susana vai ter do bom e do melhor. Passei a gravidez com medo do dia seguinte, dormindo colada com você e com um terço na mão, afinal, se algo acontecesse, você já estava bem ali. Foram tantos cuidados e tanta espera, Ricardo. Tantos anos... Esse foi o pior soco na barriga que eu poderia receber. Foi como se você jogasse todos os nossos anos de espera, de vontade no lixo. Poderia ter sido em qualquer outro momento, mas não! Foi agora, justo quando estamos nos reconciliando. - enxugo as lágrimas de meu rosto
R: Tudo bem, Helena. Eu sei que errei, meu Deus! E como eu errei... Errei desde o primeiro dia, você merece algo tão melhor que eu e eu sempre soube disso. Ah, Helena... - sorriu em meio as lágrimas - Esse teu discurso foi pior que qualquer nostalgia. Você pensa mesmo que eu não lembro? Eu te achava linda com aquele barrigão, e sempre acreditei na coisa que Deus sabia que eu te achava linda daquele jeito e resolveu me mostrar 3 vezes de formas diferentes! Mesmo só uma dando certo, eu sei. Não quero falar muito porque eu não consigo... Me perdoe por tudo, Helena. Eu sei tanto o quanto errei. Errei muito com você. Não sei nem se sou digno de seu perdão, mas eu te amo. Lembra daquela música da Ana Carolina? Como que é, mesmo? Ah! "Eu nunca disse que iria ser a pessoa certa pra você... Mas sou eu quem te adora". Esse foi mais um dos meus erros, né, Helena? - ele passou as duas mãos sob o rosto e eu caminhava de uma ponta a outra do quarto com as duas mãos na cabeça - Mas não faz nada agora, por favor, Helena. Lembra da última vez que você fez as coisas de cabeça quente?Parecíamos duas crianças perdidas dos pais no meio da multidão naquele quarto de hotel. Ricardo me olhava com cara de cachorro abandonado, ambos estávamos com os olhos vermelhos de tanto chorar, e eu, pensava um turbilhão de coisas, sem conseguir responder nada do que havia ouvido... Eu sei que aquele momento foi de dor pra nós dois. Mas eu só não sabia em quem doía mais.
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Paralelas [CONCLUÍDA]
FanficDuas linhas paralelas que podem até se cruzar. Helena, uma mulher desimpedida há 17 anos. Walter, um colega de trabalho. Ricardo, o pai de Laura.