Quando Júlia acordou, o primeiro pensamento que ela teve, foi de como queria que aquela cena se repetisse por mais vezes e que por mais que ela tivesse bebido na noite passada, ela se lembrava de tudo.
Inclusive das suas últimas palavras antes de dormir. E o que mais a assustava, era que ela não se arrependia de nada. De nenhuma palavra e de nenhuma atitude.
O segundo pensamento foi: se lembrar de levar um Dorflex sempre em sua bolsa, porque sua cabeça parecia que iria estourar.
Antes de se levantar para procurar algum remédio para sua dor de cabeça, a ruiva olhou bem para Henrique e teve a sensação de Djavu. Ele dormia tranquilamente enquanto a ruiva observava cada detalhe, cada linha do seu rosto.
Nesse um ano que eles estavam separados, a coisa que ela mais sentia falta era o de acordar e poder observar o moreno enquanto dormia.
Durante anos, enquanto Júlia o observava, ela havia percebido várias variações de Henrique.
Quando algo o preocupava, durante o sono ele ficava com uma ruga no meio da testa e seu sono era tão fraco, como de um cão de guarda.
Quando estava feliz, ele dormia com um pequeno sorriso no canto dos lábios e sua respiração era tão pesada, que parecia que ele iria roubar todo o oxigênio do mundo para si.
Mas naquela manhã, Júlia não conseguia decifrar o rosto do amado e isso lhe chateou. E se perguntou, se aquele ano que eles ficaram separados estivesse apagando todas as lembrava de que eles tinham juntos.
Levantou-se da cama com cuidado para não acorda-la e se dirigiu para o banheiro. Trancou a porta e parada na frente do espelho, ela chorou.
Chorou abraçada na blusa que era dele e que ela havia pego para dormir. Chorou pelas lembranças esquecidas, pela saudade das carícias, pelo fim do casamento e por ter assinado o papel do divórcio.
××
Quando Lídia abriu a porta, encontrou uma amiga desesperada, chorando as lágrimas que já não tinha mais e nas mãos segurava um envelope pardo com tanta força, como se a sua vida dependesse daquilo.
E bom, uma grande parte dependia.
— Ele assinou. Ele assinou.
A moça abraçou a amiga e depois a colocou para dentro de casa. Fez uma mistura de água com açúcar e entregou para a ruiva, na tentativa de acalma-la.
— Você pediu o divórcio, Jú. O que queria que ele fizesse? - A amiga perguntou enquanto tentava melhorar a situação. Lídia conhecia bem o casal e sabia que na mesma intensidade que eles se amavam, eles brigavam.
— Que ele não assinasse! Se ele não tivesse assinado, eu também não teria. Essa era minha esperança, minha última esperança... - A ruiva confessou, enquanto tentava se manter calma.
— Talvez tenha sido melhor assim, Ju. Vocês estavam brigando muito, mais do que o normal. - Lídia tentou argumentar.
— Você não entende, não é? Eu amo o Henrique, eu amo e sempre vou amar.
××
Quando o moreno acordou, Júlia já não estava mais no quarto. O lado de cama que ela tinha dormido estava vazio e a camisa que ela tinha usado, estava dobrada em cima da sua mala.
Levantou-se e preso no espelho do banheiro, encontrou um recado deixado por ela, avisando que estava no restaurante do hotel. Henrique tomou um banho rápido e depois desceu para o café dá manhã.
Encontrou uma Júlia rindo ao conversar no celular com alguém. O moreno passou direto para a mesa de comidas e fez seu prato com o que comia todos os dias.
— Vai comer só isso? - Júlia perguntou assim que ele sentou-se à mesa - Você comia mais do que isso...
— Isso é café? - Perguntou olhando para o copo de Júlia e ignorando o que ela tinha falado.
— Descafeinado.
O moreno fez uma careta e Júlia riu.
Ele amava café;
— Henrique - Júlia chamou enquanto o moreno colocava um pedaço grande de mamão na boca.
Exagero. Pensou.
— Sim?
— Me conta o que aconteceu desde que a gente se separou?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Km 70
RomanceCOMPLETA Júlia e Henrique foram casados por cinco anos antes da separação conturbada, que resultou em uma grande briga que nunca tem fim. Porém, eles são obrigados a embarcar em uma viagem de carro, para conseguirem chegar a tempo do casamento dos...