Júlia equilibrava bem o pote de esmalte entre os joelhos e pintava suas unhas com cuidado enquanto Henrique reclamava do cheiro forte de acetona que empestava o carro.
— Para de ser reclamão. - A ruiva falou com um sorriso nos lábios
— Esse cheiro me dá dor de cabeça, Jú - O moreno falou sem perceber que tinha chamado sua ex por um dos apelidos que ela mais gostava.
— Pronto seu chato, terminei. - Ela respondeu limpando por fim a unha e assim como ele, também não percebeu como Henrique a tinha chamado.
— Ainda tô' me perguntando por que você não fez a unha antes de sair de casa. - Reclamou mal-humorado.
— Na verdade eu fiz, mas não gostei da cor.
Ele a olhou incrédulo e balançou a cabeça negativamente. O dia enfim chegava ao fim e a vista que os dois dias do horizonte era de um céu com poucas nuvens e no tom alaranjado que acabava deixando o carro no meio tom que o céu tinha.
Henrique olhou para o lado no mesmo instante que Júlia soltava o rabo de cavalo que até pouco tempo prendia suas madeixas ruivas e quando o cabelo dela foi por fim solto, o moreno jurava que nunca a tinha visto mais linda.
O avermelhado do por do sol quando tocava seus fios vermelhos os deixavam ainda mais brilhantes. A dona do cabelo ruivo o olhou com um sorriso no rosto e depois voltou a olhar para frente, mas não por muito tempo. Por que logo ela voltou a olhar para Henrique e gritou.
— Olha pra frente!
Quando o moreno fez o que Júlia pediu, deu de cara com a traseira de um caminhão e rapidamente jogou o carro para o acostamento e pisou com força no freio.
— O que você tem na cabeça? Titica de galinha?
Henrique estava mais gelado do que o normal, suas mãos estavam tão apertadas ao redor do volante que os nós de seus dedos começavam a ficar brancos. Ele a ouvia gritar e reclamar ao seu lado, mas em sua cabeça só estava à cena que acabará de acontecer.
O pôr do sol estava lindo;
O cabelo dela mais ainda;
Ele ainda a amava;
E quase bateram em cheio na traseira de um caminhão.
Júlia continuava a gritar com toda a força o quanto Henrique era maluco, desatento e irresponsável, enquanto o moreno tentava controlar a respiração antes que alguns dos seus ataques de pânico começassem.
Respirando fundo e pausadamente, ele abriu a porta do carro, deu alguns passos a frente e se inclinou apoiando-se sobre os joelhos tentando se lembrar das instruções que a enfermeira lhe tinha dado.
Respirar e inspirar.
Júlia saiu de dentro do carro batendo a porta e continuou chamando o moreno de louco.
Respirar e inspirar.
Júlia continuava a gritar com ele, agora parada em sua frente com os braços cruzados abaixo dos seios.
Respirar, inspirar e procurar algo em que focar para poder se estabilizar.
— Henrique? Você está me ouvindo?
Respirar, inspirar e procurar algo em que focar para poder se estabilizar.
Júlia segurou o rosto de Henrique entre as mãos fazendo com que ele a olhasse.
Respirar, inspirar e procurar algo em que focar para poder se estabilizar.
— Você está bem?
Henrique olhou bem naqueles olhos azuis que ele tanto amava e então a beijou.
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Km 70
Roman d'amourCOMPLETA Júlia e Henrique foram casados por cinco anos antes da separação conturbada, que resultou em uma grande briga que nunca tem fim. Porém, eles são obrigados a embarcar em uma viagem de carro, para conseguirem chegar a tempo do casamento dos...