Cindy estava radiante. Brilhou no baile como uma diva em noite de Oscar. Só havia um pequeno problema: os sapatos, embora lindos e preciosos, eram desconfortáveis. Imagine calçar um sapato de salto alto, feito todo em cristal! Todos a olhavam curiosos. Muitos dos que ali estavam não a conheciam. Poucos não a reconheciam. "Seria a misteriosa moça, princesa de outro reino? Talvez uma espiã!" Mad estava intrigada, pois a convidada lhe parecia familiar – e era bem mais do que ela supunha.
Cindy lançou o olhar pelo salão, em um ângulo de 180º. Estava curiosa. Ao ver o príncipe, sentiu borboletas no estômago. Suas pernas tremiam, e as mãos emitiam calor. "Talvez seja um ataque de tietagem", pensou. Embora sentisse o impulso de aproximar-se, não esperava dele significante atenção. Então, bailou com um cavalheiro e outro e outro. Príncipe, só haveria um. Súditos, um montão.
-Conceda-me uma dança, senhorita.
Cindy fora arrebatada. De um dançante qualquer passou aos braços de Princy, o príncipe. Sentiu sua face queimar, enquanto ele sentia no peito a balada cardíaca da tímida moça. Aquele olhar fugidio era distinto dos flertes atrevidos que costumava receber. Acabada a valsa, Cindy só queria dançar com ele. Sentou-se sob o pretexto de descansar. Passou o tempo a observá-lo, de longe. "Seria ele um galanteador? Seria o baile um evento promocional? Seria esse homem confiável?". Cindy mordia o lábio inferior enquanto cogitava tais possibilidades. A noite doce recebeu um leve toque amargo quando Cindy avistou as meio irmãs. Desejou, intimamente, que o salto de ambas quebrasse – figurado e literalmente.
Eram onze da noite. Cindy havia provado alguns dos vinhos servidos na festa. Sentiu-se levemente tonta e enjoada. O príncipe aproximou-se. Convidou-a para tomar champanhe nos jardins do palácio. Prontamente ela aceitou, embora não soubesse 'onde pôr o braço'.
"Fale-me de ti". O anfitrião iniciou a conversa. É certo que apresentava um modo mandão de interagir, mas não era por mal. Havia que considerar sua posição e educação. Cindy corou.
-Creio que, para um príncipe, minha simplória vida não seja assim tão interessante...
-Imagine. A estranheza humana é sempre digna de apreciação...
"Estranheza?", pensou ela em um susto.
-Curiosou não tê-la visto antes. De que linhagem vens?
-De nenhuma mais... Meus pais faleceram.
-Logo, eres a última representante de toda uma linhagem familiar? Seu sobrenome não pode haver sido enterrado com os corpos de seus pais... ou sim?
Cindy nada respondeu. Princy percebeu-se invasor de um espaço sagrado.
-Sinto muito por sua perda... desejo saber a quem poderia pedir permissão para...
-A Deus. A Ele pertencem os homens e as criaturas.
-Hunmm. Devo considerá-la uma jovem temente?
-Céus, meus temores são muitos...
-Espero que não temas ao amor...
O relógio tocou as doze badaladas. Cindy sentia o arrebentar das linhas de costura traseira do seu lindo vestido retrô. Suas palavras de despedida foram:
-Com vossa licença, devo ir ao toalete.
Retirou-se antes de ouvir qualquer resposta. Meia noite e quinze, meia noite e meia, e a intrigante convidada não havia retornado.
"Com vossa licença, Alteza. Perdoe-me a indiscrição. Mas, se estiveres a esperar a encantadora moça com quem, a pouco, conversava, devo informar-vos de sua partida, digamos, um tanto apressada. Um par dos sapatos foi a única pista deixada, já que seu nome não consta na lista de convidados. Havia uma intrusa no baile". Comunicou o conselheiro, Alfred.
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Pelo Andar da Carruagem - O Lado Oculto dos Contos de Fadas
FantasyPelo Andar da Carruagem é uma releitura de contos clássicos de fadas, cujo ápice NÃO se dá no casamento entre Cindy e o príncipe, mas nas subsequentes descobertas que ela faz de si mesma.