Capítulo 7

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Once upon time a few mistakes ago.

Mia's POV

Eu ainda estava meio sem folego quando voltei a me juntar com meus amigos na beira da piscina. Minha mente ainda tentava acreditar que Jack realmente havia entrado naquele banheiro e me beijado. Eu tinha ganhado o meu dia, mas Corey tinha ferrado tudo.
- Por onde estava? – Ane perguntou nadando até a beirada da piscina.
- Primeiro estava conversando com o seu pai na cozinha e depois fui ao banheiro. Sozinha. – respondi e minha amiga rolou os olhos para mim. - O que foi realmente lamentável, porque seria maravilhoso ficar a sós com seu pai lá. Posso até imaginar as coisas que poderíamos fazer...
- Cacete! Você é muito pervertida. – disse Johnny sorrindo ao se aproximar.
- Até parece que não conhece a prima que tem. – respondi piscando para ele que sorriu ainda mais.
- Antes que pense merda, saiba que a Mih só está brincando. Eu não sei de nada. – disse Johnny rapidamente e Ane olhou para mim, que sorri para ela.
- Porque estava me procurando? – perguntei.
Anelise deu de ombros.
- Precisamos escolher o dia para abrir a caixa dos desafios e fazer o sorteio.
- Caixa dos desafios? – Johnny perguntou confuso.
Abri a boca para responder, mas Corey rapidamente colocou sua mão sobre meus lábios me impedindo de falar.
- Permita que eu explique senhorita Morizono . – disse ele com um sorriso animado. Eu apenas dei de ombros e fiz sinal para que ele prosseguisse. Corey me libertou, pigarrou a garganta – A caixa dos desafios foi criada há alguns anos por Anelise, Mia e eu, para ter um pouco de diversão em nossas vidas vazias. Todo ano cada um de nós tem o direito de escrever dois desafios e colocar na caixa para que apenas um seja sorteado e realizado pela turma toda.
- Às vezes pegamos desafios leves como a vez que tivemos que beijar cinco estranhos diferentes enquanto estivéssemos de férias. – explicou Ane a Johnny que fez uma careta. – E outra vezes uns mais pesados como roubar a loja de bebidas do centro.
- Ou brincar de roleta russa. – sussurrou Corey e eu gelei. – Tudo bem que daquela vez nós não realizamos o desafio.

Lembrava-me claramente daquilo, parecia que fazia dias e não anos.
Meus amigos e eu sempre brincávamos com a caixa dos desafios desde os nossos dez anos, eram sempre coisas bobas, engraçadas e divertidas.
Mas aquele ano foi diferente.
Nós deixamos que meu irmão Lester e seu amigo Trevor, que também era meu namorado, entrassem na brincadeira. Então cada um deles escreveu dois desafios e os colocaram na caixa.
No total havia dezoito desafios, dezoito malditos desafios diferentes para serem sorteados e o pior deles foi justamente o escolhido.
Lembro-me do Les tirando o papel perfeitamente dobrado de dentro da caixa.
- Aposto que será um dos seus desafios bobos. – disse ele para mim enquanto desdobrava o pequeno pedaço de papel.
- Não tire conclusões precipitadas, pode acabar sendo um grande mico. – respondi, cruzando os braços.
O rosto de Les pareceu ficar pálido por alguns segundos enquanto lia.
- O que foi Les? – perguntou Anelise preocupada.
Lester virou o papel para que todos nós pudéssemos ler o que estava escrito em vermelho sangue.

