Capítulo 8

21 5 2
                                    

Eu tinha que confessar: não me aguentava de tanta ansiedade. Estava pronta fazia duas horas e se dependesse de minha ansiedade, eu estaria desde ontem. Estava sentada no sofá, batendo meu celular de leve na palma da mão, na tentativa falha de me controla. Parecia uma boa garota. Eu merecia aquilo, um tempo com a minha mãe. Não tínhamos esse tipo de evento a muito tempo. Mamãe disse que estaria ali às 13:00 para almoçarmos juntas e assim poder sair.  Naquele dia, mesmo sendo sua folga, precisaram dela no hospital.  Porém ela disse que voltaria o mais rápido possível. Já era 13:45.

Levantei do sofá, agoniada com o silêncio daquele apartamento. Um copo d'água faria eu me senti melhor. Assim que me servi, meu celular começou a tocar. Peguei o aparelho. Mamãe ligando... Sorri, com a ligação. Ela deveria estar ligando para avisar que estava chegando. 

- Alô.- atendi, sentando em um dos bancos que tínhamos no balcão.
- Oi, minha filha...- disse ela calma.
- Você já está vindo? Eu estava pensando que poderíamos comer na lanchonete perto da praça. - comentei, animada.
- Sobre isso...Elisa, não vou  poder ir...- comentou ela.
- Como assim? - perguntei, sentido-me mal.
- Apareceu uma emergência. Precisam de mim aqui. Eu estava pensando que po...- continuou ela.
- Tudo bem. Eu entendo. - confessei, interrompendo-a. 

Olhei para frente e vi Trevor parado na minha frente. Sua expressão era de preocupação com tristeza, denunciando que meu estado estava péssimo.  Senti o gosto das lágrimas na minha boca e forcei-me o máximo para segurá-las.

- Elisa, não faz isso!- pediu minha mãe.
- O hospital precisa de você. - falei com amargura, deixando a primeira lágrima cair. - Então, fique aí. Eu estou legal. Não estou passando mal. Qualquer coisa, eu sei onde está. 
- Elis...- disse ela, antes de eu encerrar a ligação.

Abaixei a cabeça, dando liberdade as lágrimas.
- Vá embora!- falei para o Trevor, sabendo que ele ainda estava ali parado.
- Você está mal. - murmurou ele.

Levantei a cabeça.
- Ah, você percebeu? Que gênio. - comentei, limpando as lágrimas bruscamente das minhas bochechas.
- E está usando o sarcasmo para se defender. - concluiu ele, sem expressão.
- Nossa! Temos um vidente aqui. O que mais tens a dizer? - perguntei, cruzando os braços. 

Ele ficou mudo. Revirei os olhos e fui na sua direção, segurando firme em seu braço. Ele deixou eu o arrastar até a porta, como se fosse um boneco. Abri a porta e o empurrei para fora.
- Sai da minha casa! Vá embora e me deixa em paz. - gritei para ele e fechei a porta com força.

Será que ninguém entendia o que eu queria? Por que as coisas sempre davam errado para mim? Eu não era uma má pessoa. Dava troco para os mendigos, dividia meu lanche com cães de rua e ajudava quem aparecesse na minha frente. Todavia, as coisas que mais queria​ acabavam dando errado. 

Sentei de costas para a porta e fiquei ali, sem vontade de fazer nada. Apenas encostei minha cabeça na porta e chorei, sem soluçar ou fazer algum ruído. Fechei os olhos, amaldiçoando o emprego da minha mãe e aquele maldito hospital.  Era por culpa dele que mal a via, mal conversamos ou convivíamos. Era por isso que as mentiras que contava e a presença de Trevor naqueles dias não pesavam tanto na minha consciência. Era uma das razões de eu ainda deixá-lo entrar. Ele ocupava a falta que minha mãe fazia e me dava a atenção que eu não recebi dela. Eu tinha sido péssima com ele. Teria que pedir desculpas mais tarde. 

Fechei os olhos, tentando normalizar minha respiração. Eu tinha que diminuir a raiva que sentia. Isso me faria bem.

Essa não é você, Elisa. Você não é assim, pensei, conversando comigo. 

Senti uma mão pegar na minha e me levantar do chão. Abri os olhos, deparando com Trevor na minha frente.  Eu não sei o que deu em mim, mas quando percebi, abraçava-o. Choquei meu rosto contra seu peito e senti as lágrimas caírem com mais frequência.
- Desculpe pelo que fiz. - sussurrei.

Written In The StarsOnde histórias criam vida. Descubra agora