Capítulo 11

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- Nunca pensei que estaríamos fazendo isso juntos. - comentou Trevor, seguindo-me.

Sorri e olhei na lista mais uma vez.
- É só uma compra. Igual a que fizemos naquele dia, só que um pouco maior. É a compra do mês. - confirmei, procurando o próximo item da lista.

Trevor apenas assentiu e se calou. Eu entendi o recado na hora.
- Você já tinha feito uma compra assim alguma vez na vida? - perguntei.
- Nunca precisei. - confirmou ele.
- Bom, então eu estou na obrigação do que consiste uma compra do mês. Lá em casa, fica uma lista no balcão para irmos anotando as coisas conforme foram acabando. Assim, com o passar dos meses, temos uma noção das coisas primordiais que temos que comprar. Para aproveitar a vinda no mercado, fazemos a lista e compramos tudo de uma vez só. As demais coisas que faltarem, que são poucas, compramos aos poucos. Contudo, o principal eu compro hoje.

- Interessante. Não sei se lá em casa, as coisas funcionam semelhantemente. 

- Não é algo que lhe interesse, Trevor.  Como na minha casa somos apenas duas, uma é responsável pela casa e a outra por manter o dinheiro entrando. Assim que minha mãe recebe, ela me dá o dinheiro das contas e da compra. É uma parceria. Não acho que ela consiga viver sem mim.

Trevor riu e olhou para o horizonte, pensativo. Segui com o carrinho, percebendo que o deixei para trás. Já tinha pegado todos os itens daquela sessão. Depois de alguns minutos, Trevor voltou e se posicionou ao meu lado. Para a minha sorte, a compra não demorou muito e até que foi divertido com ele ali. Pagamos tudo e passei meu endereço para o entregador. 

Logo estávamos pelas ruas, conversando. Era um tranquilo fim de tarde e eu estava descansada. Quando escutei um assobio. Trevor virou para ver o que era e eu apenas abaixei a cabeça.

-  Aqueles caras estão mexendo com você. - sussurrou Trevor.
- Eu sei. - confirmei.
- Você os conhece? 
- Não é preciso uma garota conhecer para os homens mexerem com ela. Só ignora, Trevor. É o melhor que fazemos.
- Isso não é certo. Vou resolver isso.

Ele virou bruscamente e atravessou a rua, caminhando na direção dos homens. Eram apenas dois e se encontravam na entrada de um estabelecimento fechado. Eu sabia que aquilo não acabaria bem. 

Vi Trevor começar a falar com os dois, mas da onde eu estava, não os escutava bem. Observei as feições dos homens mudarem e eles se levantaram e encurralaram Trevor. Pude assistir o exato momento em que um deles o empurrou e o outro apenas riu. Trevor foi rápido e se recompôs facilmente, se preparando para a briga que se iniciava.  Eu me perguntava como tínhamos chegado naquele nível? Porém sabia que certas pessoas do meu bairro era ignorantes, antiéticas e desrespeitosas com os demais. Trevor tinha se metido com aquele tipo de pessoa, que só resolvia as coisas com agressão e violência. 

Um dos homens o atingiu com dois golpes, sendo um na barriga  e outro no rosto. Trevor cambaleou para trás e o outro o chuntou atrás de seus joelhos, fazendo-o cair. Eu tinha que fazer algo. Aquilo não podia continuar!

Atravessei a rua, correndo e olhei rapidamente em volta. Tinha que haver algo que eu pudesse usar como arma. Para a minha sorte, havia algumas garrafas de bebidas vazias no  canto. Aproveitei que os homens estavam distraídos com Trevor no chão e peguei uma das garrafas no chão, acertando um pelas costas. A garrafa explodiu em muitos cacos e o gargalo da garrafa continuou na minha mão. Aproximei-o do outro que observava o parceiro caído no chão e atordoado, ele ergueu as mãos em rendição. Ele estava em menor número e aparentemente, a agressão sofrida pelo parceiro o mostrava que eu podia baixar ao nível dele quando o assunto era violência. Ele apenas deu alguns passos para trás e eu fui até Trevor, sem largar minha arma de defesa improvisada.
- Vamos sair logo daqui. - afirmei.

