Epílogo

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   Era noite fria de ventos gélidos. As venezianas das casas a sua volta pareciam soprar de dentro para fora. Não havia ninguém nas ruas a não ser pelos ratos sempre presentes. Nem mesmo havia cachorros latindo ou miados de gatos fazendo badernas nas ruas. Tudo era silêncio. Mas fora isso não havia nenhuma outra alma viva além dele e do seu parceiro. Nuvens flutuavam acima da cidade como caravelas fantasmas. Aquela era uma noite amaldiçoada. Uma noite para as bruxas. Uma noite pertencente apenas aos mortos e as criaturas depravadas do mundo sombrio.

O velho patrulheiro faz o sinal contra o mal no peito e em seguida na testa, terminando com um beijo nas pontas dos dedos. Essa é a sétima vez que ele a faz nessa noite. Uma noite que pertence aos não-mortais. As criaturas antinaturais.

Aquela cidade era um mundo completamente diferente à noite. Becos escuros como o inferno, casas silenciosas, teatros quase abandonados, tavernas fechadas, bordes fechados... Lugares que deveriam ficar aberto até o raiar do dia fechavam mais cedo.

As imensas casas cresciam ameaçadoramente a sua volta. O guarda realmente não gostava daquela cidade. Ele sentia como se a própria cidade possuísse vida. Todas as noites ele sentia isso. Uma sensação inquietante de desgosto e tristeza. Como se a cidade estivesse triste com o rumo das coisas. Mas isso era loucura! Como um simples soldado poderia saber dessas coisas? Será que mais alguém sentia isso e guardava para si mesmo? Mas isso não vai deixar de ser loucura. Uma cidade com vida?

O guarda quase ri do rumo dos seus pensamentos.

– Já estou ficando velho demais para isso... – ele murmura para a lua prateada.

Ele já era um veterano em percorre aquelas ruas sombrias. A cidade cheia de vida durante o dia, mas um mar que convidava a morte em cada esquina a noite. Sua experiência no trabalho o fazia dele uma lenda na patrulha. Os novos patrulheiros sempre pedem conselhos a ele sobre ruas, becos e casas suspeitas. Ele os ensinava sempre que possível. Ele não queria que esses garotos entrassem em uma rua errada e acabasse com as gargantas cortadas.

Até mesmo guardas jurados têm que saber evitar meter o nariz onde não é chamado.

Dois patrulheiros em armaduras prateados e capas cinzentas com o brasão do Dragão de Prata Esclifergs surgem de uma reentrância a sua frente. Eles acenam um comprimento e se aproximam. Alto de cabelos vermelhos como sangue, um tipo comum no império, sua armadura da patrulha está suja de poeira e tenhas de aranhas. O patrulheiro mais experiente deduz que ele andou invadindo casas abandonadas.

– Encontram alguma coisa? – o líder dos dois pergunta.

– Não, nada. E vocês? – o velho patrulheiro pergunta.

O outro solta um muxoxo e diz:

Nada, mas eles não podem terem ido muito longe, ou pedem?

– Não sei. Tudo nessa cidade pode acontecer. Melhor estar preparado para quando uma catástrofe acontecer, por que é nessa direção que estamos caminhando.

Os três patrulheiros mais jovens engolem em seco, nenhum deles quis questionar a sabedoria do mais velho. Afinal, naquele reino tudo se resumia na idade e na experiência.

– Essa cidade fede – o ruivo resmunga ao se afastar. – Temos que encontrá-los custe o que custar! Não podemos deixar esses desgraçados saírem impunes!

Sim, não podemos, o patrulho diz a si mesmo.

Assassinados. Todos assassinados por Mantos Negros. O ministro e sua família inteira foram mortos nessa mesma noite. Os guardas foram alertados quase que imediatamente. Os seus empregados, nervosos, ainda conseguiram dar uma descrição detalhada do assassino. "Vestiam mantos negros!", os empregados berravam em desespero. Mantos Negros, uma ordem sombria pertencente a um povo sombrio onde qualquer um pode contratar os melhores assassinos de todo o império.

Ânsias da Juventude - Série Os Cavaleiros Alados - Primeira FaseOnde histórias criam vida. Descubra agora