Quando negamos um sentimento ele não morre, apenas vai gradualmente adormecendo, e um dia desperta de súbito.
Nina, não era uma pessoa difícil de se lidar, mas sim de se compreender. Apaixonou-se na maioria das vezes por pessoas que destruíram a fé que ela depositava no amor, mas ela não as culpava.
— Eu não posso culpá–lo, quantas vezes eu não fiz o mesmo? Eu pedia pra que ele fosse gentil, e quantas pessoas não pediram a mim o mesmo, que eu fosse gentil… e eu não fui.
Ela sabia que era à única responsável pelos sentimentos que alimentava, ela era à única responsável pelo amor que sentia.
Nina, não era uma mulher romântica, ela apenas amava, e quando amava esse seu lado romântico vinha a tona com maior intensidade. Na maioria das vezes ela gostava do beijo, do corpo, da transa, mas não da pessoa. Ela costumava chamar esses casos de "passageiros", ela era um ônibus, as pessoas viajavam dentro dela, mas tinham que descer cada um no seu ponto, pra ela seguir a diante. Alguns "passageiros", como Bruno , ela gostaria que tivessem ficado mais tempo, mas aquele era o ponto dele e ele desceu. Não poderia culpá-lo.
Nina, não teve apenas momentos ruins na sua vida, não foi apenas partida e partiu pessoas, ela foi feliz, mas ela sempre teve maior tendência à lembrar momentos ruins, e acabar por ignorar os bons. Algumas pessoas tem atração por aquilo que destrói, que faz doer, e isso as fazem chorar, mas ao mesmo tempo as fazem sentir vivas. Grandes doses de uma bebida amarga e você sente partes do seu corpo que nunca havia sentido antes.
Em um diálogo com Gabriel — que era a princípio um estranho, mas que mais a frente se tornaria algo maior, maior do que ela mesma poderia suportar — ela disse:
— É assim que me sinto, feliz por estar triste.
— Eu não consigo aceitar que alguém goste de estar triste.
O que Gabriel não sabia é que a tristeza só faz mal quando ela não é aceita como parte da vida, ela ainda vai doer, mas um dia você vai compreender que ela precisa ser sentida por inteira, pra então você ter algumas horas de paz.
Nina, compreendeu isso com 18 anos, a tristeza que tanto lhe fazia mal precisava ser sentida e não rejeitada, ela só não esperava que fosse gostar tanto dela, e ela fosse fazer parte de praticamente… toda sua vida.
Ninguém que conheceu Nina rasamente diria que ela era uma pessoa triste, ela aparentava ser positiva em relação a vida, as situações ruins, dava bons conselhos e sorria, sorria muito. Feliz, era assim que ela poderia ser lida exteriormente.
Mas se você à olhasse mais de perto perceberia que ela não era o que aparentava. Porém, poucas pessoas chegaram tão perto assim dela, não porque ela evitasse contato, mas por falta de interesse.
Nina era interessante, era maior que seu bom humor e seus trocadilhos, mas faltava alguém que percebesse. Que a observasse mais de perto sem medo.
Bruno, a viu dessa forma apenas uma vez, e ele ficou assustado.
— Isso é muita informação pra mim.
Daí em diante ela não falou mais de sí.
Os sentimentos que ela nutria por Bruno, ainda existiam, silenciosos e intensos, mesmo com tudo que havia acontecido.
E em suas conversas interiores, ela prometia a sí mesma, que se livraria deles. Afinal, de quê servia um sentimento ímpar? Causar mais estragos interiores, apenas.Volvi para mi casa, para mis miedos antiguos
para mis viejas dudas, para mi conocida
soledad.Simonami.

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Nina
ChickLitÁs vezes em uma única mente existem centenas de outros "eus", tendo cada um deles sua história, sentimentos e comportamentos específicos. Eu suspeitava que existiam outros "eus" dentro de mim. E um dia os conheci. Este livro fala sobre "Nina", e e...