1. I am the result of rape

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1. I am the result of rape

Minha mãe tinha 18 anos na época em que foi estuprada. Ela não foi a única que sofreu este tipo de violência na família: tenho uma tia que também foi humilhada e estuprada por mais de um homem, mas não teve frutos disso, a não ser o trauma e a vida quebrada.

Somos de uma cidade muito pequena no interior de Charlottetown. Ela  havia saído com minha tia para dançar em uma matinê e, quando voltou  para casa, sofreu agressão física muito brutal do meu avô, que era militar e  muito rígido com regras e com relação às filhas saírem de casa. A  família era muito grande - eram 5 filhas no total - e havia muita  preocupação com relação as filhas ficarem mal faladas.

Minha mãe ficou desesperada depois da surra que tomou e decidiu fugir  de casa com minha tia. As duas estavam muito machucadas e vulneráveis e  se sentaram desoladas nas escadarias da Catedral no centro da cidade,  onde estes dois homens se aproximaram de forma amigável e ofereceram  amparo. Elas inocentemente aceitaram e foram passar a noite na casa  deles, onde haviam mais homens. Foi quando toda a violência física  ocorreu. Minha tia era mais forte e conseguiu fugir, mas minha mãe não  conseguiu e foi violentada por mais de um homem. Somos tão parecidas  fisicamente que ela mesmo lamenta o fato de nem sequer saber qual deles é  meu pai.

Essa história afetou minha vida e a relação com a minha mãe por muitas razões. Ela não tinha a menor estrutura emocional de ter um filho sob aquelas condições e naquela idade. E eu nunca me senti desejada. Minha infância ficou quebrada e minha vida incompleta. Só soube dessa história quando tinha 11 anos. Até então, ela dizia que meu pai havia morrido num acidente enquanto ela estava grávida, o que eu sempre achei estranho, pois nunca havia visto uma foto ou algum registro de que ele realmente existira.

Acho que nesse caso é visível que a ignorância gerou tudo isso. Se ela tivesse mais abertura em casa e direito de expressão, mais compreensão da parte dos pais, nada disso teria acontecido.

Minha mãe se casou com um homem quando eu tinha 4 anos, ele ocupou o lugar de meu pai na minha vida, sempre me deu carinho e a atenção que minha mãe nunca me dava, eles tiveram uma filha chamada Camila, minha mãe a ama, sempre me deixou de lado, mas isso, de certa forma, não me incomoda mais.

Iremos nos mudar para Atlanta em breve, em busca de mais oportunidades, estamos passando por momentos muito difíceis, meu pai está com  Creutzfeldt-Jakob, uma doença degenerativa rara e fatal, provocada pela transmissão de uma proteína chamada príon. Ela afeta o sistema nervoso central e provoca tremores, perda de memória, convulsões, paralisia facial - dando a impressão de que o doente está sempre sorrindo - problemas motores e rigidez muscular.
Não tem cura, mas existe tratamento que pode fazê-lo melhorar.

Bad Things - J.BOnde histórias criam vida. Descubra agora