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- 3 Anos depois -
Muitas coisas aconteceram nestes últimos anos, mas acho que nunca ninguém reparou. Se me pudesse descrever numa palavra seria falsidade.
Estou de férias de Verão, isso ajudava imenso. A minha cabeça estava uma confusão e eu continuava a mesma, uma menina confusa, com uma tristeza inconsolável, mas um sorriso era o suficiente para enganar toda a gente. Eu apenas criei uma armadura para me esconder e acho que eu mesma já comecei a acreditar na minha felicidade fingida, o suficiente para já não ligar.
Acordei com alguém a bater à porta do meu quarto.
- Bom dia – O meu pai surgiu – A tua mãe deve estar a chegar do trabalho, levanta-te para irmos almoçar.
Eu concordei e levantei-me da cama.
Alguns minutos depois de me levantar e assistir um pouco de televisão a minha mãe finalmente chegou a casa.
Para minha surpresa ela chegou com alguns primos e primas afastados.
- Olá – A minha mãe falou – Trouxe companhia para o almoço.
Todos começaram a cumprimentar-me e falar aos berros. Era impossível alguém entender-se naquela confusão.
- Vamos almoçar? – O meu pai quebrou a confusão
Todos concordaram e dirigimo-nos à mesa de sala de jantar.
Uma empregada que a minha mãe contratou à última hora começou a servir as sopas, depois os pratos principais e por fim as sobremesas. Falei imenso com a minha prima, ela tinha 15 anos e disse-me que queria ser modelo, percebi o porquê dela não ter comido quase nada.
- Quem quer sobremesa? – Minha mãe perguntou
- Eu não – a minha prima Victoria respondeu rapidamente.
- Porque não? – Eu perguntei
- Tu não imaginas quantas calorias isso tem – Ela olhou com cara de nojo para a nossa baba de camelo. – Não devias comer isso Juliette.
- Porquê? – Eu sorri para ela – Achas que estou gorda?
- Por acaso acho – Ela falou sem dó nem piadade – Tens de cuidar do teu corpo enquanto é tempo, não queiras ficar cheia de celulite – Ela falava como se me tivesse feito um enorme elogio.
Acabei por dizer à minha mãe que estava mal disposta e que não queria sobremesa.
No fim do almoço fomos todos para a sala conversar. Estava toda a gente bastante animada, pena que ninguém me conseguia contagiar.
Estava a observar os meus primos pequenos a brincarem um com outro, para eles era como se a vida fosse fácil. Gostava de voltar a ter 4 anos. Gostava de parar o tempo naquele momento para fazê-los felizes para sempre, para eles serem felizes daquela maneira para sempre.
Bateu uma enorme vontade chorar. Corri em direcção ao meu quarto, deixando todos boquiabertos.
A minha vida tem sido assim nos últimos anos. Esperava a água correr no banho, para ninguém ouvir o meu choro, afogava a cabeça na almofada para ninguém ouvir os meus gritos abafados e corria para o quarto para ninguém ver as minhas lágrimas.
Subi as escadas com alguma dificuldade, pois as lágrimas não me deixavam ver o caminho. Cheguei ao quarto e tranquei a porta devagar na tentativa de ninguém ouvir a fechadura. Olhei-me ao espelho.
Aquela rapariga não podia ser eu… Os meus olhos estavam sem cor e perdidos e mesmo sem lágrimas isto era impossível disfarçar. Como é que ninguém reparava? Era só olhar nos meus olhos, eles podiam ver tudo, mas todos estavam preocupados demais a julgarem-me em vez de perceberem que a menina perfeita, já tinha morrido.
Ouvi alguém bater na porta. Limpei as lágrimas, voltei a colocar um sorriso no rosto e abri.
- Nós vamos embora, querida – O meu tio deu-me dois beijinhos e eu desci para me despedir de todos.
Voltei a subir para o meu quarto, sentei-me na minha secretária e num impulso rápido, mandei tudo o que estava lá em cima para o chão.
- EU ODEIO ISTO! – Gritei na esperança de ninguém ouvir.
Estava com respiração descontrolada e as lágrimas não me deixavam ver nada à minha frente.
Deixei-me cair no chão e fiquei lá deitada por algum tempo, em algum momento meti o braço para trás e algo me picou. Levantei-me devagar e dei de caras com a minha afia, a lâmina estava meia saída, peguei na tesoura e desaparafusei o parafuso da afia, ficando apenas com a lâmina. Aquele sonho que eu tinha tido quando era mais nova, não tinha sido uma coincidência.
Sentei-me no chão. Passei levemente a lâmina pelo meu braço, senti o forte arrepio que me percorreu todo o meu corpo, foi uma sensação incrível, jamais esquecerei. Aquele corte apresentou apenas vermelhidão, fechei os olhos e com toda a força passei com a lâmina pelo meu braço. Abri os olhos. Olhei para o meu braço, o sangue escorria sem parar. Tinha um corte enorme e pela aparência, bastante profundo. Levantei-me e ao fazê-lo, deu-me uma enorme tontura que me fez cair no chão, suspirei, peguei numa toalhita e limpei o corte. Prendi mais algumas com alguns elásticos e deixei-as lá a fazer pressão para que o sangue parasse de correr.
Os meus pais saíram para o trabalho.
Fui até ao jardim. Sentei-me no meu banco-baloiço e olhei para a minha piscina. Eu não tinha nada a perder. A minha vida já tinha acabado, por mais que a sociedade não perceba isso.
Nunca ninguém vai sentir a minha falta. Porque é que alguém deveria sentir?
Olhei para o céu. “Desculpa mãe”.
Liguei a filtração e a tremer subi a escada da piscina. “Eu só quero morrer”. Uma pequena dose de vento passou pelo meu corpo. “Tudo vai ficar bem”. Estava tão assustada. Fechei os olhos e deixei-me cair para a frente, mesmo sabendo que jamais ia voltar…
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À Procura da Felicidade
Mistério / SuspenseSim. Talvez eu ainda acredite que tudo vai correr bem. Talvez um dia o sol volte a brilhar. Talvez eu possa voltar a sorrir. Talvez, um dia, alguém me consiga amar. Ou talvez não... E se tudo o que sempre acreditaste fosse mentira? E se o teu mundo...