NOVO AMANHÃ *

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ANGÉLICA

Regeneração será que pessoas como eu poderiam ter isso? Eu não sabia a resposta, mais nos últimos nove meses eu pude pela primeira vez me sentir leve e satisfeita. Dinheiro, riqueza e grandiosidade eram tudo que eu sempre tive e nunca deixei de procurar pelo mais, eu menti, enganei e fui a pior pessoa quando contaminei os outros com minha ambição, mas agora depois de um tempo, eu cai em si e vi que realmente poderia ter um recomeço, ou até mesmo... um final feliz. Dinheiro? Bom, eu não tinha mais nenhum, quer dizer, ao não ser o que pela primeira vez eu estava ganhando honestamente assim como Marcelo um dia me disse, "Use seu Diploma, você tem um" e foi o que eu fiz, para quem nunca tinha pegado uma fila, eu tive que passar por muitas no meu novo período de vida e no final, eu realmente senti na pele, a satisfação que as pessoas falavam que sentia ao conquistar algo tão difícil, consegui isso e chorei durante horas em uma estação de metrô pela felicidade.

Agora, eu vivia com minha mãe em uma casa não tão luxuosa que paguei com as joias que tive, não me restava mais nada, além disso, mas eu me sentia completa, e pela primeira vez não tão suja. Marcelo, bom... ele não me quis mais e eu entendia, no começo sofri e quase acabei com minha vida com tanta amargura que senti, mais parando para pensar, eu vi que estava indo por um caminho para o qual eu lutei tanto em sair. Depois de uma semana, voltei ainda um pouco machucada, mais o que eu esperava depois de tudo que eu causei para ele e Luiza, ela agora vivia feliz com sua família e quando depois de um longo tempo eu voltei a rezar como fazia quando era criança, eu pedi muitas bênçãos para cada um daqueles que ajudei a prejudicar e uma delas foi ela. Eu não era à melhor pessoa do mundo, mais era claro que eu queria recomeçar, ter uma segunda chance de ser digna de coisas boas, sem precisar machucar ninguém para isso.

-Você quer comprar uma flor? -Estava frio quando parei em meio a uma calça e percebi uma menina de rua me oferecer uma rosa de papel. Ela estava praticamente congelando sem nenhum casaco próximo a ela. Puxei o grosso casaco que me envolvia e sem entender cobri seu corpo a deixando quente, estava me dando uma sensação ruim ao vê-la tão desprotegida, nem mesmo eu conseguia explicar por que.

-Está muito frio aqui fora menina, porque não vai pra casa, um temporal está chegando. -Ela me olhava de cima a baixo e se apertava com força sobre o casaco.

-Não precisava me dar o casaco, esta tudo bem moça. -Ela tentava tirar, mais antes que fizesse isso eu a impedi.

-Não precisa. Você precisa dele mais do que eu. Agora saia do meio da calçada e volte pra casa, você pode vender suas flores depois, mais agora não.

-Não posso voltar, não tenho casa... - Ela se arrependeu e cobriu a boca quando percebeu o que disse. Nunca tinha havido pra mim alguém que eu me preocupasse além de mim, mais essa pequena menina estava começando a mexer de um jeito estranho comigo.

-Como não tem casa? Pode ir me contando tudo agora mesmo! -Meu senso autoritário não tinha mudado, mais diferente de antes, não assustava e nem diminuía mais as pessoas. Seus olhos passaram por mim quando segurei sua mão e juntas corremos para um prédio com uma boa sombra que nos protegeria da chuva gelada.

-Não vamos nos molhar aqui, e pra você, é melhor começar a abrir o jogo.

-Você é mandona, mais diferente de Nora, eu não sinto medo, você dá broncas de mãe.. Não é ruim. - Pude ver naquele momento um sorriso em meios aos olhos tristes e perdidos, um misto de dor e amor começou a ser martelando em minha cabeça, o que era aquilo?

-Qual o seu nome, quantos anos você tem e de onde veio?

-Eu me chamo Dulce, eu tenho dez anos e eu morava com uma senhora que cuidava de mim, ela ficou comigo depois que meu pai foi embora, eu não lembro muito. -Tão jovem e tão sozinha.

TRAÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora