À Procura da Felicidade

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1º Capítulo

Era um corredor escuro e molhado. A solidão era intensa... Silêncio... Medo, era a palavra para descrever aquele momento. Estava sozinha. Cada vez mais andava e não chegava ao fim. Tinha a certeza que se andasse mais um pouco ficaria tudo bem. Sempre fica tudo bem. Meus pés começavam agora a doer. Estava sem forças, precisava sair dali. Eu queria sair dali. Enquanto andava comecei a ver uma pequena e cintilante luz, caminhei mais depressa para conseguir alcançá-la.

Ao aproximar-me reparei numa pedra com algum tipo de objecto afiado. Peguei naquilo, vendo ser uma lâmina, parecia de barbear ou algo assim. Ouvi um barulho e olhei para trás, estava lá um espelho, ao olhar fixamente para ele o meu reflexo começou a aparecer, mas era eu bem crescida, perdida. Vi o meu reflexo a pegar numa lâmina igual aquela que estava na minha mão, fez um sorriso malvado e com imensa força cortou o seu próprio pescoço. Gritei. Gritei o mais que pude. Olhei para o espelho e o meu reflexo já não existia. Cai no chão e vi sangue, lentamente levei as minhas mãos até ao pescoço e senti um imenso e profundo corte. Deixei-me cair no chão. "Vais morrer" - Vozes passavam pela minha cabeça - "Nada acaba bem" - A miúda gargalhava - "Dor... Sofrimento... medo" - Ela gargalhou ainda mais alto - "Tudo vai acabar para ti, Juliette."

Acordei sobressaltada. Pesadelo estranho para uma menina de 9 anos.

- Posso? - Minha mãe abriu lentamente a porta - A minha Barbie está acordada?

Todos gostavam de me chamar de Barbie, eu sempre achei que fosse por causa dos olhos azuis e cabelos loiros, mas a minha mãe dizia que era porque eu era uma menina perfeita, como uma Barbie, mas eu nunca acreditei muito nisso.

- Bom dia mãe - Levantei-me da cama e saltei-lhe para o colo - Tive um sonho mau esta noite.

- Asserio querida? Como foi? - Ela perguntou preocupada.

- Foi estranho.- Respondi - Não sei explicar.

- Não te preocupes Barbie - Ela acariciou-me o cabelo - Faz parte da puberdade.

Eu ri. A minha mãe pegou na escova e começou a escovar-me o cabelo. Era uma parte do meu corpo que ela era completamente obcecada.

Eu não vou dizer que a minha mãe gostava mais de mim do que da minha irmã mais velha, mas ela era obcecada por mim. Todos adoravam os meus cabelos loiros e longos e olhos azuis água. A minha irmã chama-se Patrícia e tem 15 anos, o meu pai também vive comigo e chama-se Lord, tem 36 anos, e por fim a minha mãe, ela chama-se Anne e tem 32 anos. Nós eramos uma família muito feliz e tínhamos imenso dinheiro, eu não sei bem o que isso significa, mas eu sempre ouvi os meus familiares a dizerem isso.

- Estás pronta? - A minha mãe perguntou quando acabei de tomar o pequeno-almoço.

- Sim mãe - Respondi enquanto metia a mochila nas costas. - Podemos ir para a escola.

Amanhã vai ser o meu último dia de aulas do 4ºano. Ainda bem. Estava ansiosa para ir para a escola grande.

- Pronto, chegámos - A minha mãe baixou-se e deu-me um beijo na testa - Venho buscar-te às 5 - Ela sorriu

- Está bem - Ela abraçou-me e eu não sei porque mas senti um arrepio enorme nas costas que me fez perder o ar, mas eu consegui disfarçar - Até logo mãe.

- Até logo Barbie - Ela dizia enquanto caminhava em direcção a casa.

- Bom dia Juliette - A senhora da portaria cumprimentou-me e eu retribui - Bom dia Subben.

Olhei para o relógio dentro da sala de aula...16:50h... Estava ansiosa para ir para casa. Não estava mesmo a sentir-me bem. Tinha um nó na garganta e estava com algo ao qual os grandes chamam nervos ou algo deste tipo. Tocou. Eu corri em direcção à portaria na tentativa de ver ali a minha mãe a sorrir para mim, mas ao pensar nesta ideia, não era algo que eu quisesse muito. Era estranho, eu sempre queria.

- Olá Barbie - A minha mãe abraçou-me - Olá mãe - Retribui com a voz trémula.

- Como foi as aulas? - Ela começou a passar os dedos pelo meu cabelo na tentativa falhada de me pentear. E eu mesmo sabendo que estava errado tirei as mãos dela da minha cabeça num puxão.

- Deixa-me em paz! - Gritei e comecei a correr em direcção a casa.

Parecia que a casa estava cada vez mais longe. Corri. Corri. Corri. Quando finalmente cheguei fui em direcção ao meu jardim. Sentei-me no meu banco de baloiço, era um sítio onde eu passava a maioria do meu tempo, uma luz passou pelos meus olhos e comecei a chorar.

- Barbie, que se passa? - A minha mãe aproximava-se de mim devagar - Alguém te fez mal na escola?

A última coisa que eu queria naquele momento era falar com alguém. Corri em direcção ao meu quarto e tranquei-me lá. Não conseguia tirar da cabeça o meu sonho, ou pesadelo, aquela lâmina... Porque eu? Porque cortar o meu pescoço?

Estava sem forças nas pernas, as lagrimas não paravam de cair, encostei-me à minha parede e deixei-me cair. Parecia uma estúpida ao chorar daquela maneira sem motivo nenhum. Sim... era sem motivo nenhum.

Dirigi-me ao meu espelho e vi o meu reflexo "Tudo vai acabar para ti, Juliette", aquelas palavras faziam eco na minha cabeça. Mandei-me num salto para cima da cama e mesmo não sabendo quanto tempo fiquei ali, acho que adormeci...

À Procura da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora