— Algo aconteceu, eu estive fora? Não sei explicar, mas de alguma forma sinto que Gabriel esteve aqui. Porém, já faz uns dois meses que ele não aparece. E por quê ele apareceria?
Nina estava confusa, e eu também estava.
Desde que ela despertou para escrever sobre sí mesma, e se perdeu a ponto de falar demasiadamente sobre Gabriel, sentíamos como se ele tivesse retornado, despertado.Eu sinceramente odiaria descobrir que ele voltará, ele não fazia bem para Nina, nem para mim. Indeciso e covarde...
"Existe a dor da perda, quando alguém que se queria muito — muito perto — vai para longe — muito longe — mas também, depois de alguns meses você irá descobrir que não poderia ser de outra forma."
Nina esperava que fosse assim. Você também um dia deve ter esperado uma ferida emocional cicatrizar, não é? Mas ao mesmo tempo colocava o dedo no ferida, arruinando-a, quando Nina falou de Gabriel, ela pôs o dedo fundo na ferida, e agora ela doía. Justo.
Para uma boa cicatrização é necessário manter o machucado limpo e deixar a ferida “respirar”. Foi isso que Nina decidiu fazer, quando resolveu que deveria ir passear, mesmo ficando com um nó no coração por deixar seus gatos por uma noite sozinhos em casa. Ela se apegava, em tudo e com tanta força, que cada despedida cortava em tirinhas seu âmago.
Mas ela iria, estava planejado, iria sair com Beatriz e seu namorado, e talvez encontrar Dâmi. Ah… Dâmi, que parecia cada dia mais distante.Planejou isso na quarta-feira, era necessário preparar-se psicologicamente para sair, adentrar o mundo sórdido que existia lá fora, precisava criar forças, vestir sua máscara. Ela sentia ansiedade o que à impulsionava a sair, porém haviam resquícios de depressão, estes que ela negava, e isso a afundava na sua cama. Consegue imaginar isso? Haviam duas forças, uma fazia com quê ela sentisse vontade de viver a vida intensamente, e a outra de dormir a vida inteira. Vitalidade e cansaço. Ânimo e desânimo. Tudo ao mesmo tempo.
Chegando na sexta-feira, ela já havia desistido umas treze vezes, voltado atrás e desistido novamente.
Ninguém sabia a bagunça que ela era por dentro.No sábado, pela manhã ela sentia que algo ruim aconteceria se ela saísse, decidiu ficar em casa. Já pela tarde, não sentia mais nada negativo só um cansaço, sonolência. Ao entardecer recebeu uma mensagem de Beatriz, ela perguntava que horas iriam se encontrar… Nina não respondeu, resolveu ler um livro, mas não tinha concentração, adormeceu.
Às onze horas da noite, ela sentia-se sufocada em casa.— Oi, Beatriz?
— Nina, não recebeu minha mensagem? Você está aonde?Beatriz estava feliz, sua voz demonstrava isso.
— Não recebi, estou em casa e você?
— Aqui na praça, vai vir aqui?
— Hum, acho que sim. Quem está aí?Beatriz falou o nome de algumas pessoas que Nina conhecia, pessoas que gostavam dela, e ela decidiu ir. Foi até o armário procurar uma roupa, sentou-se no chão e ficou lá. O chão parecia tão confortável, tão convidativo, ela afundou-se, dessa vez no chão do seu quarto.
*
Nota: Se você desconfia que tem sintomas de depressão, procure ajuda de um profissional, não deixe o caso se agravar.

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Nina
ChickLitÁs vezes em uma única mente existem centenas de outros "eus", tendo cada um deles sua história, sentimentos e comportamentos específicos. Eu suspeitava que existiam outros "eus" dentro de mim. E um dia os conheci. Este livro fala sobre "Nina", e e...