Roleta Russa

- O que? – perguntou Adria parecendo um pouco apavorada. Eu não a culpava, porque todos nós estávamos apavorados, exceto Trevor.
Trevor começou a rir e balançar a cabeça como se aquilo fosse à coisa mais engraçada do mundo.
- Não acredito nisso. – disse ele andando até meu irmão e colocando a mão sobre seus ombros. – Cara, eu pensei que nunca sairia essa droga. Tinha menos de seis por cento de chance de essa coisa ser sorteada, mas o destino me sacaneou.
Ele continuou a rir como se tivesse tendo um ataque de risos medonho. Aquilo estava me assustando profundamente.
- Vamos sortear outra coisa. – sugeriu Corey, sacudindo a caixa para que pudéssemos sortear novamente.
- Não! – respondeu Trevor. – Agora temos que cumprir.
- Trev, não vamos brincar dessa coisa. – respondi enquanto passava as mãos pelos meus braços, aquilo tudo estava me dando calafrios. – Se é que isso pode ser chamado de brincadeira.
- Que foi querida? – ele perguntou se aproximando de mim, segurou meu queixo e ergueu minha cabeça para que eu o olhasse. – Não confia no seu destino.
- Não confio em armas de fogo. – respondi olhando seriamente para ele.
- Você só terá dezessete por cento de chance da bala te acertar. – disse ele se aproximando um pouco mais de mim. Parecia que ele estava tentando me seduzir para que eu aceitasse brincar daquela coisa.
- Dezessete por cento parece muito para mim. – disse Anelise tirando as mãos dele de mim e o afastando para se colocar entre nós dois. – Não vamos jogar nossas vidas fora por causa de um jogo idiota de azar.
- É Trevor, esquece essa parada. – disse Johnny, puxando seu amigo pelo ombro. - Vamos sortear outra coisa.
- Isso. – disse Ane satisfeita.
Trevor pareceu não gostar da ideia, mas apenas deu de ombros e deixou que sorteássemos outra coisa. Ane foi quem tirou o papel dessa vez e estava escrito: "Sabotar a peça de teatro da escola". Eu sabia que aquilo era coisa do Corey, ele ainda estava louco de raiva por não ter conseguido ficar com o papel principal.
Cerca de cinco dias depois Trevor me pediu desculpas pelo jeito que agiu no dia do sorteio e me chamou para sair. Eu estava meio cega de amor na época, porque Trev era sempre carioso, gentil e cavalheiro. Quase como um príncipe. Mas ele realmente tinha me deixado com medo sorrindo daquele jeito medonho e querendo nos forçar a jogar roleta russa, mas mesmo assim aceitei sair com ele.
Eu tinha completado quatorze anos a algumas semanas e Trevor disse que daria meu presente naquela noite.
Como sempre meu irmão nos encobriu dizendo aos meus pais que íamos sair para o cinema e comer pizza junto com Trevor e nossos amigos. Les aproveitou para sair com alguma garota aleatória, ele tinha apenas dezesseis anos e já era bem mulherengo.
Trevor tinha a mesma idade que meu irmão, muito bonito, simpático e charmoso. As garotas se derretiam por ele, mas ele não dava à mínima. Ele não era do tipo que gostava de ter casinhos de uma noite.
- Está muito bonita hoje Morizono . – disse Trevor enquanto dirigia, estava vestido com moletom, mesmo assim estava encantador.
Eu estava sentada no banco do passageiro, vestida com calça jeans e regata e tênis brancos, meus cabelos estavam amarrados em um coque e meu rosto estava sem nenhuma maquiagem, eu não gostava naquela época e não sei como ele podia me achar bonita daquele jeito.
- Obrigado Trev. – respondi com um sorriso, enquanto o via sair da rodovia e entrar em uma estrada de terra. - Onde estávamos indo?
- Para o céu. – respondeu ele com um sorriso.
Eu sabia exatamente o que ele queria dizer com isso.
Seria naquele momento que eu me entregaria a ele.
Quando Trev parou o carro, meu coração estava a mil por hora, batendo com tanta força que logo seria capaz de explodir meu peito.
