Mais uma semana se passou.
Eu havia dito para Theo que não queria namorar e nem ter compromisso com ele, afinal, eu iria embora na semana seguinte.Ele simplesmente pediu para eu relaxar e disse que estava satisfeito em apenas ficar sem compromisso.
Ficar nos beijos.
Eu não iria além disso.
Estávamos no parque jogando migalhas aos pombos e vendo as crianças brincarem.
- Essa é sua última semana aqui né ? - ele disse enquanto jogava as migalhas
- É sim. - falo simplesmente
- Não queria que fosse embora. - diz ele olhando pra mim
- Eu sei. Mas ...tenho uma vida lá na Flórida também. - eu não o olho
- Então quer ir mesmo embora ? - eu o encarei
- Meus amigos e estudos estão lá, Theo. É claro que quero ir. - falei sendo óbvia
- Nossa. - ele volta a olhar para os pombos e vejo que ficou magoado
- Eu sinto muito. - toco seu ombro
- Eu vou sentir sua falta. - ele está debruçado pra frente, com os cotovelos apoiados no joelho
- Eu também vou sentir a sua. - ele se reclina pra trás e me beija. Um beijo demorado
- Eu te amo, Ária. - ele fala assim que nos afastamos. Mas não totalmente, sua testa está colada a minha
Eu te amo.
Essas três palavrinhas que não queria ouvir dele. Pelo menos, não agora.
- Muito. - ele termina a frase e eu o beijo
Talvez para fugir da resposta "eu também". Talvez por medo. Talvez por não estar pronta ainda. Talvez por não sentir isso.
- Você me ama ? - ele pergunta
- Theo ... - começo
- Shhh, tá tudo bem. - ele molha o lábio. - Não ama.
- É cedo demais pra isso. - falo
- E quando não vai ser ? - ele recua um pouco
- Eu não sei. - coloco o cabelo pra trás
- Você nunca vai dizer não é ? - ele insiste
- Se eu te amar, pode acreditar que irei dizer sem hesitar. - me encolhi no banco. - Mas, agora .. eu não amo você.
- Você gosta de mim ? - ele me encara fixamente
- É claro que gosto. - falo
- Gosta quanto ?
- Não faz isso. - balancei a cabeça negativamente
- Isso o que ? - ele leva a mão até o queixo
- Não me pressiona, não exija sentimentos que não posso te dar. - falei, olhando pro chão
- É aquele garoto, né ? - eu o olho. - Do telefonema semanas atrás. Você gosta dele.
- Não seja ridículo. - falo. - Não combina com você.
- E mentir sobre os próprios sentimentos não combina com você. - ele levanta e começa andar
(...)
Quando eu finalmente arrumei minhas coisas pra ir embora, Theo apareceu no meu quarto.Eu estava ansiosa pra ir embora. Pra ver Julian.
- Já tá indo né ... - diz ele. Desde o piti dele no parque não nos falamos
- Uhum. - fecho minha mala sem o olhar e começo ir pra porta
- Ei ... - ele toca minha cintura, me fazendo parar
- Que? - pergunto
- Me desculpe por aquela cena, semana passada. - diz ele
- Ta tudo bem, Theo. - eu não paro de o encarar
- Mesmo ? - ele insiste
- Mesmo. - afirmo
Ele toca o meu queixo e suavemente o ergue, para que seus labios toquem os meus.
Eu sei que devo parar esse beijo. Mas não paro. Eu continuo, e toco em sua nuca.
Ficamos nesse beijo por uns dez minutos, até meu pai tocar a buzina do carro e me apressar.
Me afasto de Theo gentilmente, e o mesmo me dá um selinho.
- Vou te esperar, Ária. - diz ele, baixinho
- Não faça isso ... - estou com os olhos fechados ainda e sua testa está na minha
- Por que ?
- Não quero que me espere. Não sei quando eu volto e combinamos que seria ficar sem compromisso. - falo
- Tudo bem então. - ele sorri
- Mesmo ? - repito sua fala
- Mesmo. - ele sorri mais ainda e me dá um último beijo
Desço e me despeço da minha mãe, que chora feito criança como se eu estivesse com alguma doença terminal que iria me matar.
- Mãe, eu vou voltar aqui outras vezes. - falo, tentando acalmá-la
- É, mas quando minha filha ? - ela pergunta. - Quando ?
- Final do ano, provavelmente. É meu último ano mesmo. - ela me puxa para um abraço sufocante
- Ta bem, eu vou te ligar toda semana. - diz ela
- Ta bom. - ela finalmente me solta e me viro para Theo
- Tchau. - diz ele vindo me abraçar
- Tchau. - sorrio e o abraço. Um abraço apartado
Entro no carro e meu pai dá a partida.
Fico em silêncio por alguns minutos.
- O que foi ? - ele me pergunta
- De todas as despedidas .. parece que essa foi a pior. - falo, olhando para a estrada
Sempre fora difícil me despedir da minha mãe e ficar um bom tempo sem vê-la. E em todas eram difíceis e tristes. Mas essa foi realmente pior que qualquer outra.
- Eu também achei isso. - diz ele, passando a mão em meu joelho. - Quer que eu ligue o rádio ?
- Não. - falei. - Só quero ouvir o barulho do pneu se arrastando nesse chão com gelo. - sorri
- Certo. Sem rádio então.