Passei um de seus braços em meu pescoço, já que ele demostrava não conseguir andar direito. Larguei o gargalo assim que viramos a esquina. Andamos em silêncio e rápido. Quando estávamos quase chegando, Trevor perguntou:
- Você está brava ? 
- Eu não diria brava, mas ver você apanhando de dois idiotas por culpa minha não me deixa muito feliz. - comentei.
- Desculpa. Não achei certo a atitude deles.- retrucou. 
- Não foi certo, mas passo por isso de vez em quando. Parece ser um preço a se pagar por se mulher. - afirmei.
- Então, só por que você é mulher, eles acham que podem fazer isso? 

Assenti. 
- Parece que certas pessoas ainda não evoluíram o suficiente. - comentei.
- Então, que voltem para as  cavernas. - ordenou Trevor, brincando.

Paramos diante ao meu prédio. Combinamos de que novamente, eu distrairia o porteiro enquanto Trevor passava. Para a nossa sorte, o porteiro pediu para eu ficar de olho na portaria enquanto ia no banheiro rapidamente. Concordei de bom grado. Trevor subiu tranquilamente os degraus, fazendo palhaçadas​. Como eu não estava com muita paciência, joguei-lhe um jornal da portaria  e  mandei-o subir logo. Garoto enrolado! Não demorou muito e o porteiro voltou. Ele agradeceu e me despedi, subindo também.

Assim que abri a porta, empurrei-o para dentro apartamento, com medo de que Irene o visse. Eu sabia que naquele horário, ela já estava em casa e se ela pegasse Trevor ali, eu iria para a forca, sem direito a adivinhar a palavra. Tranquei a porta e fui para o quarto de bagunça, onde ficava o kit de primeiros socorros. Voltei e sentei ao lado de Trevor no sofá. 

Enquanto fazia o curativo em sua bochecha, conversávamos.
- Como conseguiu se livrar dos dois tão rápido? - perguntou Trevor.
- Improvisei. - respondi.
- Achei que estava fazendo o certo. Não sabia que eles partiriam para a violência.
- É por isso que peço para você não ir embora tarde daqui ou ás vezes deixo você dormir aqui. Tem vários homens daquele tipo espalhados pelo bairro. - confessei.
- E você não tem medo?
- Tenho, mas do que  me adianta ter medo? Assim nunca sairia de casa. Foi por isso que lhe disse que o melhor que fazíamos era ignorar.
- Mas você soube se defender e me salvou.
- Eu sei que nunca te disseram isso porque não era útil, mas minha mãe já estava  preparada para esse tipo de situação. Ela já sabia que eu teria que sair para fazer algumas coisas e poderia encontrar aquele tipo de pessoa. Foi por isso que ela me ensinou alguns golpes fáceis  e me aconselhou a correr, se nada der certo. 
- Correr é uma boa opção. 

Levantei e fui na geladeira e peguei uma compressa fria. Entreguei pra Trevor junto com um pano. 
- Vai lhe ajudar com a dor no abdômen. - afirmei.
- Sim, senhora. - confessou ele, rindo. 

A compra não demorou a chegar. Como Trevor estava machucado, falei para ele ficar no sofá e que não precisaria da ajuda dele. Assim que guardei tudo, fui tomar um banho e fazer um lanche para nós dois. Assistimos um filme qualquer. Nossa intenção  era apenas desfrutar da companhia um do outro.

Eu estava deitada na minha cama. Trevor já tinha ido embora fazia alguns minutos. Por mais que às vez gostasse de ficar sozinha, eu preferia dormir assim que ele partia, evitando o vazio do apartamento. Aquele dia tinha sido uma loucura. Eu sabia que tendo o Trevor como companhia, não seria um dia normal. Porém devo confessar que não gostei de vê-lo se machucar por minha causa. Aquilo pesou dentro de mim e jurei que jamais se repetiria. Mesmo assim, uma pequena parte minha se agitava, feliz por ele ter sido corajoso e ter me defendido daquele jeito. Ele realmente se importava comigo, afinal. 

Virei de lado, na tentativa de mudar meus pensamentos e chamar o sono. Tinha sido um longo dia e eu queria uma boa noite de sono para que pudesse descansar. 

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