Capítulo 4

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   Era meio-dia e ele estava muito cansado e seu corpo transpirava tanto que era praticamente impossível de se locomover com suas roupas encharcadas de suor como se dando ênfase ao seu estado físico. Desde que começou a longa caminhada de volta para casa através de campinas que se estendiam até o horizonte, ele gradualmente foi envolvido por uma densa camada de calor quando o sol se aproximou do meio-dia. Tobias não via à hora de voltar para casa e cair de cabeça no lago.

Talvez eu veja Sally outra vez..., ele pensa com um sorriso ao imaginar sua amiga e primeiro amor tomando banho no lago com ele. Suas curvas elegantes, seu sorriso predatório, seu olhar felino... a água escorrendo pelo seu corpo, o seu riso inocente quando ela olha para a cara embasbacada dele ao vê-la seminua no lago como uma deusa sendo abraçada pelos raios de sol...

Tobias sacode a cabeça ao perceber que estava corando e volt a andar.

– Não é hora para isso! – ele diz a si mesmo. – Ainda tenho muito chão pela frente.

As imagens ainda estavam vividas em suas memórias. Aqueles foram outros dias em um outro tempo!, ele diz a si mesmo como tentando se convencer.

Estava cansado e irritado. Não conseguirá caçar nada, não tinha nada para levar para casa e isso era muito frustrante para ele. Como ele pretendia se tornar um bom Batedor se não conseguiu caçar nem mesmo um pato do pântano? Mas não foi culpa dele, não é? Aquele lobo o acordou no meio da madrugada e ele teve que fugir. Não estava preparado para lutar e nem mesmo para enfrentar algo que não tinha certeza se era mesmo um lobo. Havia muita nevoa no momento, por isso ele não tinha tanta certeza.

Tobias não parava de pensar nisso. Ele não para de pensar no quanto era covarde. Um covarde. Um guerreiro de verdade não fugiria daquela forma; um guerreiro de verdade tentaria encontra a causa do problema e tentar entende-lo da melhor forma possível, mas nunca fugiria dele. Nunca!

Um covarde; eu sou um covarde!

Um covarde...?

Um covarde?!

Nunca! Ele não podia admitir ser isso! Ele não podia se transforma em um e não admitiria ser chamado assim! Nunca!

Ele estava cheio desses pensamentos e queria fazer algo mais produtivo e grandioso que apenas isso ser um camponês das campinas. Esse era um dos motivos que o levaram a querer se tornar um Batedor, as aventuras e o poder para se tornar um herói para o povo. Ambições essas que ainda estavam muito longe.

O grande dia estava se aproximando. Faltavam apenas poucos dias para O Dia da Escolha e ele estava ansioso e apreensivo quanto aos jogos que sucederiam ao dia, queria que o tempo passasse mais depressa para evitar o estresse e a pressão.

Um movimento chama a sua atenção pelo rabo do olho e ele se vira com uma faca já em mãos esperando encontrar o lobo-prateado outra vez, mas ao invés de um lobo prata ele encontra pequenos roedores das planícies brincando com seus jovens filhotes a quinze metros dele. Sua toca devia estar próxima de onde eles estavam. Não é algo raro encontrar esses roedores, eles povoam toda a campina e é uma ótima fonte de alimento fácil quando não se encontra caças maiores.

O jovem garoto lança um olhar para sua faca de caça e depois para os roliços roedores felizes. Felizes por terem uma família, felizes por serem desprezados por predadores maiores como os humanos. Mas Tobias já tinha aprendido desde cedo que nesse mundo a bondade e a ingenuidade não poupam você da morte. Em um mundo de morte nem os deuses que nele habitam estão livres do ar frio que a morte representa. Guerras, demônios, pobreza, fome e humanos... Todos eles representam a morte. Esse é um mundo onde só os mais fortes e espertos sobrevivem.

Ânsias da Juventude - Série Os Cavaleiros Alados - Primeira FaseOnde histórias criam vida. Descubra agora