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Flashback On

Olhei para baixo, me deparando com meus sapatinhos rosas com algumas pedrinhas brilhantes, eram diamantes e eram lindos. Meu vestido florido era branco e ia até um pouco acima do meu joelho, balancei-me devagar vendo ele rodar sob meu corpo. Levantei minha cabeça e papai estava tomando algo em um copo redondo. Fiz biquinho. Onde estava mamãe? Saí correndo pelo grande salão. Era tudo muito lindo, parecia que eu estava dentro de um conto de fadas, os grandes pilares, os reis de smokings e as rainhas com grandes vestidos, esvoaçantes.
Soltei um grito quando caí no chão, fiz biquinho; eu queria muito chorar. Mas uma mulher de cabelos pretos e olhos azuis, bem acolhedores, me abraçou e sussurrou um pedido de desculpas. Sussurrei o nome da minha mamãe; ela me daria um beijo na testa e me faria sarar, igual uma fada.

— Você é filha da Grace? Ah, que gracinha. - Acariciou meus cabelos - Venha, te levarei até ela. - Me estendeu a mão e a segurei. Seu toque era suave e reconfortante.

Andamos por um longo corredor até entrarmos em um quarto. Mamãe chorava olhando para um homem alto e tatuado. Mamãe chorando me fazia chorar também. Corri até seu encontro, me desprendendo de Pattie e abraçando suas pernas. Ela acariciou meus cabelos e continuou a falar sua conversa com o homem.

Achou que ia escapar de mim esta noite, Grace? Acho melhor você e Robert tomarem cuidado. - Disse isso e saiu, puxando a moça de cabelos escuros.

Flashback Of

Aquela noite havia ficado marcada em minha mente. Havia poucas lembranças da minha infância, a maioria eram memórias de jantares com pessoas importantes, contratos que acabariam em traição, sorrisos falsos, tudo aquilo girava em minha mente, tudo se passava como flashs, eram rápido e misteriosos, mas a imagem do homem de olhos obscuros estava nítida em minha cabeça, seus olhos ardiam em ódio, em vingança. Seus traços eram parecidos com o de Bieber, os olhos parecidos, o mesmo olhar de ódio. Me senti tonta. Sentei no meio-fio, colocando as duas mãos em minha cabeça. Tudo estava girando, minha visão estava turva. Eu não sabia na época, mas aquele homem viria a atormentar a vida de meus pais e jamais deixaria Daniel em paz. Aquele homem fez uma jura de morte à minha mãe, que viria se cumprir anos mais tarde. Mas eu era uma tola criança para entender isso. Eu senti sua presença ao meu lado, sua mão afagou minhas costas, o que era extremamente estranho, me retraí.

— O que você tem? - Sussurrou em meu ouvido, acariciando minhas costas.

— Nada que você se importe. - Funguei. Parecia que tudo o que eu guardei, até agora, desde a morte dos meus pais, veio à tona em poucos minutos.

— Olha, Katherine, nos odiamos, eu sei, mas eu gosto de seus jogos psicológicos, do seu jogo de poder e sedução, você me atrai e eu não sei se isso é bom ou ruim. Nunca tenho uma certeza sobre você.

Não dei atenção. Justin sabia jogar, isso seria apenas para eu confessar que eu tinha interesse.

— F-foi seu pai, não foi? - Disse, quase inaudível.

— O que ele fez?

— A-assasinou meus pais. - Solucei alto. As lágrimas vieram à tona e eu não tinha como pará-las.

— Ele foi só o mandante, quem fez, foi obrigado a fazer. Não tinha culpa de nada.

— Como você sabe? - Olhei para ele. Suas íris adquiriram um tom mais escuro, como o bronze. - Você fala com tanta convicção, como se tivesse a certeza. Todos nós, sempre, temos duas escolhas, dois caminhos, Justin, basta saber escolher.

Seus olhos, agora, não demonstravam mais seriedade, agora tinham um tom de fúria. Mas eu não havia falado nada de errado ou que o tirasse do sério, certo?

— Não deveríamos estar tendo essa conversa, somos inimigos destinados, Katherine. - Se levantou.

— Não seríamos se seu pai não tivesse matado as pessoas que eu mais amava! - Berrei. Tudo o que estava entalado na minha garganta, joguei para fora. - Você é um mauricinho de merda! Que se esconde atrás de tatuagens, roupas caras e vários seguranças! Você tem medo Justin, - Engoli o nó que se formava em minha garganta. - Medo de perder o território que o papai construiu, medo de suas próprias inseguranças.

E ele fez o tão inesperado, ele me beijou. Eu já havia provado seu beijo uma vez, mas aquele era diferente. Não tinha o gosto usual de ódio e traição, tinha o gosto da verdade, de um recomeço. Me soltei de seus braços e saí correndo. Simplesmente corri. Não sabia a direção, não sabia nem se estava no asfalto ou na calçada. Só corri. Nunca fui boa com sentimentos, eles eram demais para mim. Mas era loucura querer algo a mais por seu inimigo, não era?
Eu não sou assim, eu não posso ser assim. Daniel me ensinou que não se deve confiar em ninguém, não era um simples beijo que mudaria isso.

Peguei meu celular, que se encontrava entre meus seios e liguei para Anne. Daniel já tinha problemas demais, eu não seria mais um.

— Eu preciso que você venha me buscar. - Minha voz estava embargada. As lágrimas queriam voltar.

— Mas o que aconteceu? Eu já estou indo. Onde você está? - Falou, afobada.

Olhei ao redor, procurando o nome da rua.

— Eu tô perto do metrô da Rua 6, em frente a um lava-rápido. Só venha logo, por favor. - Desliguei.

Sentei na calçada e cruzei minhas pernas como índio. Passei a mão por minha tatuagem no antebraço esquerdo, era perto da dobra do braço e dizia "GRL PWR" significa empoderamento de todas as mulheres, que todas nós somos boas o suficiente - e até mais, para nos sustentarmos sozinhas e sermos independentes, mas, sobretudo, dizia, para mim mesma, que eu devia ser forte. Deveria ser forte em memória de meus pais, para meu próprio mérito, para ser feliz. Eu não precisava de homem algum para ser a chefe do crime de grande parte dos Estados Unidos. Eu precisa crescer, amadurecer, eu não tinha tempo para chorar. Sentimentos nesse mundo nunca dão certo, quantas vezes vi crimes passionais de meninas inocentes que se apaixonaram por bandidos, quantas mães eu vi chorarem em seus túmulos, só querendo que a justiça seja feita. Vingança é um prato que se come frio. Justin Bieber e seu pai o provariam junto da justiça feita por mim. Meu veneno era doce e sorrateiro. O que um sorriso inocente e sedutor poderia fazer com um homem?

Fate or Chance [J.B.]Onde histórias criam vida. Descubra agora