OS KARAS EM: A DROGA DO ORIENTE [COMPLETO]

2 - MÚSICA SUAVE

Fora dado o primeiro sinal! A hora estava chegando...

Embora fosse sua primeira grande estreia, Calu estava confiante! Controlava bem a ansiedade e estava seguro de seu papel. Fazia muito tempo que estava se preparando para ele!

Amava a família, os amigos e muitos outros, mas pedira para, somente após a peça, entrarem em seu camarim. Já se sentia como o personagem e não queria se desviar daquilo. 

No entanto, seus pensamentos vez ou outra lhe desviavam e se colocava a pensar naquele querido e grande ator que falecera naquele mesmo teatro há tão pouco tempo que lhe parecera muito mais! O grande Solomon Friedman, assassinado friamente, pouco antes de entrar em cena, ainda lhe perturbava. Estar há tão poucos metros do local do crime não o ajudava também. Mas, precisaria se concentrar! Ainda que ansiasse pela presença do grande mestre consigo naquele grande e único dia, podia sentir que uma parte dele ainda vivia dentro de si! Os pensamentos e ensinamentos do grande Sol estavam nele, portanto, eles estavam juntos naquela noite...

"Vá lá e quebre a perna, Calu!" – pensara consigo mesmo. Era hora da atuação que marcaria para sempre a sua vida.

KKK

- O olhar do sono é só lisonja. E hoje, os sonhos só me deram coisas boas: o dono do meu peito, no seu trono, e um espírito estranho, o dia todo, me erguendo acima do pensar mundano: estava morto e via a minha dama, que me beijou com tanta vida os lábios que eu ressuscitei imperador! É muito doce o amor que se possui a si mesmo, quando é mais que doce a simples sombra desse amor tão doce...

Calu estava soberbo em seu papel... Logo na primeira fileira, os amigos o contemplavam, embora nem todos estivessem ali.

- E Miguel? Por que não chegou ainda? – preocupava-se Magrí.

No entanto, o líder do grupo estava ali. Estava atrás, fora da visão da garota e dos demais! Estava ali, mas sua mente não! Algo o estava perturbando nos últimos dias... Acreditava se tratar do fardo por ser o presidente do grêmio estudantil, mas principalmente, por ser o líder dos Karas. Aquele grupo de amigos que estavam se metendo em sérios perigos e que acabavam se expondo a outros. O que mais poderiam esperar dali para frente? E como manteria a união do grupo quando saíssem do colégio? Por certo, eles tinham interesses singulares, cada um se dirigiria a uma atividade diferenciada. Mas, eles não podiam terminar! Acreditava plenamente que o mundo precisava deles... O mundo precisa dos Karas e não poderia fraquejar! Sabia que a amizade que tinham seria eterna! O amor que unia o grupo era forte o suficiente para superar qualquer distância! Mas as coisas mudariam... Não haveria mais reunião no forro do colégio Elite, nem encontros semanais.

Naquele momento o ator dos Karas dava seu grande primeiro passo! Logo outro deles também daria e assim até sobrar apenas Miguel. Ele estava se sentindo só ultimamente. E não apenas por assim querer ficar... Mas, por acabar pesando tantos acontecimentos passados medindo-os com os acontecimentos presentes e calculando os futuros! Ele podia prever facilmente qual seria o futuro deles... Conseguiria mantê-los tão próximos como... agora?

KKK

Logo a peça acabara e Miguel ficara sentado por mais tempo que os demais. Sabia que seus amigos estavam com Calu, cumprimentando-o pela brilhante atuação, que, era óbvia em sua opinião. O amigo ator sempre fora fantástico no que fazia. Iria vê-lo assim que os amigos se retirassem. Não queria ser alvo de broncas naquela noite... Que esperassem pelo amanhecer!

Após cerca de uma hora do fim da peça, decidiu encaminhar-se compassadamente até os camarins. Possuía um convite especial que assim o permitia fazer, presente do amigo. Porém, fora informado que Calu já não mais ali estava. Por certo, saíra com os demais para comemorar. Estava sujeito a isso, por certo sabia, mas haveria tempo para cumprimentar o amigo. Ainda haveria!

Antes de se retirar, inconscientemente direcionou-se até o camarim no qual o grande Sol fora assassinado! A medida em que se aproximava, conseguia ouvir mais nitidamente uma suave melodia vinda de lá. Pensara que não estavam utilizando aquele camarim, muito menos, naquele horário. A porta estava entreaberta... Definitivamente havia alguém ali! Pôde contemplar por alguns instantes, não sabe ao certo quanto, uma jovem de não muita altura – era menor que Magrí e Peggy, cabelos negros ondulados, esbelta, delicada, que parecia estar ensaiando para um espetáculo de ballet. Se sentia bem ao observá-la... Talvez, bem até demais! Só parou de assim o fazer quando a mesma percebeu que não estava sozinha. A garota virou e cumprimentou o estranho com um largo sorriso. Tratava-se da atriz principal da peça daquela noite que já não estava maquilada e com o traje correspondente a Julieta! Não havia reparado em seus traços orientais e olhos claros durante a peça. Descendência Japonesa? Antes de qualquer resposta, Miguel curvou-se em cumprimento e se retirou. Estava enrubescido.