– Por que eu fui or-de-na-da! – ela diz com veemência pela milésima vez como se o garoto fosse idiota.
Ela começa a se afastar, sem mais com toda aquela irritação de antes.
– Ordenada? Por quem? – ele insiste.
Ela bufa, ainda se afastando.
– Como se eu fosse te dizer – ela responde, ainda sem olhá-lo.
Ele continua a segui-la, relutante em ir embora sem uma resposta satisfatória ou um nome.
– Por quem? – ele insiste.
Mas dessa vez ela se virá e encara o garoto com um olhar flamejante.
– Qual é o seu problema, garoto!? Vê se me esquece e vá para casa!
Olhando-a de frente, Tobias quase perde o fôlego com sua beleza. Não uma beleza delicada e gentil das garotas dá rua ou elegante e complicado como as garotas do castelo com quem ele estava acostumado a ver escondido. Ela tinha uma beleza inexorável, selvagem e cheia de sutilezas que a dava um ar de força implacável e um poder de guerreira que não perde para ninguém em combate. Um corpo de mulher cheio de curvas e elegância sobre as roupas de couro curtido e os panos cinza-esverdeados, cabelos loiros cortados rente aos ombros – o que é incomum, considerando o quanto o seu povo era supersticioso –, olhos azuis com um ar âmbar e lábios suáveis, comprimidos em uma demonstração de irritação. Suas pernas ficavam bem escondidas sob a capa. Dava para ver que ela também usava uma daquelas calças de couros que os homens-cabras eram obrigados a usar nas cidades-humanas devido ao pudor das poucas roupas deles. O jovem não sabia se aquilo era desagradável para eles ou não, e também não queria perguntar para não faltar com o respeito, ele imaginava.
Agora, olhando melhor para suas pernas, ele percebia que os cascos dela estavam protegidos por tiras de couro, para não fazer barulho. Por isso ele só ouvia uns poucos passos suáveis durante a perseguição. Um arrepio sinistro percorre o seu corpo com o pensamento em forma de sussurro que invade a sua consciência: Treinados para matar...
Com certeza eles não seriam melhores espiões se houvessem relatórios chegando aos lordes do reino de que cavalos estivessem seguindo homens pelas cidades, pensa ele com um humor negro.
– Ahn, err... – diz o garoto desviando o olhar dos seios dela com o rosto levemente corado. – Ehh... – ele não conseguia articular palavras.
Tobias ainda se lembrava do que tinha feito e ele torcia para que ela não soubesse do que tinha acontecido. Nunca. Jamais. Ele tinha certeza de que se ela soubesse, ela não o perdoaria. Pior: ela o mataria!
– E então? – ela o incentiva.
– Bom, quero só uma resposta para a minha pergunta e depois cada um pode seguir seu caminho sem mais eventos desnecessários – o garoto diz tentando forçar um sorriso para ela.
Ela franze a testa, pensando.
– Uma resposta? – ela pergunta com ceticismo – Todo mundo quer uma resposta, inclusive eu – ela diz, secamente.
– Bem... era você que estava me perseguindo com tanta determinação e não o contrário...
Ela começa a se afastar outra vez, sem dar chance para ele terminar.
– Espere! Para onde você vai? – ele pergunta.
– Vou-me embora. Perdi o interesse em segui-lo – ela começa a acelerar os passos e Tobias a segue em direção a saída do beco.
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Ânsias da Juventude - Série Os Cavaleiros Alados - Primeira Fase
Fantasy[Obra Original] O jovem Tobias tinha muitos sonhos, um deles era o de se tornar um grande Batedor como o seu pai um dia foi, antes de desaparecer na Fronteira. Campina Primaveril é um reino que vive uma próspera paz. Não havia inimizades dentre o...