Haverão dias em que sua vida vai pesar, suas costas vão se curvar — ainda mais — em direção ao chão, e ele desaparecerá por baixo de seus pés, então... queda livre e infinita.
Preste atenção, querida... de cada amor tu herdarás só o cinismo, quando notares estás à beira de um abismo, abismo que cavastes com os teus pés.
Cartola.
Nina estava feliz, sim, finalmente um dia feliz na vida de Nina. Ela havia reatado com sua melhor amiga, isso deu a ela uma sensação de alívio, um alívio que não sentia há muito tempo.
Beatriz, era mais que importante em sua vida, era essencial, era ar e seus pulmões precisavam dela.
Voltou a sentir o ar leve, a respirar com facilidade.
Tudo estava esclarecido, Beatriz nunca quiserá machucar Nina.Contudo, é breve a alegria, você sabe, não sabe? Instantes breves de ar puro e depois em um elevador fechado, claustrofobia.
A relação das duas nunca mais seria a mesma, por mais que Nina quisesse, agora havia algo à mais, um outro alguém na vida de Beatriz. Contudo, Nina aceitou que havia sido destronada e vagaria pelo reino (cidade) como uma simples camponesa.
— É uma nova fase na vida dela. E ela não precisa mais de mim.
É no mínimo curioso como as coisas acontecem, Nina havia perdido seu posto no coração de Beatriz e assim mais coisas ruins começariam a acontecer.
— Você é uma drogada! Por isso anda tão nervosa e pelos cantos!
Era sua mãe. Há anos a família de Nina acreditava que ela usava drogas ilícitas, agora havia se tornado mais sério, as paranóias tomavam grandes proporções e se tornavam insuportáveis para ambas as partes.
Se você se questionar sobre Nina usar drogas, a resposta é: não.
Nina estava apenas triste, como diz uma música da banda Legião Urbana:
Parece cocaína mas é só tristeza.
Nina apenas fumava cigarros e aguardava ciente seus efeitos colaterais.Quando a mãe de Nina discutia com ela, ela se tornava um excesso de pontos de exclamação. Indignava-se. Gritava. E por fim, a dor, as lágrimas, o vazio, um sentimento de rejeição que aparecia somente naqueles momentos e também havia os flertes, flertes com a morte.
Aproveitadores, assim ela definia sua família. Mas ela os amava e por fim, perdoava.
Contudo, ela era uma estranha no ninho.Nina era assim, perdoava fácil, meia dúzia de palavras e ela lhe aceitaria de volta. Não gostava de complicar ainda mais o problema.
— Se ela está arrependida, por quê eu não deveria perdoa-la? Eu a amo.
Falava sobre Beatriz... tão feliz e sem perceber, indo novamente em direção ao chão.
Você não sente pena de Nina?
Eu sinto.
Ela era tão boa pros outros e esquecia de sí mesma. Você já fez isso com você mesma?
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Nina
Literatura FemininaÁs vezes em uma única mente existem centenas de outros "eus", tendo cada um deles sua história, sentimentos e comportamentos específicos. Eu suspeitava que existiam outros "eus" dentro de mim. E um dia os conheci. Este livro fala sobre "Nina", e e...