Fui dormir tarde naquela noite, pensando no que ele havia dito.
"Quero você. Quero conversar com você."
Eu iria enlouquecer desse jeito !
A tarde, tava escrevendo algumas letras de música num caderno velho que achei da minha mãe.
Ela e papai estavam numa loja de móveis.
Theo apareceu um tempo depois, chupava um pirulito.
- O que está fazendo ? - ele me perguntou
- Escrevendo. - falei jogando o caderno pra ele
- Hmmm ... - disse ele. - Tem um gosto musical bom, moça. - falou
- Eu sei. - ri e levantei, indo até o guarda roupa da minha mãe
Comecei a fuçar enquanto Theo falava de um sonho antigo de ter uma banda e de cantar profissionalmente.
No meio das roupas dá minha mãe, eu achei um álbum grosso de fotos.
- O que é isso ? - me perguntei pegando o álbum e levando até a cama, perto de Theo
- Um álbum de fotos. - disse ele e eu empurrei o mesmo com o ombro levemente
- Bobo. - abri o álbum e vi a primeira foto
Era minha mãe. Minha mãe adolescente. Com um sorriso largo, era muito parecido com o meu.
Virei a página, agora era ela e meu pai. Aparentemente no começo do namoro.
- Eles ficam bem juntos. - disse Theo
- É, ficam ...
Mudei a página, mudei de novo e de novo.
Agora as fotos eram deles no casamento.
- Não acredito que simplesmente "não dava mais". - Theo se pronunciou novamente
- Nem eu. - balancei a cabeça. - Deve ter outro motivo.
Ouvi um barulho no corredor e a porta bateu.
- Chegamos minha querida!! - minha mãe disse
Levantei num pulo e coloquei o álbum de volta no lugar.
Segui pra sala, Theo ao meu lado.
- Oi gente. - falo com um sorriso
- Oi minha filha. - diz minha mãe
- Oi querida. - diz meu pai, e olha para Theo. - Ah, Theo .. como vai ?
- Tudo bem senhor. - diz Theo. - Meu pai pediu para lhe avisar que o jogo é amanhã e ele comprou uma super televisão.
- Uma super televisão para um jogo ? - minha mãe pergunta curiosa enquanto tira algumas compras da sacola
- Ele gosta de incomodar os vizinhos com o barulho alto do jogo. - Minha mãe ri
- Opa, é amanhã que vamos nos divertir! - meu pai fala
- Quer ajuda mãe ? - pergunto indo até ela
- Ah, não querida. Eu comprei só umas coisinhas porque seu pai aqui, não queria parar no mercado. - diz ela, retirando um danone de dentro e me entregando
- Eu fui para uma loja de móveis, não para um mercado. - diz meu pai
- Não importa Mark, era caminho. - ela retrucou e meu pai revirou os olhos indo pra sala
Theo foi junto.
- Mãe ... - perguntei tomando um gole do danone
- Oi querida ? - ela pegou um molho e levou pra geladeira
- Por que você e o papai se divorciaram ? - perguntei
- Ora Ária, já falamos sobre isso .. não dava mais. - ela amassou a sacola e jogou no lixo
- Não acredito. - falei com um sorriso balançando a cabeça negativamente
- O que ? - ela ri
- Vocês são perfeitos juntos. Até hoje, a sintonia de vocês são incrível! - falei. - Convivem bem juntos, não pode simplesmente "não ter dado mais".
- Ária, minha filha ... - ela veio até mim e segurou meus ombros. - Tudo o que fazemos, até hoje, é por você. - ela sorriu e me puxou para um abraço
- Está querendo me dizer que só continuam se falando por minha causa ? - perguntei, com a cabeça colada em seu peito
- No começo, sim. - ela me soltou. - Mas com o tempo conseguimos realmente ser amigos.
- Mas, o motivo mãe ? Qual foi o motivo dá separação ? - insisti
- Podemos deixar o passado pra trás ? Por que está me perguntando isso agora ?
- Eu achei seu álbum de fotografias no guarda roupa. - falei
- Que álbum de fotografias ? - meu pai perguntou indo até a pia
- Nenhum. - minha mãe respondeu
- Nosso álbum de fotografias ? - meu pai me olhou e eu assenti. - Não tinha jogado fora faz tempo ? - ele a olhou
- Acontece que eu não consegui. - ela respondeu. - Foi uma história inteira que seria jogada no lixo. - ela engoliu em seco
Meu pai ficou a encarando, sem reação.
- Não por uma escolha minha ... - ele disse baixinho. Mas eu ouvi
- Já conversamos sobre isso Mark. - ela retrucou. - Vamos deixar essa história lá atrás! - ela estava brava. - E não mexa mais nas minhas coisas Ária. - ela seguiu pro quarto
Suspirei. Meu pai foi atrás dela.
Fui pra sala.
- Mó clima. - Theo disse, sem jeito
- Seja lá o que tiver acontecido, eles continuaram amigos por minha causa. - comentei, colocando a cabeça em seu ombro. - E se ... E se um dois fizeram uma coisa terrível para o outro e forçaram essa amizade por mim ? - senti uma lágrima escorrer
- Não Ária ... Que isso. - ele se virou e me abraçou. - Eles ainda podem voltar, nós vemos como eles se tratam. - ele acariava minhas costas
- Acho difícil .. mas obrigada. - sorri, grata
- Eu estou aqui, para o que precisar. - ele me soltou
Eu apoiei a cabeça em seu ombro e entrelacei nossas mãos.
Ficamos desse jeito, sentados lado a lado com as mãos dadas vendo televisão.
E, aquilo era bom demais.
Theo era quente e sua mão era macia.
Olhei para nossas mãos. Seu polegar acariciava o meu.
Eu instantaneamente sorri com aquela imagem.
Então ergui a cabeça para encará-lo. Seu rosto próximo ao meu. Aqueles olhos azuis encarando minha boca.
Ele se aproximou e celou nossos lábios.
Sua mão foi para o meu rosto e a minha para seu peitoral. Ele pediu passagem para sua língua e eu permiti.
Levei minha outra mão para a sua nuca e o puxei para mais perto.
Ouvi passos se aproximando e nos separei, mas depositei um selinho em sua boca antes.