O Lobo e a Vovozinha

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 Cindy seguiu à floresta, trajando um capuz negro. Após muito caminhar, encontrou uma pequena casa. Bateu à porta, ninguém atendeu. Empurrou-a levemente até que se abrisse. No interior havia sete pequenas camas e uma mesa baixa rodeada por sete cadeiras. Não caberiam adultos ali. A casinha parecia feita por e para crianças. Cindy sentiu-se reconfortada e segura. Tomou a poção mágica e deitou-se transversalmente sobre as sete caminhas que acabava de unir. Dormiu de um sono profundo, adentrando seu mundo onírico.

 Agora, ela brincava no balanço pendurado em sua árvore preferida. Seu vestido de bolinhas camuflava uma joaninha. Logo aproximou-se o pai, que lhe deu um beijo para, em seguida, adentrar uma carruagem. Quão grande era seu pai. Aonde iria? O céu azul e claro foi, rapidamente, obscurecido por grandes e pesadas nuvens. O dia ensolarado começava a chover. Cindy correu à varanda. Já protegida da chuva, estendia as mãozinhas para sentir frias gotas que escorriam do telhado. Com a língua fora da boca, matava sua sede de criança. Era sede de provar o sabor da chuva. Uma senhora aproximou-se ternamente, acolhendo-a nos braços. O rosto enrugado era reconfortante e familiar. Da sala de estar, vinham estranhos ruídos. Na sala de estar, havia estranhos reunidos. Ao centro, uma grande caixa de madeira talhada e envernizada. As lembranças mais significativas de Cindy eram intercaladas por lapsos de escuridão.

-Cindy, quero que conheças Madalein. Ela e suas filhas farão companhia a ti e à tua avó.

-Serei tua segunda mãe.

-Não eres minha mãe. Logo ela despertará para brincar comigo.

-Pobrezinha! Não contaram a ela!?

-Não é hora ainda. - disse a avó em tom grave.

-A tua mãe...

-Ainda não, eu rogo! - desta vez, a avó uniu as mãos em humilde posição de prece.

-Tua mãe voou como pássaros que migram durante o inverno, em busca do verão eterno.

-Mamãe vai voltar! Ela prometeu que nunca nos separaríamos.

 Outro lapso obscuro. Um furo na equação tempo-espaço.

-Onde está vovó?

-Vovó foi passear na floresta.

Cindy vestiu sua capa vermelha e foi de encontro à avó. Seus passos eram rápidos, firmes e determinados. Enquanto caminhava, ouvia uivos. Sentia medo. O medo, por vezes, tornava-se raiva, e a raiva volvia-se em solidão. Grandes árvores que a viam passar, conversavam entre si.

-Vejam, essa não é a princesa Cindy?

-Não, esta é a menina Cindy.

-O que ela faz sozinha na floresta?

-Ela busca suas raízes.

-Ahahaha... - As árvores riam-se do próprio humor negro.

Um lobo também a espiava, escondido entre arbustos.

-Não tenhas medo. Aproxima-te. -Disse a menina ao lobo.

O lobo aproximou-se temeroso.

-Eres o lobo mau?

-Só quando tenho fome.

-Por que estás a seguir-me?

-Devo proteger-te. Há muitos perigos na floresta.

-Te referes ao caçador?

-E às vovozinhas também. O homem é bicho do homem...

Cindy e o lobo depararam-se com uma velha casa. Era uma casa simples com um belo jardim. Alguém cuidava das plantas. A menina da capa vermelha observava oculta entre arbustos. A jardineira, uma mulher jovem e robusta, era sua avó. Cindy sentia incontrolável desejo de ser acolhida em seu colo.

-Olá!

-Olá, menina. Estás perdida?

-Não mais.

-Quem és tu?

-Sou tua netinha, oras.

-Não é possível. Minha enteada é ainda jovem para ter filhos. E minha filha biológica sequer nasceu.

Cindy deu-se conta de que estava perdida no tempo. De volta à casa do pai, homens fardados e montados haviam invadido o pátio frontal. Entre eles, um esquálido espectro vestido de negro aguardava.

-Viemos por teu pai.

-Papaaaiii! - Cindy o chamava para receber a 'visita'.

-Sim!? A que devo a honra de vossa visita?

-Foste denunciado por sonegar impostos à coroa. Comercializas metais e pedras preciosas, sim?

 Escuridão. Madalein ria-se sozinha, pronunciando sua vitória:

-Sendo leal ao rei, terei proteção real, e todo o ouro escondido será meu. Ahahahahahaaa...


Pelo Andar da Carruagem - O Lado Oculto dos Contos de FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora