Deixamos o hotel antes do anoitecer. Por causa de uma tempestade inesperada, o voo foi adiado para o período noturno, o que não era muito transtorno, já que são poucas horas da Bélgica até a Holanda, próximo destino da turnê.
Entrei no jatinho com o coração dançando um samba de raiz no meu peito. Só que dessa vez não foi só por causa do medo de enjoar, mas também porque eu não conversava com Gabriel desde o dia do acidente com a minha mão, então não teria o conforto de sua mão calejada e de suas perguntas inúteis para me distrair enquanto estômago fazia força para se esvaziar do pior modo possível.
Apesar de ter saído do meu quarto agindo como se tudo estivesse bem, Gabriel sumiu nos dias seguintes e não foi fazer turismo comigo, como combinamos, o que me fez pensar que ele talvez, quem sabe, ele estivesse me evitando.
Ainda que estivesse um pouco chateada com isso, não demonstrei nenhum tipo de descontentamento nas poucas vezes em que esbarrei no segurança da Sissy Walker nos almoços ou reuniões. Não sou de correr atrás dos outros, mesmo que eu estivesse errada. Além do mais, nós pedimos desculpas um para o outro naquela noite. O que mais era preciso ser feito? Mandar flores?
Nem é preciso mencionar que eu estava subindo pelas paredes. Muitos dias sem o Segurança, e não é como se eu estivesse no pique para procurar companhia em Amsterdã. Meu dedo ainda doía, eu ainda estava toda roxa e a lembrança passada de Gabriel agindo por impulso e me levando para um corredor do hotel para fazer sexo artesanal (ou seja, feito com as mãos) não me saía da cabeça, afastando toda e qualquer vontade de encontrar outra pessoa.
Agarrada à minha bolsa, me sentei no primeiro assento perto da entrada do jatinho, chequei meus curativos e a tala e fechei os olhos com força enquanto tentava me distrair das coisas que me aceleravam o coração. Tentei me lembrar da letra de uma música que ouvi no iPod de Pierre no dia anterior.
Comecei a cantarolar o refrão, quando alguém se sentou ao meu lado. Abri os olhos e vi Gabriel, vestido em seu uniforme e usando óculos escuros, com seu celular na mão e um pequeno sorriso no rosto. Olhei para ele, surpresa, mas não falei nada. Achei que ele se sentaria em outro lugar, não ao meu lado.
— O que foi, Costureira? Incomodo? — ele perguntou, agora com o rosto sério ao notar minha expressão.
— Não, nem um pouco, Segurança, pelo contrário. Me dá a mão — ordenei e estendi minha mão boa para ele, que sorriu e a envolveu em seus dedos grandes.
Respirei fundo, sentindo o alívio se espalhar pelo meu peito de ver que ele não estava com raivinha, e que eu teria sua mão trambolhuda para segurar minha barra.
— Eu devia ter comido aquela trufa... — ele comentou com um pequeno suspiro quando desligou o celular.
Olhei para a frente e sorri antes de falar:
— Se tivesse ficado no quarto, teria comido mais do que a trufa, mas nããããão... — brinquei e ouvi sua risada baixa e rouca.
— Aquela não foi uma noite muito boa, Costureira. Além do mais, a turnê só está começando, temos tempo de sobra para trocar trufas — ele disse enquanto ajeitava sua mão na minha.
Comecei a rir, mas parei imediatamente quando o avião começou a taxiar.
— Então, Lena, que música era essa que você estava cantando quando eu cheguei? — ele perguntou tranquilamente.
— Sweet About Me! Ouvi no iPod da Pierre e adorei! É da Gabriella Cilmi! Sabe que ela se parece com a Sophia? — quase gritei quando a decolagem começou e meu estômago se revirou — Apesar de que a Sophia tem cabelo curtinho desde sempre, e essa moça tem o cabelo longo...! Ufa... — respirei fundo quando o avião estabilizou e soltei a mão de Gabriel, que me deu um sorriso e foi ligar seu celular, como sempre fazia.
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Amor nas Alturas
RomanceO bestseller com quase 3 milhões de leituras na Amazon de volta ao Wattpad! :D Capítulos (praticamente) diários. Gabriel e Helena se conheceram durante um festival de rock. Ele estava a trabalho, ela era convidada de uma das bandas participantes. In...