Capítulo 15 - A casa

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15. A Casa

 

Seguimos pela estrada com destino à Devil Land. Há muito tempo não ia até lá, uns três anos talvez.

  Foi na Quaresma de 2009, foi bom por estarmos todos reunidos pela última vez, mas algumas sensações foram horríveis. Lembro-me de uma noite em que acordei com uma voz em desespero gritando meu nome. No mesmo dia tivera a sensação de estar sendo seguida e no seguinte veio a notícia de um massacre ocorrido na noite anterior. Segundo as lendas, na Quaresma são abertas as portas dos céus e do inferno, onde as almas estão à solta e o perigo se torna inevitável por muitas quererem vingança. Tão inevitável que nossa viagem foi brutalmente interrompida por um acidente, o qual não paro de pensar, um acidente de carro terrível. Estávamos eu e meus avós maternos. Ele dirigia o carro, iríamos visitar os tios de Joe, amigos da família, mas em uma curva, um carro preto surgiu muito rapidamente e então batemos de frente. Eu fui a única sobrevivente. Sempre senti que o alvo era eu, tudo fora muito esquisito. Não havia carro preto nenhum lá quando o resgate chegou. Nunca superei isto. Foi uma fase difícil de superar, a perda me ajudou a amadurecer e até a encarar situações difíceis com frieza. Tornou-me um tanto fria, calculista e às vezes manipuladora. Era assim. Eu mudei muito, deixei a doçura que encontrei depois em meu relacionamento com Henri, e eu sabia que todo meu sofrimento criara um monstro dentro de mim com uma bomba relógio.

 -Chegamos – falou Nobert. Não percebi que a moto havia parado.

 -Ah, sim – disse e desci logo da moto, ansiosa demais talvez.

 Tirei o capacete e ele também.

 -Você estava tão pensativa que nada percebeu – ele disse.

-É... – abaixei a cabeça e a cocei – Lembrando-me de acontecimentos.

 -Do tipo que ninguém sabe? - ele fez uma cara divertida e não tive como não sorrir.

 -Sim. Do tipo que ninguém sabe e nem precisa saber.

 Eu sempre ficava na defensiva quando o assunto era este.

 -É ruim? – me avaliou.

 Aquilo me queimava por dentro. O jeito que ele me olhava era algo... diferentemente bom e... quente, sim muito.

 -Demais.

 -Não vou perguntar mais – ele ergueu as mãos como se o tivessem rendido.

 -Que bom. Agora me diga o que fazer.

 -Toque a campainha. Simples assim. Chame Eva, que provavelmente irá te convidar para um chá, eu a conheço e creia, ela é muito interessante. – Interessante como? Estranhei a sensação que me invadia... Não podia ser... – Lembre-se: cuidado, e aqueles gatos, cuidados, nem todos aqueles bichinhos são do bem, são tão poderosos como acreditavam os egípcios.

 -Ok. Gravei o que você me disse. Entro lá e faço o que tenho de fazer como combinado. Até mais, obrigada. – sorri a ele e por dentro eu gritava.

 -Volto daqui um tempo para te buscar. – ele retribuiu calorosamente o sorriso, o que não me ajudava em nada. Acenei e me afastei seguindo pela calçada.

 Estive memorizando o número da casa e olhei por todas como se isso talvez também me trouxesse respostas.

 Achei – como um relâmpago minha mente se acendeu na defensiva.

 De início, tão normal (como tudo aparentava e nunca fora). Casa branca, teclado de cor clara, plantas, jardim colorido, cristais pendurados em uma pequena varanda à frente se balançavam com o vento. Charmosa até.

Entre Anjos e Vampiros - O SegredoOnde histórias criam vida. Descubra agora