Bruxelas

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— Ei, Lena, quer dar uma volta comigo? Eu vi que tem um bar relativamente próximo daqui, uma gracinha! — disse Pierre ao entrar no meu quarto.

— Um bar... Hm... — Franzi os lábios, meio incerta de sair do hotel logo no primeiro dia na Bélgica. Eu tinha planos envolvendo as mãos de Gabriel entrando em partes minhas que eu não poderia revelar para Pierre assim, tão na lata. — Se eu te falar que estou com preguiça, você fica com raiva?

Pierre colocou as mãos na cintura e me olhou de cara feia.

— Ah, não! Você sempre arruma uma desculpa para não sair comigo! Sai toda hora com o Gabriel...

— Toda hora...? Eu só saí com ele algumas...

— E deu o maior rolê por Paris com a Betty e a Erika! E nem me chamou! Segundo mês de turnê, e eu só esperando você parar de me enrolar! Eu fiquei muito bolado por você ter ido sozinha ver aquela escultura bizarra em Zurique, a pedra que fica rolando por causa da água. Tá me devendo uma, anda, coloca aquele vestidinho de tecido escocês que você tanto gosta e vamos!

— Escultura...? Desculpa, eu não sabia que você queria ir... Mas, olha, eu nem falo francês... Se fala inglês na Bélgica? Eu não pesquisei antes...

— Eu sou fluente em francês, mon cher. Meu nome não é Pierre à toa, minha mãe é francesa. Pode me chamar de Sofie Fatale. Anda, se veste.

Olhei para ele enquanto refletia sobre o convite, mas acabei cedendo quando Pierre fez cara de cachorro pidão.

— Ok, eu vou, me convenceu. Tá frio lá fora? Passei o dia no quarto, nem faço ideia da temperatura.

— "Passou o dia", disse a mulher que chegou na cidade há menos de quatro horas... — brincou enquanto sentava na minha cama, rindo do meu drama. — Não, eu fui na rua comer qualquer coisa, não gostei do cardápio do hotel. Está fazendo uns quinze graus, acho.

— Quinze? Está um gelo! O inverno já chegou? Mas não era pra ser primavera na Europa? Como eu não congelei ainda?

Pierre cruzou as pernas na minha cama, ainda achando graça de tudo.

— Coloca o vestido que eu falei e um casaco por cima. O clima tá agradável, vai por mim, sua friorenta exagerada. Você é muito mal-acostumada com o clima tropical do seu país.

Fiz uma careta de sofredora, mas obedeci. Em quinze minutos, saí do banheiro maquiada, com o cabelo preso numa trança embutida e uma maquiagem leve.

— Tá ótima! Só tá faltando um batom, para dar uma cor. Espera, eu passo para você.

Pierre terminou de me maquiar, eu calcei meus saltos pretos preferidos e saímos juntos do hotel. O bar realmente era próximo, caminhamos apenas por uns dez minutos, no máximo.

Era um bar comum, sem nada que chamasse a atenção à primeira vista. Porém quando Pierre me puxou para sentar num dos banquinhos redondos de metal em frente ao balcão, vi onde estava o charme do local: um barman muito gato que fazia malabarismos com copos e garrafas.

Olhei para maquiador com os olhos semicerrados e disse:

— "Um bar bonitinho", né? Era só esse seu interesse? Sei... — zombei antes de tirar meu casaco para sentar. — Não sei como eu não... opa!!

Meu sapato escorregou no piso frio, me fazendo cair para o lado. Só não me esborrachei no chão porque um homem me segurou, me disse alguma coisa em francês e sorriu.

— O que ele disse, Pierre? — perguntei, ainda me apoiando no meu salvador.

— Ele disse para você tomar cuidado, que o piso daqui é meio traiçoeiro.

Amor nas AlturasOnde histórias criam vida. Descubra agora