A foto da multimídia é em comemoração a 1K de leituras.
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O relógio marcava quase oito da manhã quando os dois encerram a conta no hotel.
Henrique se sentia mais relaxado do que o dia anterior e aos olhos dele, Júlia parecia bem menos neurótica.
Quando pegaram a BR 324 que Júlia começou a falar.
— O que são essas crises que você tem? - A ruiva perguntou receosa. Não sabia onde estava se metendo e tinha medo das respostas, mas ao contrário do que pensava o moreno e não foi nem um pouco grosso\ignorante.
— São crises de ansiedade e pânico. Começaram logo depois que você pediu o divórcio. No início foi apenas uma taquicardia fora de hora, por exemplo, na hora do café da manhã. Depois foram algumas dores de barriga ao ficar nervoso, suar demais em atividades que não exigia tanto esforço assim, mas a pior foi depois da reunião com a Juíza sobre o divórcio.
— O que aconteceu? - Júlia que ficou o tempo todo apenas ouvindo, perguntou.
— Parecia que eu estava tendo um ataque cardíaco e que ia morrer.
— Você parecia tão seguro naquele dia.
— Acredite, eu não estava. - E foi sincero. Henrique se lembrava bem daquela tarde, naquela sala, com aquela juíza e tudo o que ele não se sentia era confiante.
— E como você percebeu o que tava acontecendo?
— Eu não percebi. Peguei o carro e fui parar no hospital naquela tarde, foi naquele dia que eu descobri as crises.
— E o que aconteceu depois?
— Algumas consultas com um psicólogo, algumas em um gastro, porque as crises me causaram uma gastrite, que resultou em uma úlcera.
A ruiva se sentiu mal. Aquilo não era nem perto do que ela pensava que era o inferno astral que ela vivia.
— Mas você está melhor?
— Sim! Agora elas acontecem com menos frequência do que antes.
— Entendi!
— Você veio para ficar? - Foi o moreno que perguntou.
— Como assim?
— Vai ficar no Brasil ou vai voltar para a Itália?
— Eu não sei ainda.
Mas no fundo ela sabia bem. Sabia que seu coração nunca pertenceu a Itália. Seu coração, pensamentos e todo o resto, pertenciam ao Brasil. Pertencia a Henrique.
— Qual o melhor lugar pra se morar? Aqui ou lá?
— Aqui! Sem dúvidas, aqui. - a ruiva falou rindo - onde mais se pode ouvir um forró que se acaba em pagode enquanto você come uma feijoada com toucinho dentro?
— Em lugar nenhum. - Henrique comentou enquanto sorria e se lembrava do que Júlia falou.
Esse "Forró que termina em pagode e uma feijoada com toucinho", foi o primeiro encontro deles. O primeiro beijo também. O que Henrique julgava ser o pior encontro de todos, Júlia tinha alegria ao dançar até o solado das sapatilhas acabarem.
— Você ainda lembra né? - Ela perguntou com um sorriso de orelha a orelha.
— Júlia, você tirou um senhor de 90 anos para dançar e levou uma tamancada dá mulher dele na cabeça. Você acha mesmo que eu vou esquecer?
— Eu sinto falta daqueles encontros malucos. - Assumiu.
Enquanto suas amigas da época de faculdade adorava um restaurante caro e uma saída de carro, Júlia preferia acabar com a sola da sapatilha no salão enquanto dançava com Henrique e voltava para casa de ônibus.
Ela sempre foi apaixonada por dança. E todo tipo de ritmo que ela se interessava ela aprendia. Ballet, forró, pé de serra, tango.
E foi isso que fez Henrique se apaixonar. A diversidade dos gostos de Júlia.
— E você? Aconteceu algo parecido com o que sofri?
Julia riu ao se lembrar dos perrengues que ela passou. Ficar presa em elevador, ter o carro apreendido na Aguanambi, um chilique dado no shopping RioMar por seu cartão não passar e tantas coisas que ela pensando agora, dava vontade de rir.
— Nada tão ruim assim.
— Qual é?! Você tava rindo aí, enquanto lembrava-se de algo.
— Eu quase fui presa. - Admitiu.
— Júlia Oliveira Marques, o que você fez? - Depois de falar, Henrique ficou calado. Aquele era o nome de casado dela.
— Uma velhinha quis tomar minha vaga no estacionamento. - Confessou sem se importar com o que Henrique disse, ela adorava o nome de casada e quase não deixava de usar.
— Eu não acredito! Júlia!
— O que? - Ela se defendeu - Era uma velhinha bem abusada!
E os dois caíram na gargalhada. Eles sentiam falta disso. Sentia falta de serem além de marido e mulher, amigos. Sentiam falta de rirem de coisas aleatórias e deixarem toda a tensão que tinham em si, se esvair pelas risadas que davam.
Eles sentiam falta de tudo que eles tinham antes.
Sentiam falta de estarem juntos.
Sentiam falta de serem marido e mulher.
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Km 70
Lãng mạnCOMPLETA Júlia e Henrique foram casados por cinco anos antes da separação conturbada, que resultou em uma grande briga que nunca tem fim. Porém, eles são obrigados a embarcar em uma viagem de carro, para conseguirem chegar a tempo do casamento dos...