Pré-show

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Alguns dias depois da reunião, e eu passei de uma pessoa tranquila e feliz com o novo trabalho para uma pilha de nervos ambulante. Ainda que tudo estivesse pronto, as roupas estivessem arrumadas nos camarins da arena, os face charts e desenhos técnicos estivessem devidamente escaneados e disponíveis para mim e para Pierre em nossos e-mails e nós tivéssemos planos B (e C, D, E, F) para uma possível súbita mudança de temperatura, eu não consegui refrear a ansiedade. Isso porque nem era totalmente a minha função.

Conferi as horas no celular e suspirei. Faltavam quarenta minutos para a van que nos levaria à arena chegar, e eu ainda estava deitada na cama, de roupão, tentando controlar o nervosismo.

Chega, Lena! Levanta essa bunda branca, coloca uma roupa bem bonita e formal, enche a cara de maquiagem poderosa e vai lá arrasar corações! Você consegue!

Suspirei, tentando me convencer daquilo, e fui me arrumar. Vesti uma roupa formal, terno e saltos, borrifei um pouco de perfume e fui ao banheiro com meus estojos de maquiagem em mãos. Estar alinhada controlaria minha ansiedade e garantiria que nenhum pensamento infantil passasse pela cabeça nas horas seguintes.

Dez minutos depois, enquanto aguardava na recepção do hotel junto de Pierre, encontrei com Betty, Tony, Gab e Erika. Eu, que já havia entrado em meu modo profissional, não reagi à chegada de Gab, ainda que tenha visto quão lindo ele estava em seu terno bem cortado e seus óculos de segurança de rockstar. Ele, por outro lado, ergueu uma sobrancelha, fazendo uma cara de surpresa positiva ao ver minhas roupas, me fazendo sorrir sem querer.

— Tá gatona, hein? — Tony exclamou em português, e Betty e eu rimos, mas Erika e Gabriel continuaram sérios, cada um por um motivo diferente.

Chegamos à arena em poucos minutos, já que o hotel era próximo do local onde os shows aconteceriam. Respirei fundo ao sair da van — finalmente o primeiro show havia chegado — e imediatamente Pierre e eu nos separamos dos restantes e fomos organizar a seleção de looks para a noite.

— Lena, eles aprovaram a primeira escolha de roupas ou foi a segunda? — Pierre me perguntou, obviamente tentando me distrair enquanto abria sua maleta de maquiagem e espalhava seu conteúdo na penteadeira.

— Sim, aprovaram as outras também. Pode manter o plano A, a temperatura não caiu — respondi, totalmente séria enquanto organizava as peças certas nas araras com divisórias contendo os nomes de cada um pendurados em cabides.

Sendo sincera: tudo estava organizado já. Eu é que estava nervosa. Parecia uma iniciante, uma caloura da faculdade de Moda.

Jim, Tony, Aline e Diego entraram no camarim uma hora depois, conversando animados entre si. Pierre sorriu para Aline, que se sentou na cadeira reservada para ela e aguardou para ser maquiada. Tony, por outro lado, se maquiava sozinha, como já era costumeiro.

Com o tablet em mãos, fui até Diego e praticamente ordenei:

— Diego, você é o primeiro, pode ir se vestir. Suas roupas estão ali, me avisa se você precisar de ajuda com a camiseta, sei que ela tem furos demais. Quando terminar, me chama, preciso ver se o colete ficou bom, já que você não fez a segunda prova, como eu pedi — disse de modo rígido demais.

Diego ergueu as sobrancelhas e olhou para Tony, que apenas deu uma risada e levantou os ombros, como se dissesse "obedeça, fazer o quê?". Minha amiga me conhecia muito bem. Meio mal-humorado, ele foi se trocar atrás do biombo destinado a tal tarefa.

Abri meu aplicativo no tablet e chequei os acessórios que o guitarrista usaria, pegando-os na maleta e indo até o biombo. Dei a volta nele e observei Diego se trocar, totalmente distraído enquanto cantarolava uma música qualquer. Quando terminou, estendi as pulseiras e o colar para ele, que levou um susto ao me ver ali.

Amor nas AlturasOnde histórias criam vida. Descubra agora