Convite

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Terminei o pedido de diversas metragens de tecidos e enviei por e-mail para o fornecedor, finalizando a última tarefa do dia. Eu estava me espreguiçando, sentindo um sorriso brincando em meus lábios, quando Shirley apareceu da copa segurando uma caneca e seu famoso café com espuminha de leite.

— Ai, Ley, diz que é para mim esse café, por favor! — eu implorei, e minha assistente balançou seus cabelos longos enquanto assentia com a cabeça. — Você é um tesouro na minha vida!

Shirley deu um sorriso tímido e foi até sua estação de trabalho, logo ao meu lado. Sua mesa obviamente era a mais próxima da minha, mas, no fundo, todo mundo trabalhava junto no segundo andar do escritório. Aquele andar do quartel-general da Wings era exatamente do jeito que as sócias haviam planejado: um ambiente amplo, com diversos pontos de trabalho, descanso e reflexão, como mesas, pufes, poltronas, por aí vai. Éramos três, no total: Luciana, presidente da empresa, relações-públicas, responsável pela administração e por mil coisas distintas e complicadas, e Sophia, a estilista responsável pela parte de alfaiataria e acessórios da marca. Era um ambiente amplo, sem divisórias ou barreiras.

A Wings era uma marca de roupas sem gênero, conhecida por trabalhar com numerações variadas, estampas exclusivas, em sua maioria muito coloridas, uma parte de alfaiataria e parcerias com diversos estilistas locais de acessórios. Até aquele momento, contávamos com vinte e oito pontos de venda, sendo doze lojas, oito somente no Rio de Janeiro, e dezesseis espaços pequenos, como quiosques em shoppings, ou inserções em lojas multimarcas.

Contratávamos os serviços de uma empresa terceirizada para cuidar da parte de recursos humanos, porém era minha função secundária verificar como andavam os vendedores das lojas do Rio duas vezes por semana, sempre com cuidado para não meter medo em ninguém. A principal era ser estilista/diretora de estilo e costureira. A segunda função de Sophia era ser responsável pela decoração e vitrine de todas as filiais, e Luciana também tinha seu pé no lado multitarefa, então, no final das contas, nós três vivíamos transitando pelos espaços ocupados pela Wings, logo, podíamos dizer com certeza que tudo ia muito bem, obrigada.

Parei de pensar no sucesso de nossa empresa e, com meu café com espuminha em mãos, praticamente me joguei em um dos pufes, o rosa-choque, que ficava ao lado da minha mesa. O dia tinha sido cheio, mas lembrei de um detalhe importante.

— Ley, chama o motoboy e peça a ele que leve as peças-piloto para a fábrica, por favor?

— Já estão prontas? Estavam previstas para semana que vem! — Shirley exclamou, parecendo surpresa enquanto sacava sua agenda e conferia as datas.

— Já, distraída, eu terminei mais cedo, ora bolas. Não me viu sumida ontem? Anda, vai lá. Aproveita e vê com a Luciana a performance da jaqueta que você desenhou, por favor. E pede pra gerente do Nova América forçar a vitrine da saia Ariel.

Shirley balançou a cabeça, o rosto corado, terminou de anotar o que eu havia pedido e foi embora, deixando a porta aberta, o que me chamou atenção.

— Ley, fecha a...! — pedi, mas Luciana entrou pela porta que nem um raio, assustando todos os presentes.

— Lena!! Sala de reunião. Agora!! — ela gritou e correu para o espaço, deixando todos espantados.

Luciana, Lula, para os íntimos, era uma coisinha pequena, magrinha, que parecia ser doce e meiga, mas que tinha dentro de si um furacão quando se tratava de trabalho. Era confuso que alguém tão pequenino conseguisse falar tão alto. Olhei para os outros funcionários, deixando evidente minha surpresa.

— Eu fiz algo de errado? — Ouvi algumas risadas e me levantei, agarrada na caneca como um adolescente com medo de levar esporro do professor. Odiava levar broncas de Lula, ela era tão assustadora quanto... Bom, quanto eu quando estava trabalhando. A vibe de "modo profissional ativado" era medonha.

Amor nas AlturasOnde histórias criam vida. Descubra agora