Km 70

CAPÍTULO QUATORZE;

Chegaram á Ribeirão Preto às sete horas, meia hora antes do que Henrique previa e isso deixou um tempo para que eles pudessem jantar sozinhos e aproveitar um pouco. Mais quarenta minutos até a fazenda da família do Yuri onde ia acontecer o casamento. A ansiedade dos dois esmagava o peito e os fazia pensar em várias coisas que pudesse acontecer a partir de agora.

Quando o carro preto atravessou as porteiras da fazenda e chegou perto da casa grande, pode-se ouvir os gritos de Lídia de longe. Ninguém estava mais feliz com a chegada dos dois do que ela. Enfim a amiga chegou e agora ela poderia dividir toda a o estresse que estava sendo preparar aquele casamento. Primeiro foi o abraço das duas, Lídia dava gritos e falava alto o quanto estava feliz de ter amiga ali. O moreno cumprimentou Yuri calorosamente e combinaram de conversar outra hora. Depois de falar com a ruiva, Lídia foi até Henrique, abraçou o amigo como se abraçasse um irmão. E na verdade era isso. Além de amigos, os dois eram irmãos.

Entraram na casa grande da fazenda aos sons de risadas e felicidade. Os quatro estavam enfim reunidos e tudo o que eles queriam era colocar a conversa em dia e saber de tudo o que aconteceu na viagem, mas para isso, não precisava nem mesmo falar. Era só olhar direito para o casal que acabou de chegar de viagem. O amor estava no brilho dos olhos deles.

××

Todos já haviam conversado, se alojado, jantado novamente e conhecido todos os arredores da casa, já que Lídia tanto insistia. Agora, estavam separados em quartos, querendo estar juntos em apenas um. Yuri e Henrique em um quarto e Lídia e Júlia em outro e o assunto dos dois, era apenas um. O que aconteceu na viagem.

— Então vocês vão voltar?

— Eu não sei. Desde que chegamos aqui, não tivemos tempo para conversar.

— E então, o que você está esperando para ir falar com ela? – o amigo perguntou.

— Coragem – Henrique falou e riu secamente. Tudo o que ele não tinha era a coragem, ele tinha quase certeza que se perguntasse, ela responderia sim, mas tinha medo de levar um não. — Eu amo aquela mulher mais do que tudo. Quero me casar novamente com ela em qualquer lugar desse mundo, quero uma casa – pequena dessa vez -, fazer nossos filhos e tomar todo o cuidado do mundo para que ela não perca novamente. Eu quero refazer a minha vida com ela e não quero mais nenhum dia em que ela não esteja.

Yuri sorriu ao perceber que as palavras do amigo se encaixavam perfeitamente no casamento dele com Lídia e ele se orgulhava disso, já que quando você ama alguém realmente, deve se orgulhar disso.

××

As duas estavam deitadas na cama. O vestido de noiva preso no cabide em frente a elas, enquanto Júlia abria o coração para Lídia, assim como já tinha feito tantas vezes. A ruiva falava cada coisa que sentia em relação ao ex marido e a amiga ouvia atentamente, mas querendo sair correndo pela grande casar, ir até o quarto onde os dois estavam e obriga-los e ficarem novamente a partir de agora, mas se limitou apenas a perguntar. — E vocês vão voltar a ficar juntos?

Júlia agora sabia que toda essa viagem foi armada pela melhor amiga para ver se o casal parava de brigar e voltarem a se tratarem como pessoas normais. Ou um casal normal. E tinha dado certo. Mas a ruiva não sabia o que seria a partir de agora, só sabia que queria estar com o amado o tempo mais longo possível.

— Eu não sei. Só quero poder voltar a minha vida normal a partir de agora e não vou mentir que não queria que ele tivesse comigo – A ruiva falou e as duas riram.

— Chega de Itália?

— Sim, chega de Itália.

Um sorriso nasceu no rosto da Lídia ao ser que a amiga nunca mais ficaria longe e logo depois voltaram a conversar sobre as coisas do casamento que aconteceria no final da tarde do dia seguindo, até alguém bater na porta e Júlia, que estava mais perto, levantou-se e encontrou Henrique do outro lado.

— Oi – falou com um sorriso nascendo em seu rosto

— Vem dá uma volta comigo, amor? – Ele perguntou enquanto a coragem crescia dentro de si.

— Agora? – Ele respondeu com um movimento de cabeça e ela voltou para o quarto só para pegar os chinelos, segundos depois, ela apareceu novamente na porta. – Vamos.

Saíram de casa e foram caminhando pela a beirada do lago que tinha ao lado da casa grande. Os braços de Henrique em volta da cintura de Julia e ela aconchegados entre o braço e o peito do moreno. Andavam enquanto sentia a brisa do vento que batia no lago e chegava até eles, não tinha nenhuma nuvem no céu e as estrelas roubavam todos os lugares que podiam fazendo uma noite clara e agradável para poderem conversar por ali.

Júlia se agarrou ainda mais no moreno que sentiu que ali era a hora certa. Ele precisava falar tudo o que ele tinha pensado durante um ano. Sim, era ele que sonhava dias e noites com esse reencontro, com esse pedido. Henrique se afastou um pouco da ruiva e beijou sua testa, sorrio para ela e tomou coragem para falar.

— Eu amo você e amo cada pedacinho de você, inclusive seu cabelo que eu demonstro ter tanta raiva. Eu amo a cor que ele fica quando pega o sol do entardecer. Durante um tempo, eu fui cego, tolo e bem burro. Eu assinei o papel do divórcio primeiro, foi eu que não quis parar de brigar, por que se eu quisesse parar, eu parava – Julia fez menção de abrir a boca, mas Henrique a calou – Shi! Deixa eu falar amor, eu preciso.

"Eu tive medo. Medo de te perder, medo de outra pessoa chegar e tomar tudo o que eu tinha e você ir embora, mas tudo o que eu tinha, amor, era você. Ainda é você. Nessa viagem doida e totalmente desprogramada eu vi o quanto você ainda é forte aqui dentro de mim e o quanto eu fui um imbecil por não ter ido atrás de você e quando eu vi você naquele jantar, tudo o que eu menos queria era jantar. Queria levar você para nossa antiga casa e prendê-la lá e nunca mais soltar. Eu te amo Julia Oliveira Marques, eu te amo e eu preciso saber, volta pra mim? Vamos embora daqui depois do casamento e vamos viver a nossa vida? Se você quiser casar, a gente casa, se quiser ter um time de futebol também, nosso futuro não precisa ser certo, ele pode ser incerto o quanto quiser, mas eu preciso saber do agora Jú, eu preciso saber de você, eu sei que você me ama assim como eu te amo, e eu só quero saber isso, volta pra mim? Vamos refazer o nosso futuro?

O coração da ruiva batia tanto que parecia que ela estava fugindo da polícia e dirigindo na contramão. Ela amava Henrique, amava tanto que não sabia nem explicar em palavras o quanto aquele amor por ele era grande. Júlia não respondia e o moreno ficava nervoso por achar que ela iria dizer não, mas todos que estavam vendo o casal parado na beirada da lagoa, sabia o fim deles. E pode acreditar, onde tinha janela virada para os dois, tinha gente olhando. Todos torciam por eles, até mesmo quem não queria admitir.

Ela fez a mesma coisa que ele fez para se acalmar enquanto estava tendo um ataque de pânico. Roubou um beijo do moreno. Um beijo que selava o passado e ali se iniciava um futuro. Um futuro incerto, mas do jeito que eles queriam. Um futuro que se formaria aos poucos.