E há coisas que só vê quem se interessa, pequenos gestos me fazem suspirar.
Daniel Groove.
Quantas coisas não passaram despercebidas por você?
Eu nunca saberia responder essa pergunta com exatidão, mesmo que eu ainda preste atenção na maioria dos detalhes, algo sempre passa despercebido.
Porém, existem coisas que não vemos, e não é por descuido, mas sim por puro e sincero desinteresse. As vezes me pergunto quantas pessoas não foram feridas por ele, talvez você já saiba, mas lhe digo mesmo assim, o desinteresse é o oposto do amor, nunca o ódio. O ódio é um sentimento que não se encaixa como o oposto do amor, já que ele também pode ser intenso. O desinteresse é frio, o amor é quente.E o que leva uma pessoa a se desinteressar por alguém?
Se souber, caro leitor, me conte… porque eu passei anos tentando descobrir e fracassei.
Eu nunca sei dizer porquê não amo mais alguém que um dia foi o centro do meu universo, até mesmo aquelas pessoas que um dia me causaram febres de amor… acabavam por cessar, e eu não entendia o porquê.— Ele te magoou, talvez seja por isso que não tenha mais interesse nele.
Era uma hipótese, Beatriz sabia de todos meus amores falidos e muitas vezes criava teorias sobre meu desinteresse repentino, desinteresse por quem outrora eu cogitava vender minha alma para tê-lo. Obsessão é também um ácido corrosivo.
— Mas ele me magoou e eu continuei amando-o, até que um dia eu acordei e não sentia mais nada, e era quando tudo estava indo bem.
— Quem sabe você não amava ele de verdade.
— Ah, Beatriz! Todos amores são reais, até mesmo aqueles que são sentidos só por uma pessoa. Amores ímpares. Nenhum amor é de mentira, ele existe e um dia deixa de existir, ele se esgota, mas um dia existiu.
Sinceramente me incomoda muito essa teoria que amores que acabam, é porquê nunca existiram, quem foi o tolo que disse que a vida toda é uma mentira? Porquê você já deve ter percebido que tudo acaba.
Mas não é só de amores que é feita minha vida, há muitas outras coisas, coisas que esqueço de contar, porque o amor se tornou uma obsessão pra mim. Não dá forma que imagina, eu não saio por aí buscando desesperadamente um amor, e eu também não espero por ele, mas ele sempre acontece.
Certa vez, uma amiga me perguntou, se eu achava que alguém compraria um livro que só falasse de amores, claramente ela queria dizer que eu devia escrever sobre outros assuntos, mas e o que há de mais assustador e adorável que o amor? Talvez você pense em inúmeras coisas, eu também pensei, então… talvez eu esteja tentando esconder que nem eu mesma sei, o porquê escrevo tanto sobre ele.
Mas voltando ao desinteresse, certa vez perguntei ao Gabriel.
— Você olha pro céu à noite?
— Não, e não entendo porquê deveria olhar.
Isso é desinteresse, puro e sincero.
Naquela madrugada eu queria dar uma estrela a ele, mas ele se antecipou e me presenteou com seu desinteresse.Então eu escrevi esse texto:
“ Somos feitos da mesma matéria, porém não sentimos o mundo da mesma maneira.
Enquanto observo as noites estreladas, você anda cabisbaixo pela madrugada, ignorando as estrelas que te observam.
Eu lhe amo, você não entende nada sobre, e não tem curiosidade em saber. Está bem como está.
Eu sinto muito, você sente muito por eu sentir tanto. Nunca quis me magoar.
Eu sou vítima de uma armadilha criada por mim mesma e estou presa nela. Quando criamos armadilhas, nunca pensamos em como vamos sair delas, sozinhos não conseguimos, alguém precisa nós resgatar, mas você não vem, está preso em seu labirinto particular.
Você é direto, enquanto eu faço rodeios e tento te cativar, não chega a ser humilhante pra mim porque só estou sendo o que sou.
Eu te distorci, e criei o ser perfeito na minha mente, nela você se encaixa tão bem em mim, mas fora dela você é como é, nada parecido com o que projetei, mas ainda assim costumo te interpretar de forma errada para que se assemelhe ao menos um pouco, com o que eu desejo que você seja.— Você não é real. Meu amor não é real.
Mas eu gosto de você assim, dentro da minha cabeça.”
Eu neguei, neguei muito, mas meu amor por Gabriel existia. Contudo, um dia também deixou de existir. Como tudo que vive, e morre.
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Nina
ChickLitÁs vezes em uma única mente existem centenas de outros "eus", tendo cada um deles sua história, sentimentos e comportamentos específicos. Eu suspeitava que existiam outros "eus" dentro de mim. E um dia os conheci. Este livro fala sobre "Nina", e e...