Go away, please.

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Acordei sobressaltada ao ouvir uns barulhos fortes à minha volta.

Abri os olhos e levantei-me num impulso ao aperceber-me de onde estava. Uma casa de banho pública. Como eu vim aqui parar? Tantas outras perguntas passavam pela minha cabeça.

Umas pequenas memórias passavam pela minha cabeça, eu tinha consumido cocaína. Não me lembro mais nada a partir daí.

Olhei o meu telemóvel depois de ter lavado a cara. 9:38h.

Estava atrasada para as aulas, de qualquer forma não poderia ir mesmo se quisesse. Como estava a minha cabeça e o meu corpo, não garantia que conseguisse ficar 5 minutos em pé sem vomitar. Comprovei isso a caminho de casa, vomitei 2 vezes em 30 minutos de caminho.

Quando finalmente cheguei, deitei-me na cama tentando abstrair-me da dor de cabeça.

Ouvi uns pequenos barulhos no quarto do meu pai, ele estava em casa. Como sempre.

Dirigi-me à secretária, e sem pensar, peguei numa folha em branco, que em breves momentos estaria cheia do que poderia chamar, os meus mais secretos sentimentos.

Querida mãe,

Estou a escrever-te mais uma vez, não sei bem porquê para ser sincera. Acho que estou a começar a acreditar que tu realmente não lês isto. Mas não custa tentar.

Desculpa o que fiz… Espero que saibas a que me refiro, porque não quero relembrar o que vivi, pelo menos não a contar-te. Não tenho orgulho nisso.

Mas sabes mãe, pela primeira vez em muito tempo, algo me fez sorrir. Foi algo tão intenso que eu não sei como explicar… Todo o meu corpo ficou libertado de si mesmo. Custa saber que a droga teve o efeito que tu deverias ter comigo. Não te culpo por isso…

Quanto ao pai… Espero que vejas por ti mesma em breve. Não suporto mais viver com ele.

Amo-te muito mãe,

Juliette”

Fui até à sala e peguei num copo de água. Não sei à quanto tempo não comia, mas, na realidade, não sentia fome alguma.

Fui até à casa de banho, passando pelo corredor escuro, que eu sempre odiei. Isso nunca mudou.

Entrei.

- NÃO! – Gritei ao deparar-me com a menina sentada no chão – Outra vez não! Por favor! – Esfregava os meus olhos com a esperança de estar a dormir.

- Calma. – Ela falava tranquilamente – Eu sou tua amiga – Ela pegou-me nos braços.

Senti um arrepio por todo o meu corpo ao sentir o seu toque.

- Juliette, eu estou aqui, eu estou aqui quando mais ninguém está.

- Tu não existes – Falei com firmeza, para me tentar convencer.

- Não Juliette, eu existo. – Ela olhou-me nos olhos – Tu não és doida, tu estar a ver-me, é óbvio que eu existo.

Dirigi-me ao quarto sentido a sua presença a perseguir-me. Agarrei na caixa de compridos que o Zack me tinha dado.

- Isso não resolve nada, Juliette. Eu estou aqui, porque tu queres que eu esteja. – Ela falava tão tranquilamente.

- Não quero não. – Irritei-me ao ouvir as suas palavras – Eu nunca pedi para apareceres.

- Eu sou fruto da tua imaginação – Ela limpou-me uma lágrima que se fez notar no meu rosto – Tu assim me criaste, tu assim que quiseste. Tu pedes para eu aparecer, tens de ser tu a pedir para me ir embora. Tenta Juliette, não tens nada a perder.

Fechei os olhos com força. “Vai embora por favor

Quando os voltei a abrir, tudo à minha volta não passava de um poço vazio de solidão e sofrimento, aquele poço do qual eu jamais deveria ter saído. O único a que eu posso chamar de lar.

À Procura da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora