Madrid

5.9K 536 144
                                    


— Sophia! Não se usa plano zenital numa propaganda de roupa!! Não é propaganda de chão, é de roupa!! Não me importa se só dura poucos segundos, o comercial tem menos de quinze, qualquer segundo importa! Sophia, não, eu não aceito. Tira essa cena. O resto você faz o que quiser, mas eu não quero plano zenital... Eu caguei para o nome! Não importa se é zenital ou plongê absoluto, Sophia, vai ficar ridículo! Sophia! Sophia!!

Irritada, olhei para o celular e vi que Sophia havia desligado. Dei um gemido raivoso e taquei o celular com tudo dentro da bolsa. Pronto, eu tinha virado o clichê de executiva estressada, quase quebrando o celular após uma ligação de trabalho estressante.

— Lena? Tudo bem? — Gabriel se aproximou e perguntou com cuidado. Levei um susto ao ver o Segurança do meu lado, no aeroporto, mas respondi com a voz controlada:

— Tudo, desculpa... É que minha sócia quer fazer uma coisa que eu não concordo, e eu sinto vontade de matar aquela vaca quando faz isso. Mas tá tudo bem, obrigada.

Gabriel assentiu com a cabeça.

— Tá pronta para viagem?

Fiz careta e respondi:

— Nunca estarei, eu acho. Qual é o seu lugar?

Gab sorriu e estendeu a mão para pegar a minha mala, mas eu ignorei e comecei a andar com ela na mão.

— Ao lado do seu, Lena. Aí você pode pegar na minha mão quando estiver com medo — ele disse, mas não parecia que estava zombando, apenas brincando.

Ainda assim, eu respondi com acidez na voz:

— Ah, que ótimo! Transar no avião a gente não pode, mas pagar de casalzinho ternura tá ok? Ok, vamos casar, então, aí todo mundo para de nos pentelhar durante a viagem. Quer filhos? Não sei se posso te dar um assim, tão imediatamente, mas podemos ir fazendo...

— Transar no avião? — ele perguntou, ignorando meu sarcasmo e me interrompendo.

Olhei para ele com os lábios franzidos enquanto entrávamos na sala de embarque.

Boca grande idiota que eu tenho!

— Você queria transar no avião, Lena? Era por isso que você me perguntava toda hora onde era o banheiro? — ele perguntou, tentando não rir. — Como você queria fazer qualquer coisa chapada de remédio do jeito que estava? Eu não quero soar como protagonista de romance erótico, mas eu preciso dizer que não curto necrofilia, Costureira.

— Desgraçado! — exclamei e fiz força para não o empurrar no meio do aeroporto de Barcelona, controlando minhas risadas. — Ok, acabou a magia. Nunca mais transaremos em lugar nenhum. Vai passar o resto da viagem sozinho. Ou vai ter que procurar companhia em cada uma das cidades. Imagina o trabalho?

Gabriel revirou brevemente os olhos, um sorriso no rosto, e colocou a mão nas minhas costas para que eu entrasse de uma vez no finger. Eu quase dei um salto ao sentir o contato, mas disfarcei dizendo que suas mãos estavam geladas — o que era impossível de saber, levando em conta que eu estava de casaco.

Não nos encontrávamos intimamente, digamos assim, desde a noite anterior à viagem para Barcelona, ainda na mansão de Betty. Não tivemos tempo: quando não estávamos trabalhando, eu estava dormindo. A primeira semana de shows foi muito cansativa, a ponto de eu nem ter saído com ninguém para conhecer a cidade, apesar dos convites de Betty e Pierre. Minha cama era mais convidativa do que um dia de turismo, preciso confessar, e eu precisava da cabeça descansada para estudar, recolher material, fazer pesquisas e tudo o mais pelo qual fui contratada.

Amor nas AlturasOnde histórias criam vida. Descubra agora