Era Daniel. Ele ainda não havia nos visto, mas viu Helena e foi até sua mesa cumprimentá-la.
L: Que foi, pai? O senhor tá com uma cara tensa... – Laura virou para certificar se havia algo, e havia. – O mundo todo resolveu aparecer aqui nesse restaurante, justo hoje. Foi?
R: Tenha calma, minha filha. – ele se aproximava de nós
D: Boa tarde! Lau! Quanto tempo. E aí, senhor Roberto? – ele põe a mão no ombro de Laura e em seguida me estende a mão.
R: Fala aí, Daniel! Como andam as coisas, garoto? – aperto sua mão, e sorrio.
L: Oi, Daniel. Tudo bom?
D: Tá tudo bem, as vezes muito atarefado com algumas coisas, mas nada que eu não possa resolver.
L: Esse semestre tá puxado pra mim também...
R: Laura, acho que Helena acabou com o almoço. – interrompi pois sabia que Laura queria sair logo dali
D: Ih! É mesmo, eu vi ela ali, estranhei por ela não estar na mesma mesa que vocês... Mas enfim, vocês não me devem explicações. Vou indo nessa, não quero interromper o almoço de vocês.
L: Não interrompe, Daniel. Mas tudo bem... Bom almoço.
D: Ótimo saber que não interrompo, mas preciso ir mesmo. – Daniel dá um beijo na cabeça de Laura – Tchau, Ricardo. Foi um prazer revê-lo!
R: Tchau. Igualmente!
O garçom nos trouxe a conta, pagamos e logo em seguida Helena se despediu de Walter com dois beijos na bochecha e um abraço e caminhou até nós.
H: Vamos?! – ela sorriu. Aquele sorriso estonteante que sempre grita em seu rosto quando ela está feliz... Ou pelo menos parecia estar.
L: Vamos! E esse sorriso todo, mãe?!
H: Ah, não sei... Deu tudo certo no nosso negócio e acho que é isso mesmo. – ela deu de ombros, mexeu no cabelo e saiu na nossa frente.
R: Tá na cara que não é só isso... Conheço sua mãe. – falei pra Laura enquanto Helena estava um pouco longe e não nos ouviu
Entramos no carro, novamente eu ia na frente, do lado de Helena, a pedido de Laura. Olhei pra Helena de canto de olho e tentei colocar minha mão sob a sua quando estava no controle da marcha enquanto Laura checava o celular, mas recebi um olhar de reprovação de Helena, que me fitou com os olhos e olhou seriamente pra mim.
R: Podem me deixar em qualquer lugar, pego um táxi e vou pra casa. A Barra é muito longe daqui. De qualquer forma, muito obrigada pelo almoço, filha. E você, Helena, pela carona.
L: Qualquer canto?! Nada disso, pai. O Rio está muito perigoso, o senhor vai com a gente lá pra casa e de lá pega um táxi.
R: Sua mãe não gosta da ideia, filha. De verdade, podem me deixar em qualquer local.
H: Eu não disse nada. Por favor, né, Ricardo? Acho que já somos bem grandinhos pra entendermos essas situações.
L: Viu, pai? Ah, e o melhor, a gente ainda pode curtir um pouco o calçadão, aí o senhor vai pra casa a noite... Dá pra gente ver o pôr do sol ainda!
R: Ok, Laura. Você venceu. Ih, é verdade. Que saudade daquele marzão, filha!! – Sempre gostei de mar, e sempre que pude levei Laura a praia, e a verdade é que ela também se amarrou muito nessa coisa...
Nesse momento, o celular de Helena recebe uma notificação. Vi que era Walter. Antes que eu visse tudo, ela retirou o celular do compartimento que havia entre meu banco e o dela para checar. Ao ler, ela sorri. Chegamos no apartamento delas, subimos, entramos no apartamento.
L: Pai, vou só colocar o bíquini, quero dar um mergulho! Espera que já volto. – Assenti com a cabeça.
Estávamos apenas eu e Helena na sala daquele lar que já foi tão nosso, que tinha nossas fotos espalhadas por todos os lugares. Hoje não tem mais. Estava olhando tudo, Helena percebeu.
H: Mudou, né?
R: Não tanto... Eu ainda lembro de tudo aqui. Ali – apontei pra mesinha ao lado do sofá – tinha uma foto nossa. Eu me lembro.
H: É, tinha mesmo. E ali – aponta pra parede – tinha um quadro que o Olívio te deu de presente.
R: Aquele quadro ainda está lá na parede da minha casa... Gosto muito dele. – Olhei fixamente nos olhos de Helena, vi um infinito de coisas, fui me aproximando dela.
H: Engraçado, né? A gente lembrar de tudo...
R: Sim. Eu também lembro de cada cicatriz sua, cada sinal...
H: Ricardo, por favor...
R: O que é que há, Helena? Foi você quem quis assim... Aliás, aquele teatro com o seu colega de trabalho foi horrível... Quer dizer, colega de trabalho. Anham, sei. Colega de trabalho.
H: Ricardo!! O Walter é apenas um colega de trabalho sim, fomos discutir sobre a nova reportagem que estamos fazendo na empresa. E aliás, você não tem nada a ver com isso. – ela arregalou aqueles olhos verdes e foi como se eu mergulhasse neles, segurei em seus braços.
R: Helena, eu consigo ver bem aí – aponto com a cabeça para seus olhos – que você queria sim que eu tivesse algo a ver com isso. Que você não queria ter aberto aquela porta – solto seus braços e aponto pra porta – naquele dia. Você pode deixar esse seu orgulho bobo de lado pelo menos uma vez durante esses dezessete anos? Meu Deus, Helena! Porque as coisas tem que ser tão complicadas assim com você?
H: Fala baixo, Ricardo. Não quero que a Laura escute essa conversa! As coisas tem que ser complicadas comigo porque sempre foram assim com você também.
R: Ah, e você acha mesmo que eu não vi o seu colega de trabalho te mandando mensagens enquanto vínhamos pra cá? Não, as coisas não são complicadas comigo e você sabe disso.
H: Ah, me poupa né?! E o que é que eu te digo? Que eu te vejo todos os dias acompanhado de uma loira que sempre está a usar meio metro de roupa? Se tem alguém aqui que não pode falar um ai dos meus relacionamentos, é você, Ricardo!
R: Ah, e o Walter já virou seu relacionamento? Mas não era só um colega de trabalho? E você sabe que a Susana só está comigo agora depois de muito tempo que passei te ligando, tentando conversar. Você sabe, Helena!
H: Tá vendo porque eu sempre evitei te encontrar, te ver, te atender? Tá vendo porque eu troquei de número e sempre saía antes de você chegar aqui em casa? Porque eu evitei ter te visto nesses últimos tempos? Tá vendo, Ricardo? Não dá, Ricardo. A gente nunca mantém uma conversa, no mínimo, civilizada.
R: Tô, tô vendo sim, o que eu vejo aqui é que mesmo depois de dezessete anos você ainda gosta de mim, gosta tanto que me evita, não quer me ver. Helena, tá na cara! Sabe o que é que eu vejo na imensidão desses olhos verdes? Meu reflexo.
L: Tá acontecendo alguma coisa aqui? Se quiserem, posso voltar pro quarto.
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Paralelas [CONCLUÍDA]
Fiksi PenggemarDuas linhas paralelas que podem até se cruzar. Helena, uma mulher desimpedida há 17 anos. Walter, um colega de trabalho. Ricardo, o pai de Laura.