Barcelona

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O restante da viagem se deu sem muitas novidades. As pouquíssimas horas de voo foram recompensadas pelas conversas amistosas com os outros membros da banda e, em especial, é claro, com Gab. Ainda que eu tenha garantido que estava bem, ele decidiu ficar ao meu lado durante o voo, o que me causou um misto de gratidão e birra. Fiquei feliz pela preocupação, mas também me senti um pouco encurralada.

Refleti, entretanto, quando olhei para ele lendo tranquilamente ao meu lado, em sua poltrona, que a sensação de aprisionamento talvez tenha sido desencadeada mais pelo fato de que eu estava num monstro de muitas toneladas, feito de aço e que voava, do que pela atitude de Gabriel.

Assim que chegamos ao hotel luxuoso em Barcelona, quase na hora do almoço, fui apresentada ao representante da gravadora, um senhor com cara de tiozão da Sukita, que seria responsável por alguns detalhes da turnê e que, segundo Tony, raramente aparecia. Ele me entregou um cartão e me explicou que aquilo era a chave do meu quarto, e eu precisei me esforçar para não responder um "jura, meu benevolente?".

Ouvi o chefão informando a todos que teríamos até às quatro horas da tarde para nos acomodarmos e, em seguida, me avisando que Pierre conseguira contratar um enfermeiro para a mãe e que seu irmão conseguira férias no trabalho para cuidar da mãe doente. Logo, ele havia conseguido pegar seu voo pouco tempo depois do nosso e chegaria em Barcelona em uma hora. Desse modo, eu poderia marcar uma reunião para nos conhecermos e conversarmos sobre os looks.

Em seguida, o tiozão do pavê, Rick, se virou para mim e complementou:

— Isso significa que você terá mais tempo para focar no trabalho principal: as pesquisas de tendência, os materiais para o documentário e a confecção ou conserto de roupas que possam aparecer. Pierre e você vão cuidar do figurino, mas foque naquilo que é mais importante: o trabalho de consultoria.

Assenti, me despedi dele, que simplesmente foi embora do hotel — segundo Tony, ele tinha seu próprio jatinho, então ficava indo e vindo nas turnês, sem necessidade de se hospedar em lugar nenhum.

Quando cheguei em meu quarto, meu queixo despencou: quanto luxo para uma passagem tão pequena na cidade! Tudo ali gritava dinheiro: da cama gigantesca aos lençóis egípcios de sei lá quantos mil fios.

A mesma coisa para o banheiro, cheio de granitos e dourados e perfuminhos e sei lá o que mais. Definitivamente, eu nunca me acostumaria com aqueles luxos todos. Porém, quando abri a cortina e dei uma olhada pela janela na vista deslumbrante e no céu lindo da Espanha, achei que poderia aproveitar um pouco aquela beleza toda sem ser tão chata.

Passei algum tempo organizando minhas coisas — Magic Manson ficaria na mesinha de canto do quarto — enquanto pensava nos horários que eu teria para conhecer cada cidade quando ouvi alguém bateu na minha porta. Assim que abri, vi Pierre, o responsável pelo estilo da banda, parecendo exausto.

Pierre era uma graça: olhinhos puxados, cara de menino Tumblr, magrelo e de tamanho mediano. Parecia um adolescente, mas, até onde eu sabia, era mais velho que eu.

— Olá... Lena, certo? Peço desculpas por essa confusão, mas eu nem deveria estar aqui... Acabei conseguindo vir.

— Não, imagina! Quer entrar ou topa um café no restaurante do hotel?

Pierre pareceu contente pela sugestão e me acompanhou até o local. Tratava-se de um restaurante muito bonito, mas com aquele tipo de decoração e arquitetura que prezam a beleza acima de tudo. As cadeiras eram um horror, de tão desconfortáveis.

— Escuta, Lena... — ele começou, tirando a minha atenção do cardápio. — Essas cadeiras são ruins de sentar, ou sou eu que sou muito chato?

Dei uma risada e balancei a cabeça negando.

Amor nas AlturasOnde histórias criam vida. Descubra agora