Primeiro café

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Acordei com o alarme do meu celular gritando e vibrando na mesa de cabeceira. Totalmente tonta de sono, me levantei, xingando mentalmente o raio do fuso horário. Mas como reclamações não lubrificam a máquina de costura, fui me arrumar assim mesmo. Havia muita coisa a ser feita naqueles dias antes de começar a turnê, não podia perder nem um segundinho sequer.

Tomei um banho morno — era fim de inverno em Londres, infelizmente não poderia tomar meus amados banhos trincando de gelados... —, fiz a finalização de sempre no cabelo, sequei e terminei de me arrumar, escolhendo um vestido confortável e meias de lã 7/8, as preferidas dentre várias.

Olhei para o relógio do celular e fiquei satisfeita ao ver que estava adiantada. Planejara iniciar os afazeres antes das nove horas da manhã, o celular marcava oito em ponto. Perfeito! Ainda estava meio lesada de sono, mas nada que um bom copo de café não fosse resolver.

Ajeitei as meias no lugar, apaguei a luz e saí do quarto, toda contente, empacando em seguida ao ver que estava tudo escuro na mansão.

— Ué, que horas o sol amanhece aqui, na hora do almoço? Oito horas e tá esse breu? — perguntei sozinha.

Fechei a porta do quarto, tentando entender o que estava acontecendo, e fui até a cozinha principal da mansão ver se encontrava alguém. Fiquei perdidinha ao entrar no cômodo e não encontrar nem um membro da banda, um funcionário, um cozinheiro, a governanta, qualquer um. Nada.

Conectei no wi-fi da mansão e procurei um daqueles sites que dizem a hora certa no mundo todo. Revirei os olhos e falei uns cinco palavrões ao perceber que provavelmente a queda no aeroporto (ou no quarto de Gabriel?) tinha avariado o aparelho: eram cinco horas da manhã. É óbvio que eu estava com sono, era um horário desumano de se acordar.

Bom, não tem tu, vai tu mesmo, né? Já tinha despertado, tomado banho e me arrumado. De nada ia adiantar deitar e tentar recuperar as três horas de sono perdidas.

— Gabriel tinha razão, pelo visto... Que toupeira eu sou.

Voltei para a ala dos funcionários e fui até a cozinha moderninha, dando a volta no balcão e procurando nos armários alguma embalagem de pó de café. Encontrei uma prateleira com três pacotes de café diferentes. Não conhecia nenhuma marca, então escolhi a que tinha "torra clara" escrito na embalagem, torcendo para que fosse boa.

Se tem uma coisa que eu entendo, além de tecidos e costuras, é café, e digo com propriedade que quem gosta de torra escura nem é gente. Eu prefiro não beber a ter que provar suco de carvão.

Depois de quase ferver a água, escaldei um filtro de papel antigo que encontrei no fundo do armário, coloquei o pó e inalei o aroma que o café exalou. Maravilhoso!

— Café de milionário, que beleza! — falei sozinha e, para completar, ainda ri de minha própria piada enquanto servia o café em uma garrafa térmica. Não adocei. Salvo alguns tipos, como o de Júlia, ou alguns cappuccinos, sempre tomei bebidas com cafeína sem nada. O açúcar costuma tirar o gosto divino de um bom blend, então eu sempre preferi o gosto real da coisa.

Sentei em um banquinho, apoiei os cotovelos na bancada da ilha, tomei um gole da bebida e suspirei de prazer. Que café divino!

— Tem café para dois nessa garrafa? — perguntou uma voz masculina.

Abri os olhos e olhei ao redor, vendo Gabriel entrar na cozinha, usando um de seus maravilhosos ternos e um de seus perfeitos sorrisos. Não reclamei nem um pouco de ter companhia, ainda mais sendo ele.

— Sim, pode pegar, acabei de fazer — disse, abaixando a caneca por um momento. — É um dos melhores cafés que eu já tomei na vida.

— É, dá para ver... — ele comentou, ainda sorrindo enquanto pegava uma caneca no armário e se sentava no banco em frente ao meu, a ilha entre nós dois.

Amor nas AlturasOnde histórias criam vida. Descubra agora