Capítulo 6

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Estava deitada no sofá, calada. Aquela dor era insuportável.
- Estou morrendo...- murmurei.

Mamãe riu e me deu um beijo na testa.
- Todo mês você está morrendo, minha filha. - confirmou ela.
- Você fala isso por não está sentindo a dor. - retruquei.
- Você vai ficar bem. - disse ela, pegando seu casaco.
- Claro. Muito obrigada pelo apoio. Sinto-me bem melhor agora. - comentei, irônica.
- Tenho que trabalhar, mau humor em pessoa. Qualquer coisa, é só me ligar. - confessou ela, colocando meu celular na mesinha de centro.
- Você pode fazer um favor para mim quando estiver vindo para casa? - perguntei.
- Claro, meu amor. - respondeu mamãe.
- Vê o preço do caixão com luz dentro. - falei.

Ela riu mais e abriu a porta.
- Tchau, Elisa. - despediu-se.
- Vai logo. - disse eu.

A porta se fechou e o silêncio reinou em todo o apartamento. As dores variável de intensidade com o tempo. O remédio parecia não surtir efeito. Cobri meus braços com a coberta e fechei os olhos, tentando ficar mais confortável possível. Normalizei a respiração e concentrei nas minhas batidas cardíacas.

Estava quase dormindo, quando escutei passos. Abri os olhos e vi Trevor me olhar, preocupado. Naquela manhã, ele usava uma calça jeans preta, uma camisa cinza com detalhes em preto e uma jaqueta azul-marinho que parecia imitar a cor dos seus olhos.
- O que diabos está fazendo aqui? - perguntei.
- Perdi meu cartão. Estou vendo se não o deixei por aqui. - explicou ele.
- Certo. Ache-o e vá embora. - confirmei.
- Era para você está se acostumando com minhas visitas. Já vai completar um mês. - retrucou ele.
- Não sou obrigada a me acostumar com isso. - respondi.

Ele me olhou assustado.
- O que deu em você hoje? - perguntou ele, aproximando-se.

Respirei fundo, percebendo que estava sendo incrivelmente chata.
- É essa época do mês. Sempre é muito complicada. Minha cabeça está me matando; as cólicas não param e a vontade de matar um é enorme. - confessei, sentindo uma lágrima se formar no meu olho.
- Você está doente? Tem que ir ao médico. - disse ele, quase gritando.
- Trevor, você não convive com nenhuma mulher na sua casa?
- Só com minha madrasta, mas não falo muito com ela. Por que? O que isso tem haver com você?
- Isso explica muita coisa. Trevor, estou tendo cólicas menstruais e também estou na TPM.
- Sério? Essa é a famosa TPM?
- Famosa e extremamente chata. Acordei as três da manhã com dores abdominais. Minha cabeça doí intensamente. Meu humor está alterado. Hoje se eu escutar uma música triste, choro. Se você falar uma coisa de errado, vou me estressar. Hoje é o dia que nada está bom.
- Uau. Eu posso ajudar em algo?
- Estará se ajudando, se for embora.
- Mas e você?
- Vou sobreviver. Todo mês é essa mesma história.

Ele pareceu indeciso. Então, se dirigiu ao meu quarto e disse:
- Volto logo. - afirmou e saiu.

Bufei e fechei os olhos. Na hora, senti o gosto do choro na minha boca. Parecia que todos me evitariam naquele dia. Qual é?! Essa variação de humor acabava comigo. Respirei fundo e senti a lágrima escorrer pelo meu olho, sem poder controlá-la.

Acho que cochilei por uma hora, pois acordei com um barulho na minha cozinha. Olhei e vi Trevor mexer em alguma coisa em cima da mesa.

Revirei os olhos e sentei.
- Achei que tinha ido embora. - retruquei.
- Por que? Sentiu minha falta? - brincou ele.
- Não. Só fiquei aliviada. - respondi, jogando a coberta em cima dos braços.
- Só fui ao mercado e à farmácia aqui perto. - falou ele, ligando meu fogão.
- Fazer o quê? - perguntei, sem conseguir conter meus pensamentos. - Não coloque fogo na minha casa.
- Quero te ajudar. - afirmou ele, colocando uma barra de chocolate no meu colo.

Olhei desconfiada e por fim, abri a embalagem. Dei algumas mordidas e percebi como estava faminta por coisas doces. Era como se eu fosse um zombie e aquela barra de chocolate fosse um cérebro. Quase chorei de alegria.
- Como sabia que queria chocolate? - questionei.
- O farmacêutico recomendou. Ele me deu uma lista de coisas que poderiam fazer você se sentir melhor. - comentou ele, pegando uma xícara.

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