Trevor segurou minha mão e se aproximou de mim, me dando um beijo calmo e carinhoso. Ele foi paciente, não fez nada com presa para não me assustar e lentamente eu fui relaxando e deixando ele me dominar.
Não lembro exatamente cada detalhe daquela primeira vez. Só lembro que tudo não foi tão ruim como falavam. Lembro que Trev foi um anjo cuidadoso enquanto me penetrava, lembro que senti um pouco de dor, mas nada absurdo.
Lembro que realmente fui ao céu.
Para depois ir ao inferno.
Quando terminamos de nos vestir, Trev me levou para outro lugar. Era algo como um galpão grande, sombrio e abandonado. Eu disse que não entraria, mas ele disse que a outra parte do meu presente estava lá. Então eu o segui para dentro daquele lugar assustador.
Acho que lá era algum tipo de fabrica de têxtil que faliu, tinha varias maquias velhas de costura, cheio de teias de aranha por todo lado.
- Trev, eu não estou gostando desse lugar. – falei me agarrando firmemente ao braço dele que sorriu.
- Calma, estamos chegando. – disse ele.
Andamos até o fundo do galpão até chegarmos a uma porta. Trev a abriu e revelou uma sala que devia ser da gerencia, ou algo assim. Tinha uma grande escrivaninha e uma cadeira no centro da sala. Algumas prateleiras com livros e uma estante cheia de papeladas. O lugar estava sujo, cheio de poeira e mais teia de aranha. Que merda de presente era esse?
- Eu quero que você se sente naquela cadeira. – disse ele.
- O que? Por quê? – perguntei olhando para ele com espanto. – Aquilo está imundo.
- Porque eu estou pedindo, Mia. – disse ele meio autoritário demais. – Agora!
Eu me soltei de seu braço e deu um passo para trás. Ele só podia estar fazendo algum tipo de brincadeira estupida para me deixar com medo. Quer dizer, para mim garotos eram mesmo estranhos.
- Pode esquecer, vamos embora. – respondi para ele enquanto me virava para a porta, mas Trevor segurou meu braço firmemente me impedido de sair do lugar.
- Olha Mia, você vai me obedecer está me ouvindo? – disse ele, me puxando em direção a cadeira.
- Trev, para com isso. – disse enquanto tentava me soltar, mas não consegui.
- CALA A BOCA MIA. – gritou ele, me empurrando sentada na cadeira. – E ME OBEDECE, PORRA!
Senti uma sensação ruim se espalhar pelo meu corpo.
O medo estava dominando todos os meus sentidos, enquanto o via abrir uma das gavetas da escrivaninha e tirar um revolver de dentro.
- Essa fabrica era da minha família há anos. – disse ele sentando sobre a escrivaninha. – Ela faliu quando estava na responsabilidade do meu avô e ele se matou. Aqui mesmo, com essa arma.
- Trev... – comei a falar, mas ele me interrompeu com gritos.
- ME DEIXE DESABAFAR, PORRA! – gritou ele, e eu me encolhi na cadeira. – Meu pai sempre disse que ele era um homem cruel e que teve o que mereceu. O engraçado é que meu pai conta coisa sobre meu avô e nem percebe que faz as mesmas coisas que ele. Tal pai, tal filho. – ele sorriu olhando para mim. – Eu não quero me tornar alguém como eles.
- Você não precisa. – falei num sussurro.
- Não, não preciso. Por isso estamos aqui Mia. – disse ele. – Porque eu partirei dessa para uma melhor e estou te dando à chance de ir comigo.
- Você não pode fazer isso...
- Sim, eu posso e vou. – respondeu ele me interrompendo novamente. - Nessa arma tem duas balas, uma para cada um de nós. Vamos brincar de roleta russa, Mih. Eu vou disparar seguidas vezes sem girar o tambor do revolver e vou começar por você. Então se você quer continuar a viver nesse mundo de merda, reze para que a primeira bala esteja destinada mim.
Eu estava travada pelo medo então não consegui mexer um musculo se quer quando Trevor se aproximou e me beijou rapidamente.
- Eu te amo Mih, espero que entenda que estou fazendo isso para que você não viva sozinha nessa merda de mundo. - disse ele num sussurro. - Eu quero que me acompanhe, quero que pegue a arma e venha comigo caso eu seja o primeiro a ser atingido.
- Trev vamos procurar ajuda para você. - falei, tentando segurar as lagrimas que se formavam em meus olhos. Eu estava tremendo de medo porque nunca na vida me senti tão perto da morte. Eu não tinha ideia do que falar para fazê-lo desistir. - Não precisa ser assim.
- Acredite amor, ninguém pode me ajudar. - respondeu ele com um sorriso triste. - Essa é a única solução.
- Trev, por favor... - falei erguendo a mão para toca-lo, mas ele me interrompeu novamente.
- Já chega Mia, vamos terminar logo com isso. - disse ele, se afastando e eu deixei minha mão voltar para o meu colo. - Respire profundamente e acalme-se. Sua vida está nas mãos do seu destino.
Trevor rodou rapidamente tambor do revolver e o fechou. Sorriu para mim destravando a arma, a levantando lentamente e a apontando para minha cabeça.
Eu estava apavorada, suando, com o coração batendo tão alto e forte que quase dava para ouvir as batidas ecoando pela sala silenciosa.
Fechei os olhos e um turbilhão de lembranças passou diante deles em lampejos. Momentos felizes com a minha família, risadas com meus amigos, o primeiro beijo que ganhei de Trev.
Pensei em minha família, em meus amigos e em tudo que eu deixaria para trás.
Nesse momento também pensei em quando conheci Trevor e acho que parte de mim sentiu que no segundo em que o vi pela primeira vez que algo ruim ia acontecer.
Não foi nada que ele fez, foi apenas a sensação de perigo que cresceu enquanto ele andava na minha direção e se apresentava tão educadamente quanto um cavalheiro da idade media... Talvez ele soubesse exatamente como tudo acabaria quando me viu. O sorriso, os olhos, os lábios, as mãos macias, tudo nele era um atrativo para me levar ao fim.
Cada segundo parecia uma eternidade. Eu estava com as mãos fechadas em punho, apertadas tão fortemente que sentia a unha penetrar a minha carne. Eu estava a ponto de sangrar quando ouvi o dedo dele apertar o gatilho e um clique alto anunciar de que eu ficaria viva por enquanto.
Minhas mãos se afrouxaram e as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. - Será minha vez de ir? - ele perguntou enquanto apontava a arma para sua cabeça.
- Trevor, por favor... - foi tudo que eu consegui dizer antes dele apertar o gatilho e novamente ouvir o clique. Não havia bala. Isso significava que a minha chance de sobreviver a esse pesadelo estava diminuindo, escorrendo por minhas mãos como água. Eu não queria morrer, mas também não queria que ele morresse.
- Eu também estou apavorado Mih, mas eu não vou desistir. Se você for primeiro, saiba que estarei logo atrás de você. - disse ele aprontando a arma para mim novamente. - Feche os olhos.
Eu fechei, novamente esperando o som estrondoso do tiro, mas ouvi apenas o clique.
Era a vez dele e a ultima chance de me salvar e perdê-lo. Trevor levou a arma a sua cabeça novamente e sorriu para mim.
Fui tudo muito rápido, o dedo dele apertou o gatilho no mesmo momento que consegui me levantar da cadeira para correr até ele.
O som foi quase ensurdecedor, a bala atravessou seu crânio e seu corpo caiu em meus braços, me levando ao chão.
A sensação era de que ele também tinha atirado em meu peito e que eu estava sangrando com ele, morrendo. A diferente é que eu estava sentindo a dor que ele não sentiu, pois sua morte foi imediata e minha dor interminável.
Aquilo era culpa minha.
Eu não consegui me mover a tempo, não consegui dizer nada de útil em nenhum momento. Tudo que saiu da minha boca foi "Trev, por favor...". Eu não tinha feito o bastante para salva-lo dele mesmo.
Mal sabia eu que alguns meses depois eu estaria rezando para voltar no tempo e me juntar a ele naquele exato momento.

Your Father - J.G.Onde histórias criam vida. Descubra agora