CAPÍTULO QUATRO;

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Júlia equilibrava bem o pote de esmalte entre os joelhos e pintava suas unhas com cuidado enquanto Henrique reclamava do cheiro forte de acetona que empestava o carro.

— Para de ser reclamão. - A ruiva falou com um sorriso nos lábios

— Esse cheiro me dá dor de cabeça, Jú - O moreno falou sem perceber que tinha chamado sua ex por um dos apelidos que ela mais gostava.

— Pronto seu chato, terminei. - Ela respondeu limpando por fim a unha e assim como ele, também não percebeu como Henrique a tinha chamado.

— Ainda tô' me perguntando por que você não fez a unha antes de sair de casa. - Reclamou mal-humorado.

— Na verdade eu fiz, mas não gostei da cor.

Ele a olhou incrédulo e balançou a cabeça negativamente. O dia enfim chegava ao fim e a vista que os dois dias do horizonte era de um céu com poucas nuvens e no tom alaranjado que acabava deixando o carro no meio tom que o céu tinha.

Henrique olhou para o lado no mesmo instante que Júlia soltava o rabo de cavalo que até pouco tempo prendia suas madeixas ruivas e quando o cabelo dela foi por fim solto, o moreno jurava que nunca a tinha visto mais linda.

O avermelhado do por do sol quando tocava seus fios vermelhos os deixavam ainda mais brilhantes. A dona do cabelo ruivo o olhou com um sorriso no rosto e depois voltou a olhar para frente, mas não por muito tempo. Por que logo ela voltou a olhar para Henrique e gritou.

— Olha pra frente!

Quando o moreno fez o que Júlia pediu, deu de cara com a traseira de um caminhão e rapidamente jogou o carro para o acostamento e pisou com força no freio.

— O que você tem na cabeça? Titica de galinha?

Henrique estava mais gelado do que o normal, suas mãos estavam tão apertadas ao redor do volante que os nós de seus dedos começavam a ficar brancos. Ele a ouvia gritar e reclamar ao seu lado, mas em sua cabeça só estava à cena que acabará de acontecer.

O pôr do sol estava lindo;

O cabelo dela mais ainda;

Ele ainda a amava;

E quase bateram em cheio na traseira de um caminhão.

Júlia continuava a gritar com toda a força o quanto Henrique era maluco, desatento e irresponsável, enquanto o moreno tentava controlar a respiração antes que alguns dos seus ataques de pânico começassem.

Respirando fundo e pausadamente, ele abriu a porta do carro, deu alguns passos a frente e se inclinou apoiando-se sobre os joelhos tentando se lembrar das instruções que a enfermeira lhe tinha dado.

Respirar e inspirar.

Júlia saiu de dentro do carro batendo a porta e continuou chamando o moreno de louco.

Respirar e inspirar.

Júlia continuava a gritar com ele, agora parada em sua frente com os braços cruzados abaixo dos seios.

Respirar, inspirar e procurar algo em que focar para poder se estabilizar.

— Henrique? Você está me ouvindo?

Respirar, inspirar e procurar algo em que focar para poder se estabilizar.

Júlia segurou o rosto de Henrique entre as mãos fazendo com que ele a olhasse.

Respirar, inspirar e procurar algo em que focar para poder se estabilizar.

— Você está bem?

Henrique olhou bem naqueles olhos azuis que ele tanto amava e então a beijou.  

Km 70Onde histórias criam vida. Descubra agora