Capítulo 9

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Aposto que vocês estão cheios de perguntas: Ei Elisa, como foi a conversa com a sua mãe? E se resolveram? Como foi seu final de semana? Na verdade, esses dois dias foram complicados depois que o Trevor foi embora. Foram solitários...

Pois bem, vou resumi-los. Acordei no domingo, beirando o horário do almoço. Minha mãe estava apreensiva. Ela sabia que eu estava chateada, por isso fez meu almoço favorito e promessas vagas de que tentaria arrumar uma folga no trabalho. Eu sabia que ela não conseguiria aquilo ou se tentaria. Tinha 89% de chances de esquecer assim que colocasse seu jaleco. Anunciei que passaria o resto da tarde com as meninas e ela concordou. 

Esse era o ponto positivo da minha mãe: ela sabia lidar com meus sentimentos; sabia que me deixando quieta por alguns dias, eu voltaria ao normal; que eu era fraca para guardar qualquer sentimento e que facilmente a perdoaria. Eu também reconheceria que fazia aquilo por mim; que se não trabalhasse tanto, não viveríamos mias ou menos bem; que se não pegasse tantos plantões, eu teria que trabalhar para ajudar em casa e isso ela não queria. Mamãe sempre selou por meus estudos e eu faria o máximo para ir bem. 

Era segunda-feira e eu já estava estressada. Só queria chegar em casa, tomar um bom banho morno e sentar na minha sala, tomando uma xícara de chá e escutando qualquer música triste. Queria curtir minha solidão e decepção. Ficar triste longe das pessoas. Toda vez que ficamos tristes perto de alguém, sempre ouvimos "ei, não fique assim", "sorria" ou " vai ficar tudo bem". Eu sabia que tudo se acertava no final, mas mesmo assim, queria apreciar o momento, definir meus sentimentos. Se eu me  sentia triste, tinha o direito de ficar triste. 

Coloquei meus tênis perto da porta e fui até o fogão, colocando a chaleira no fogo. Enquanto a água esquentava, preparei-me para tomar um banho. Naquele dia, até o som dos carros na rua me incomodava. Respirei fundo, deixando a água morna escorrer pelo meu corpo e acompanhei seu curso até o ralo. Eu sentia o vapor subindo, as gotículas de águas presas no meus cílios, meus pés molhados. O contato com a água me relaxava. Sai do banheiro e me troquei. Um casaco moletom velho  que pegava até na metade das minhas coxas e meias de lã me pareciam uma boa escolha. Dispensei qualquer vestimenta para minhas pernas. Soltei os cabelos e os penteei. 

 Olhei o horário e vi que o Trevor estava atrasado. Ao certo, nem sabia se ele iria vir. Não me mandara mensagem, avisando. Joguei meu celular na cama e fui para cozinha. Liguei o aparelho de som e o deixei tocar meu velho cd de rock clássico nas vozes de cantores atuais. Percebi que a água fervia e apressei-me a arrumar o sachê de chá dentro da xícara. Após colocar a água , sentei-me  à mesa e esperei o chá, cantarolando a música que tocava. 

- Até que você canta bem. - comentou uma voz masculina.

Não me dei o trabalho de ver quem era. Toda a nação sabia quem era. 
- Obrigada, Trevor. - agradeci.
- O que está fazendo? - perguntou ele, aproximando-se.
- Esperando meu chá ficar pronto para poder fazer meu trabalho de geometria. - respondi. - Achei que não ia vir hoje. Ia apreciar um dia de paz.

Trevor forçou uma risada.
- Engraçadinha. Sei que fala isso da boca para fora; que sente a minha falta quando vou embora. - anunciou ele, aproximando seu rosto do meu.
- E tem gente que também afirma com absoluta certeza que viu o Papai Noel. É cada louco com suas loucuras. - comentei, sorrindo ironicamente.

Ele revirou os olhos e sentou-se ao meu lado, colocando uma pasta na sua frente. Trevor usava uma camisa cinza com capuz por baixo de um casaco preto, deixando seu visual mais neutro. Um colar de dente de algum animal se sobressaia sobre suas roupas, sendo o único ponto claro em todo o visual. Para finalizar, ele vestia uma calça jeans preta simples. Eu achava surpreendente como não importava a cor de suas roupas, seus olhos claros sempre ganhavam grande destaque.

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