∆ Quatro ∆

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Eram 23:00 hrs da noite quando eu fechei a loja e comecei a caminhar para o ponto de ônibus.

Era perigoso ficar até aquela hora no ponto, houve um tempo em que só tinha assaltos aqui, e em casos exagerados ... Mortes.

Cheguei no ponto e tinha um cara fumando cigarro.

Do outro lado da rua eu vi um carro, e dentro dele, um cara me encarando.

Parei de respirar quando vi que era Julian.

- Entra. - ele não gritou, mas a rua estava tão deserta que eu ouvi

Fiz que não com a cabeça.

Ele então abriu a porta do carona.

Eu caminhei e entrei.

- Por que está por aqui ? - perguntei quando o carro estava em movimento

- Por que mentiu sobre o seu nome ? - ele não me olhou

- Eu ... eu não sei ... - engoli em seco, olhando para a frente

- Estava com medo ? - o encarei, e ele já me olhava. - Com medo de mim ?

Eu não respondi.

Então ele partiu pra outra:

- Por que estava com um nome falso ?

- Idéia da minha amiga. - falei. - Ela ganhou ingressos para essa luta ridícula e me "forçou" a ir. - tossi. - Então no meio do caminho me estendeu uma identidade falsa, me explicando que menores não entravam.

- Luta ridícula ? - ele levantou uma sobrancelha

- Você não percebe como é insignificante isso ? - eu o olhei de novo. - Você pode morrer! Você fica cheio de marcas e cicatrizes para que ? Por uma mísera aposta daqueles babacas que estão em volta. - eu estava irritada e nem sabia o por quê. - Sua vó não sabe sobre as marcas, sabe ?

Ele me analisou por um momento.

- No começo eu fazia isso por diversão. - disse ele. - Na verdade, foi tudo sem querer ... Eu me meti numa briga com um cara e as pessoas em volta começaram a apostar, só para se divertir. Foi ali que tudo começou. - ele pigarreou

- Mas já pode parar com isso, não acha ? Você tem capacidade de arrumar um emprego de verdade, um emprego que não corra risco de morte.

- Não é mais uma escolha. Eu não posso dar para trás. - ele estava se aproximando do quarteirão em que me deixou da outra vez

- Sua vó... - comecei

- Não, ela não sabe. - e então parou o carro

Eu saí do mesmo e agradeci.

Entrei em casa e tranquei a porta.

- Ária ?! - ouvi a voz do meu pai. - Ahh Ária, sabe como fiquei preocupado com você ?? - ele me envolveu num abraço apartado

- Desculpe pai, Phill me pediu para ficar até mais tarde. - falei e ele me soltou

- Por que ? - eu fui pra cozinha e ele me seguiu

- Lia está com cachumba. - falei, abrindo a geladeira

- Merda ... Mas ele não pode ficar te forçando à isso. - disse ele, frustrado

- Eu o entendo .. - me servi um copo de leite. - Os negócios estão ruins e ele quer que a loja funcione até mais tarde ... E deu certo .. teve mais clientes depois da hora que devíamos ter fechado. - fui até o armário e peguei um pão

- Eu vou ter que te buscar. - disse ele

- Não pai, tá tudo bem.

- Não foi uma pergunta querida. - ele suspirou. - Bom, eu vou tomar um banho agora.

- Ta bom. Eu vou terminar meu pão, fazer meu dever, tomar um banho e dormir. - ele assentiu e caminhei até a sala

Liguei a televisão e fiquei vendo as notícias.
De repente, meus pensamentos viajaram até Julian, as marcas em sua pele, o jeito que o ajudei, o jeito que ele me deixava nervosa sem ao menos me tocar.

(...)

Duas semanas depois e eu não tinha mais visto Julian, nem na loja, nem perto da loja e nem em lugar nenhum.

Fiquei fazendo hora extra a semana passada inteira e meu pai fora me buscar todos os dias.

Só, que eu queria ver Julian novamente.

Cheguei na escola, era sexta feira e a maior parte da galera falavam em fazer uma festa e sair.

Achei Jolie na mesa, reunida com Diego e mais algumas pessoas, me aproximei deles. Era intervalo.

- Oi gente. - sorri

- Oi linda. - Diego disse

- Ária, escuta isso ... - Jolie puxou meu pulso para baixo, pra que eu me sentasse

- O quê ? - perguntei

- A festa que geral tá falando vai ser na casa da Chris. - um dos garotos falou

- Na casa da Chris ? - indaguei

- Ela mudou de casa benzinho, daí quer inaugurar com uma festa. - Diego disse

- Oh, e que horas vai ser ? - perguntei, me interessando

- 22:00 horas.

Eles começaram a conversar sobre a festa e tudo o mais, então eu me virei para Jolie e cochichei.

- Eu quero ir ao cactos hoje. - comecei. - Será que você consegue ingresso ?

- Conseguir eu consigo, é claro. - ela riu. - Mas por que quer ir ?? Achei que você não gostava de .... - ela parou subitamente e me encarou um pouco. - É por causa daquele cara né ? Junior ? Que você ajudou.

- Julian. - corrigi. - Mais ou menos .... - ela me encarou com um sorriso descarado

- Ta bem minha pequenina, consigo os ingressos para a gente. - ela falou

- Ingressos para que ? - Diego perguntou

- Pra ir ao cactos. - eu a olhei com os olhos arregalados, pois não queria que ninguém soubesse, nem mesmo Diego

- Oba, eu topo! - disse ele

- Que. - disparei

- É, vamos ao cactos e depois para a festa. - ele sorriu. - É perfeito!

Então o sinal tocou e voltamos para a sala de aula.

 ∆ *Por Ele* ∆Onde histórias criam vida. Descubra agora