Nina

6

Acumulamos momentos como acumulamos lixo, e estava na hora de tirá-lo para fora.

— Eu preciso fazer uma limpeza interior, preciso me afastar das pessoas que são tóxicas pra mim. Me desculpe se eu não falar com você por uns dias.

— Eu sou uma delas?

— O que você acha?

Gabriel apenas ficou em silêncio, Nina entrou no ônibus e foi embora.
Uma coisa que Nina gostava era o transporte coletivo que sua cidade oferecia, os ônibus eram bonitos e tinham sacolinhas plásticas pra caso você tivesse enjôos e enfim… ela nunca vomitou no ônibus, mas sempre pegava as sacolinhas do ônibus, pra quê? Não sei, nem mesmo ela sabia.
Ela também pegava pedrinhas que ficavam em vasos das lojas, essas tinham um destino certo, ela pintava nelas. Apenas duas pessoas receberam pedras pintadas por Nina, Cadú e Beatriz. Os dois partiram da vida dela. Mas isso não importa, não agora.

O que seriam pessoas tóxicas?
Pra Nina eram pessoas que ela amava muito, ou gostava ao extremo e não faziam bem pra ela, por exemplo, aquelas pessoas que se mantém na sua vida só de enfeite, mas você gosta delas muito além disso, então sofre por elas não serem mais do que pessoas vazias, e por não saírem da sua vida espontaneamente. Pessoas que te mantém acorrentado, mas sem correntes reais, e sim correntes emocionais.

Nina tinha uma sinceridade tão grande, que as vezes chegava a ser indelicada, e depois quando percebia suas indelicadezas, se arrependia por ter agido daquela forma. Ela não era má.

Sentia-se culpada por ter tratado Gabriel daquela forma, chama-lo de tóxico não era algo legal de se fazer, mas era verdade... uma verdade que doía no coração de Nina.

Não se desculpou com Gabriel, dizer a verdade não era algo pra se desculpar.

Quando chegou em casa Nina recebeu uma mensagem de Gabriel, ele dizia o seguinte:

“É… eu acho que não devia falar mais contigo, já que sou uma pessoa tóxica pra você, mas eu acho que você deveria pensar mais sobre você ser muito frágil e por isso achar que as pessoas são tóxicas.”

Como ele podia dizer isso?
Nina, realmente era uma pessoa frágil, mas não a ponto de não saber diferenciar uma pessoa tóxica de um sentimento que ela tinha e que era frágil demais pra suportar outra pessoa.
Os sentimentos de Nina eram fortes, intensos, suportavam tudo, mas até certo ponto… o ponto em que não era mais suportável, onde não cabia mais lixo na lixeira. E Gabriel tinha acabado de encher a lixeira com aquelas palavras.

Nina, tantas vezes se perguntou por quê ainda conversava com ele, por quê ainda gostava dele… lembrava agora de uma conversa - nada agradável - que teve com ele.

— Você é muito sentimental, isso é chato.

— Eu sou chata por ter sentimentos?

— Não, você é chata por sentir demais por tudo.

Naquele dia Nina cogitou mudar, ela era chata por sentir muito e não queria ser uma pessoa chata, ela queria que Gabriel à achasse legal, não por aprovação, mas por gostar dele. Mas ela não sabia como ele tinha percebido aquilo, ela pouco demonstrava que gostava dele, pouco falavam sobre sentimentos.
Talvez tivesse transbordado sem perceber.

Quem é mais sentimental que eu?

Los Hermanos.

Na sua receita de "detox emocional" não cabia só evitar Gabriel, haviam outras pessoas, pessoas que Nina amava, mas que não faziam bem à ela. Como deixar essas pessoas pra lá? Como lutar contra o amor?

Pra ela era simples, pôs em sua mente que tudo que lhe enfraquecia deveria sair das suas memórias: à força, contra vontade! E todas as vezes que sentia saudades de alguém tóxico e pensava em mandar uma mensagem, ela dizia em voz alta pra sí mesma: NÃO!
E fim de papo.

Ficava triste? Sim.
Ficou mais forte após essa limpeza emocional? Também.