A Fogueira

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Entrei na barraca correndo. O tecido fino não me protegeria de nada, nem de ninguém. Ouvia os gritos das pessoas. A correria. O barulho do mar não era capaz de se sobrepor aos rosnados infernais. Deitei, cara no chão. A lona do fundo da barraca não impedia que a areia abaixo gelasse todo o meu corpo. Ofegante. O suor escapava pelo meu rosto.

Alguém tropeçou no cordão que mantinha meu abrigo grudado ao chão. Desabou sobre a minha cabeça. Permaneci ali deitado, de bruços, tapando os ouvidos para evitar a sinfonia do inferno. Cheiro de sangue. Os gritos, gritos de socorro. A invocação de Deus. Deus não estava naquele lugar. A culpa era minha.

Faltava muito para amanhecer. A fogueira trepidava. Lançava as sombras das pessoas que corriam de um lado para o outro. Não tinha aquela coisa de uma pessoa ajudar a outra. Não tinha ninguém dando indicações, ninguém chamando ninguém. Realmente, filmes de terror são mentirosos.

Caem em cima de mim. A barraca no qual me escondi já não era barraca fazia tempo. Engoli o grito. Era uma garota, chorando, soluçando. Permaneceu caída sobre mim. Rezava. Deus não estava ali. Senti suas unhas tentando cravar em qualquer coisa, cravando nas minhas costas enquanto era arrastada.

Os gritos iam cessando. Os grunhidos iam se transformando em uivos. Não ouvia mais o corre-corre. Apenas baques secos. A fogueira aumentava. Cheiro de carne queimada. Mais alguém cai sobre mim. Uma queda seca. Tapei a boca. Minhas costas se encharcaram com um líquido quente. Não se movia, não chorava, não emitia som algum. Faltava bastante para o amanhecer. Minha culpa. Ou azar, apenas. Pesadelo? Quando não é?

Mas isso tudo veio depois. É fato que ninguém poderia adivinhar. Mas era de se esperar. 

Só se teme o desconhecido. Mas quem está pronto para ele? Você está?    

MORTOS-VIVOS!! O Mistério Do JarroOnde histórias criam vida. Descubra agora